quarta-feira, junho 21, 2006

Nação e Ideologia

O facto de uma Nação não ser um vínculo material suscita inquietação em muitas mentes. Esta é fruto de uma mentalidade replicativa. Quem nunca viveu ou simplesmente não conhece a construção teórica das antigas comunidades tende a identificá-las com a realidade que conhece. Por isso não é de estranhar que surja uma dicotomia elementar nas concepções nacionalistas; Ou a Nação seria uma realidade física, ou seria uma ideologia.
Mais uma vez esta é a replicação do único paradigma que alguns conhecem, vítimas de uma educação limitativa e de anos e anos de simplificações dicotómicas em ambiente de Guerra Fria.

As Nações não são ideologias. As ideologias são explicações do mundo, uma lente pela qual o mundo se observa de forma à obtenção de verdade. São uma proposta de compreensão do mundo, um sucedâneo científico da tradição religiosa, que comporta em si própria uma visão total do mundo e do Homem. As comunidades ideológicas são uma pertença à qual corresponde uma compreensão, sendo que para que esta se realize é necessária a adesão consciente a um conjunto de princípios. É uma comunidade de realização do domínio do conhecimento, que se assemelha a uma religião ou a uma academia.

Uma Nação não corresponde, por isso, a qualquer destas formas. A Nação não presume a adesão a uma qualquer ideia... Fosse esse o caso e o lavrador medieval não se poderia dizer português, estando longe da possibilidade de participar na compreensão dos elementos noéticos que constituem a sua sociedade. Da mesma forma poder-se-ia dizer que em Atenas não havia uma cidade, mas um conjunto de cidades, a dos governantes, a dos funcionários, a dos trabalhadores, a dos escravos...
Esta ideia, pedra-basilar do pensamento socialista, é agradável a muitos, mas é absolutamente falsa, uma vez que esquece os laços de amizade e dependência registados entre todos os membros da comunidade, resumidos por Aristóteles na procura da vida virtuosa que realiza a natureza de cada um.

A ideia de uma Nação monolítica, em que cada membro é participante activo da ideia nacional, é uma corruptela de um elemento que não é nacional, em sentido próprio, e que é a Igreja, que é mais que meio caminho para a divinização do elemento humano-terreno, que gera a apoteose do nacionalismo-totalitário!

A realização de uma Nação é algo que ultrapassa a consciência, porque é um elemento do real. Alguns acham que toda a realidade é ideologia, mas isso já não é defeito, passou a ser feitio.

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