Neo-Integralismo ou Não-Integralismo?
O Camisanegra publicou um extraordinário texto do Prof. António José de Brito sobre o posicionamento político de António Sardinha. Muito interessante e oportuno porque vem no seguimento de alguns comentários dispersos, em vários blogues, sobre o desvirtuar da obra de Sardinha que o leitor Nonas imputa a J. M. Quintas. Sinceramente nunca li a tese de J. M. Quintas, agora passado a livro, por isso não me irei pronunciar sobre o assunto que me vem chamado a atenção.
Existe porém um ponto que me parece muito relevante na questão.
Verifico uma interessante predilecção de alguns “continuadores” do Integralismo pela fase decadente do movimento.
Nunca compreendi muito bem a adesão de largos sectores Integralistas aos movimentos democratistas emergentes no seio do Estado Novo.
A um determinado ponto nos anos 50 os sectores integralistas começaram a falar de um retorno às liberdades colectivas. Estranhamente as liberdades colectivas que mencionavam eram direitos de posse sobre a comunidade política… A liberdade dos indivíduos de escolher os destinos do país, isentos de subordinação a qualquer norma! Uma liberdade que é uma defesa de direitos individuais e não de foros, de direitos municipais (destruídos pela centralização republicana)…
A identificação com a filosofia jacobina dos Direitos Humanos de 1789 é evidente.
Será possível um Integralismo que não seja anti-moderno?
Ao colocarem-se ao lado dos movimentos democráticos, repletos de socialistas, comunistas e liberais, haveria alguma esperança de criar uma cultura de direitos que não fossem individualistas, materialistas, cosmopolitas?
Seria possível não se aperceberem de que qualquer movimento democrático teria como essência a destruição do modo-de-vida, da concepção cristã da nacionalidade e sociedade?
Ao colocarem os Direitos Humanos individualistas, ao colocarem uma concepção de liberdade como esfera individual, em detrimento de parte de uma Ordem, não estariam a subverter em absoluto os princípios integralistas e a sua essência?
Será que o Integralismo sofreu as influências de uma Igreja em “stasis”, que abandonava a concepção de vida cristã, em prol de um materialismo socialista?
É precisamente a essência que deve ser compreendida. Uma essência que se afasta das interpretações formais… O Integralismo não pode ser um conjunto de princípios (organicismo, Cristianismo, nacionalismo, tradição) desligados entre si, mas a defesa de uma Ideia central, uma intenção de preservar ou restaurar uma concepção de Bem.
Um Integralismo sem Bem Comum, sem uma Justiça compreendida através da tradição, que presida a toda a sociedade, que lhe sirva de Unidade, é um Integralismo que não existe…
Ainda se sente a falta de António Sardinha.
Etiquetas: Pensamento Tradicional
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