terça-feira, junho 27, 2006

Os Usos das Palavras





















Defende o meu amigo Rafael a utilização do termo português "patriotismo" para descrever aquilo que defendemos (tanto eu como ele). Fá-lo relembrando as condenações que a Igreja dedicou a algumas posições nacionalistas extremadas, a tal religião da Nação que, essa sim, não é ideia política, mas ideologia que suplanta a própria capacidade racional do Homem.

O problema é que, como já aqui afirmei, no contexto português o termo Pátria possui uma índole bastante mais superficial. A Pátria tem sido ao longo da História de Portugal um sucedâneo da Nação Portuguesa, uma visão mais limitada das obrigações políticas que esta comanda e uma corrupção das mesmas em sacrifício das ideias desenvolvimentistas. A Pátria é constante na boca de todo o tipo de esquerdistas para que se cometam os maiores disparates. Tanto era assim nos tempos de serviço ao invasor napoleónico, nos tempos da monarquia utilitarista e rousseauniana, como nos tempos da traição raciológica e positivista da Primeira República. A Pátria era o que chamava a Portugal quando se desejava que esta fosse o que um elemento coeso e desprovido de significado próprio. Assim poder-se-ia fazer como fez o Partido Republicano Português que identificava Portugal com o seu regime e com o seu programa.

Da mesma forma a Pátria cumpre na nossa esquerda o legado de Afonso Costa ao ser palavra na boca de quem fez por destruí-la. O Poeta Alegre está sempre com a bandeira de Portugal na mão como se a Pátria tivesse nascido em 1910, como se obrigações anteriores não o vinculassem da mesma forma a que ele se encontra vinculado (e nos quer vincular) aos mandos do 5 de Outubro. Toda a “direitinha” rejubila, aprecia, e até chega a votar, quando o Alegre ou o Cavaco dizem a palavra mágica, que eles leram no manual do Prof. Nogueira Pinto (às escondidas) ser “património da direita”.
O Portugal rectangular é uma Pátria, por ter sido inventado contra a essência imperativa de Portugal. A Pátria em Português é descafeinada.

Se as palavras interessam muito menos que o que estas escondem, é também verdade que os homens a ela se afeiçoam. O Nacionalismo em Portugal, resultado do desprezo por essas pátrias inventadas, é obra de gente como Jacinto Cândido (introdutor do ismo em Portugal, e defensor do tomismo tradicional), dos Integralistas (que deram ânimo intelectual a toda uma geração), a Salazar (que não perdia uma hipótese de exaltar a consciência nacional como realização suprema de Humanidade). Por esse património filológico me parece que poucos portugueses de direita estejam disponíveis para abandonar o termo Nação, mesmo nos tempos que correm em que o termo arrasta na lama, associado a elementos que nada têm a ver com política.

Línguas diferentes, significados marcados pela História…

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