quarta-feira, janeiro 11, 2006

Manual de Fuga da Pós-Modernidade (II)

O que acontece nos nossos dias é, por disseminada a ideia de que nada é objectivo, nada é bom ou mau, uma radical incapacidade de pensamento com acção. Observamos isso numa sociedade reactiva. Uma sociedade emotivista. Uma sociedade sem fins, mas plena de sensibilidades, que tão facilmente vira a cara ao mendigo na rua, como é capaz de dar 10% do seu rendimento para ajudar a miséria do outro lado do mundo.
Observamos as alternativas a esta sociedade e o que vemos?
O socialismo que observamos nos nossos dias é a ideia de justiça mais básica, mais estúpida que existe neste mundo. Basta dizer que acha que dividir mais justamente é dividir 10 por 10 e dar 1 a cada um, ignorando contributos individuais. Mas, pior que isso, é a forma como não se consegue libertar de uma lógica quantitativa da existência. E não consegue perceber que é melhor receber 1% de 1000000 que 50% de 1. A justiça não está aí.
Para além do socialismo temos a cultura Hip Hop, talvez mais abjecta que a primeira, porque radicalmente ilógica e deformada. Engloba essencialmente duas posições fundamentais: a vitimização racial e social — “eu tenho direito à minha parte no todo da distribuição social e não me deixam, por motivos injustos”— e a parte de basófia— “eu sou podre de rico e não devo nada a esta sociedade”.
Esta ideia só pode ter lógica na pós-modernidade “a terra onde não há lógica”.
Repare-se que não há nenhuma alternativa social evidente nesta proposta, que é mero reflexo de uma sociedade onde a inveja move o que não tem e a ganância move o que tem. A luta de classes numa forma compromissória... Uma concepção da sociedade que é tudo menos alternativa, radical ou revolucionária. Que é pouco imaginativa, não tendo qualquer proposta filosófica ou estética. O que é, em suma, a concepção socializante pós-moderna por excelência!
Este tipo de concepção relembra em muito a actividade cultural dos escravos libertos no tempo da Abolição. A formação de Quilombos acabava quase sempre em destruição ou na mimese do sistema senhorial de onde provinham. Assim não era infrequente que alguns mais destemidos escravizassem os restantes. Por outro lado as experiências de propriedade comunitária, tão idealizada nas “novelas de época”, foram uma experiência socialista que reduziu, na generalidade dos casos, a agricultura a níveis de subsistência e o que a médio prazo conduziu ao desaparecimento desta forma social.
A turminha do Hip Hop não é diferente na sua cultura decadentista e aprisionada pela ignorância de quem nada sabe para além do que vê, disposta a reproduzir o modelo da sociedade viciosa que diz detestar.

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