terça-feira, fevereiro 21, 2006

Os Impérios de Amanhã


A grande vitória de Relações Públicas das variadas resistências do mundo islâmico foi ter conseguido convencer as “opiniões públicas” dos vários países de que o Islão é um bloco político ou uma força religiosa.
É sem dúvida notável, embora não surpreendente, uma vez que o sucesso da empresa é fruto da convergência de interesses com os EUA. Não há dúvida de que a guerra já não é contra os terroristas, mas contra todo o tipo de pensamento que se contrapõe à concepção jacobina de Direitos Humanos, à ideia de “paz social” (o grande fundamento da democracia contemporânea), o que é, sumariamente, a concepção materialista-moderna da sociedade.

As visões impressionistas do mundo são hoje cultivadas como virtudes. A criação de perigos externos é sempre uma vantagem para o que está.
Há dois meses, se houvesse alguém que imaginava que os “pensadores alternativos” estariam a manifestar-se a favor de uma sociedade de valores decadentes, socialista e materialista, como a dinamarquesa, dir-se-ia que estaria maluco!
Subitamente, os que deveriam pugnar para uma compreensão da Tradição Ocidental mais ampla e não se reduzindo aos ideais jacobinos de 1789, manifestam-se os grandes defensores do “status quo” e, mais ainda, da sua radicalização...

Já se vê o baile montado! Os “tontinhos” que acham que o Legado do Ocidente pode ser reduzido às liberdades jacobinas ficaram assim muito contentinhos... Os que se dizem revolucionários são muito benvindos à reacção! Enfileiram, como já se calculava, na formatação mental da única cultura que conhecem. E o animal no homem, a disposição gregária para o “nós contra eles”, vence.
O que é bom para os ratos...

O Islão nunca foi, desde a morte de Maomé um movimento, mas uma denominação para um conjunto de movimentos dispersos, onde o Profeta é o único ponto comum. Mais do que pontos-de-vista divergentes o “Islão” é um conjunto de crenças diferentes, onde não existe uma estrutura institucional, nem a aceitação de autoridades comuns. O enquadramento conceptual das próprias escrituras religiosas é bastante diverso em cada uma das seitas muçulmanas.
Basta um Corão e um conjunto de seguidores, numa concepção bem cara ao espírito do Protestantismo, para que se produza uma nova forma de islamismo.
E basta observar os ódios entre as várias concepções religiosas muçulmanas para se compreender onde o bloco islâmico e subsequente ameaça, é concebido.

A ameaça que se apresenta para os tais Ocidentais de 1789 é a mesma que o Marquês de Sade já havia diagnosticado na Vendeia! Alguns povos atrasados que se opõem à Nova Revelação, à Modernidade, ou que promovem um “obscurantismo de base religiosa”, devem ser forçados à Liberdade! Ou eliminados...

Não posso deixar de observar que os fervorosos protestantes da dita “religious right” americana são os mesmos que se opuseram à esperança dos conservadores americanos numa candidatura anti-progressista no seio do Partido Republicano. Relembro o apoio dos neo-católicos às concepções laicas de sociedade e a forma “morna” como a repressão à liberdade religiosa em França foi por eles recebida.

Só a religião “descafeínada”, submissa à ideia superior das “liberdades individuais” e do “estado de natureza”, será tolerada. Concepções religiosas mais simples, mas que salvaguardem a obediência política ao “poder instituído” são as únicas que serão toleradas (a liberdade de Locke não se aplicava aos católicos, obviamente).
O Islão, pela sua maleabilidade, é perfeito para a submissão, como se afere do seu ódio pela filosofia... Não há ninguém tão domesticado quanto os islâmicos “ocidentalizados” que vivem no meio do “infiel” sem uma concepção de justiça ou uma proposta de sociedade. O exemplo das “Repúblicas Islâmicas” é um fiasco absoluto, que vive em guerra interna constante e envolto em sectarismos pessoais, raramente discutindo ideias ou concepções de sociedade.

A grande divisória é hoje entre os que defendem a Justiça, os que são livres porque têm uma ideia superior ao político, e os que nada compreendem de maior ao político.

Os impérios do futuro são de homens-vazios, mas bem alimentadinhos, que vivem de telenovelas e "bola", de emoções baratas e constantes...
Já não são os famélicos de Metrópolis, mas são igualmente "zombies"!

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