quarta-feira, janeiro 25, 2006

Crónica do Crime (I)

É com profunda tristeza que verifico a existência de um ataque abjecto à Casa de Sarto.
Sabendo que as Verdades que deveriam ser evidentes para todos os Cristãos se encontram esvanecidas nos dias que passam, porque amalgamadas em sujeição a outros propósitos, urge que esclareçamos alguns pontos sobre o ataque abjecto que este bastião da blogoesfera portuguesa (e ibérica e internacional, porque a Verdade não prescreve em posto aduaneiro).

Há uns dias surgiram algumas acusações de que os tradicionalistas Jsarto e Rafael Castela Santos estariam a fazer o apelo à memória de Franco e que estariam a fazer apelo a um “ritualismo farisaico”.

Peço-vos que tomem nota na forma como de uma afirmação política se conduz o argumento... Primeiro o “choque e pavor” da referência aos malditos pela “damnatio memoriae” do tempo presente. Uma figura retórica que conduziria a uma reprovação certa e que funcionaria como prelúdio e fio-condutor para matérias mais elevadas.Claro que quando perguntámos qual a alternativa a Franco, com todos os erros e excessos de uma guerra, ficámos sem resposta (calculo que seja matéria de dogma naquelas partes do pensamento)...

Por outro lado expressa o comentador Alef que a Tradição é algo que “lê os sinais dos tempos”, o que é uma posição inaceitável. Como disse na altura

“Uma coisa não tenho dúvidas, porém.A Tradição não é algo de imutável! A Tradição formou-se através da compreensão dos princípios de Deus.Contudo esta só pode ser "aprofundada" segundo a sua própria lógica, segundo os princípios que a enformam (a não ser que exista um novo Deus, ou nova Revelação). Qualquer ideia de que se pode aprofundar uma tradição recorrendo a uma lógica exógena (como um zeitgeist a que o Alef apela), ainda para mais quando se está vinculado por decisões anteriores é impossível...Quando se faz isso sem refutar ou invalidar as disposições anteriores, apenas por se "estar aberto ao mundo"...A nova gnose intramundana está em movimento!”

A posição é de facto inaceitável, uma vez que cai na aceitação plena do Historicismo, sobretudo quando se considera que a Tradição

“Se não é imutável, muda ou é susceptível de mudança, qualquer que ela seja.”

Ou seja que a grande Tradição da Igreja é nela caber tudo, o que para além de notável desdiz claramente a Doutrina Católica.
Por isso urge dizer que

"Diz o Catecismo que as Escrituras só podem ser interpretadas à luz da Tradição e que estas são realidades indissociáveis na compreensão da Verdade!Ora, a única coisa imutável no mundo é a Verdade de Cristo. Logo a Tradição não é imutável, mas ferramenta para o Imutável. A Tradição é, assim, a descoberta das ferramentas para a compreensão da Verdade, mas que é caminho deixado por Deus nas regras da Razão.Disto não se pode, de forma alguma inferir que "Se não é imutável, muda ou é susceptível de mudança, qualquer que ela seja."como imputa o Alef no ponto b). A mutabilidade da Tradição só existe no sentido de aperfeiçoamento. Não permite que dela se retirem os pressupostos básicos. Pensava eu, ignorante, que esse acervo, verdadeiro óculo de percepção do Sagrado, que é a Tradição, era acarinhado por todos os Católicos, sendo isso o que nos separa das seitas "livre-examinadoras".Pensava eu que era essa perspectiva que nos permitia compreender o verdadeiro caminho e critério para aferir o certo e o errado (podendo compreender assim, para além do positivismo da titularidade do trono de São Pedro, princípios superiores às ordens por vezes injustas da imperfeição humana).Por certo devaneios de juventude...Mas o facto de não haver um fixismo não implica que tudo caiba numa tradição! Um erro precepitado, mas revelador, por parte do Alef...

Ao considerar que na Tradição cabe qualquer coisa, mesmo o contraditório, o Alef está a desprezar a Tradição e o Catecismo.No intuito de afirmar que os tradicionalistas são tradicionólatras desprezou uma parte, substantiva, do catolicismo!Peculiar...Sabemos que também que a Revelação, apesar de ser histórica, está concluída (a não ser que se considere um discípulo de Jesus ao estilo maometano)!Logo a nossa história só pode ser observada à luz da doutrina. Só a partir dela podemos compreender o Real. A Revelação é isso mesmo!A compreensão de que uma perspectiva da Verdade partindo da incompletude das coisas finitas e materiais, sem ser completa pela Palavra de Deus, é a posição incompleta do paganismo-filosófico de Platão e Aristóteles. Posição influenciada pela imperfeição das coisas...A observação dos princípios modernos (clara antítese da perspectiva católica) como relevantes para a tradição católica, implica a introdução de um factor que não se inscreve nesse "diálogo" interno. Sendo por isso, além de factores exógenos, uma contra-senso.São estas as inquietações suscitadas pela posição do Alef neste jovem, que, apesar das limitações da sua ignorância, ainda consegue perscrutar abismos no pensamento..."


É por demais evidente que olhar o nosso tempo como fonte de autoridade "em si" é proceder à concepção imanentista do Homem acima do Bem e do Mal, que para além de não fundamentada conduz ao totalitarismo e à incapacidade de olhar a Escritura sem ser pelo Livre-exame e subsequente deturpação da sua Palavra a um fruto da minha Vontade... Devem ser essas as leituras de Sartre a que o Alef alude!
Dessa concepção se mostra uma impossibilidade lógica a existência de uma Igreja, uma vez que não há essências (o fundamento que se mantém na mudança), apenas construções humanas.

Um nihilismo a prazo, digo-vos eu.

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