terça-feira, janeiro 17, 2006

Manual de Fuga da Pós-Modernidade (IV)

Contra a dissolução da sociedade há que escolher caminhos. O caminho será sempre um caminho de ordem. Será essa a única vantagem daquilo a que se costumou chamar “direitas”, que nada mais é que um aglomerado de propostas de reordenação da sociedade, muitas delas fundadas na própria concepção desagregadora. É por essa razão que a utilidade das direitas é limitada, ou meramente potencial. Servem como patamar, na medida em que permitam a manutenção das estruturas que conduzam à “ordem real”. Essa posição de convergência conduz a uma concepção limiar que nada comanda, mas que pode ter objectivos limiares, como a manutenção da unidade política, a defesa de liberdades das comunidades, a capacidade de levar às gerações futuras um legado antigo.

Sabemos que as “direitas”, essas que têm geometrias variáveis, estão derrotadas a prazo, essencialmente pela ausência de um carácter subtantivo, por serem ideias que não estão gravadas na essência dos homens e por serem respostas provisórias. Direitas que se encontram viciadas pela aceitação de princípios que são a necessidade da sua existência.
Essa é a história derrotada das várias direitas de Prezzolini...
Derrotadas em virtude de tornarem definitivo o que é provisório, por serem meros caminhos que se tornaram terminais.

Esses erros são demonstráveis historicamente pela fragilidade moral de nações que foram Impérios, que conduziram os destinos do mundo e que se desmoronaram como entidades éticas, com o surgimento da “pop culture”, da sociedade de consumo, dos materialismos comunistas e liberais.
O caso português é particularmente ilustrativo de um regime claramente compromissório que nunca conseguiu apresentar uma doutrina radicalmente coerente. Apresentaram-se muitas posições jurídicas para a missão histórica portuguesa, mas nunca se doutrinou uma filosofia que realmente demonstrasse a portugalidade ultramarina como essencial à existência de Portugal. Este facto deve-se, em grande medida, aos resíduos de republicanismo e positivismo que eram foco de apoio do Estado Novo e que recusavam uma perspectiva imperial mais abrangente, tanto por via de uma concepção separatista da vida nacional, como por uma concepção de Pátria que tomava a Expansão como meramente utilitária e desprovida de obrigações.
Daí à ideia do Portugal rectangular, de uma cultura contratual, do conforto e de opulência, vai um pequeno passo.

A reconstrução da “imaginação moral”, de uma capacidade de aferir o certo e o errado, de desenvolver um pensamento que escapa ao “aqui e agora” é a única forma de escapar, de forma duradoura, aos ataques do homem-vazio ou do homem que termina nos seus apetites.
Nenhuma “direita” nos mostra como o atingir (pelo seu carácter compromissório), mas pode fornecer os meios materiais para a difusão e compreensão do mais profundo, da perenidade.

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