quinta-feira, março 03, 2005

Mais do Que Aborto

O Prof. Adelino Maltez publicou um interessante artigo sobre o aborto. É um artigo bem demonstrativo da teoria consensualista democrática que assola o nosso país!
Considera o referido Prof. que o Estado que não é uma teocracia não tem qualquer dever de proteger uma qualquer concepção cristã de Vida Humana.
Esta concepção implica um conjunto de concepções erradas que tentaremos, muito sucintamente, abordar.

1. Um Estado que não tem na sua concepção legislativa uma orientação, um corpo moral coeso, mas em que a legislação é um acaso, um resultado de votos (que podem ser contraditórios entre si), é um Estado Injusto.
É injusto porque, em primeiro lugar, não busca ser um acervo coeso que eleve os seus membros. É um Estado em que a lei é, mesmo quando coesa, o mera vantagem da maioria, um abjecto consenso que pode englobar tudo, desde a proibição da pena de morte à tortura obrigatória de crianças às terças-feiras…
Em segundo lugar, pela própria natureza do que já observámos, não fomenta na Pessoa a Justiça… Ficando-se pela resposta do sofista “obedece-me, porque eu domino a besta!”. O Homem obedece, não pela justiça da norma, mas no cano da espingarda!
Como no início da República… Obedeçam, que nós somos mais ou mais fortes!
Um Poder digno de ratos ou ovelhas!

2. Poderá arguir o autor do texto que o Estado não pode passar a obrigar a Tortura de Crianças à Terça-Feira, porque está obrigado a não o fazer por uma questão de Direitos Humanos! Erroneamente o poderá fazer…
Com que direito exclui o Estado os Direitos Humanos Cristãos para depois aceitar a Religião Racionalista da Guilhotina?
Com que direito poderá criticar o dogma da Revelação, para impor o Dogma Privatista de Condorcet? Se o povo tudo pode, porque não revogar esses Direitos Humanos? Ou porque não pisar a máxima kantiana (proto-marxista) da Humanidade como Fim e proclamar que, se a Humanidade é sofrida, todo o Homem deve sofrer?

3. Em breve se poderá proclamar o fim dos Dogmas. O Homem não terá de fazer sentido (ou sequer de ter capacidade de fazer sentido, como viram Chesterton e MacIntyre)… Pode viver na náusea sartreana!
Chegará a altura de dar os parabéns aos que não encontram nos princípios nada mais que Vontade (sua ou de outrem)!
Nessa sociedade pós-cristã não haverá incesto, nem pecado, nem erro. Mas isto já acontece… A novidade será a ausência de referencial! O Estado deixa a moral à iniciativa privada! À medida que a ortodoxia e o dogma vão desaparecendo e sendo substituídas pela vontade de seus membros, desaparece a distância entre o “ser” e o “dever”… Tudo é “ser” porque tudo é “querer”! Não existe a mínima necessidade de religião, porque ela, tal como a política, é apenas o fruto dos nossos desejos!
Privatiza-se o público e o espiritual e eles desaparecem… Fica o privado, desnorteado pela ausência de concepções externas!

4. Não quer isto dizer, de forma alguma, que o Estado seja o detentor da Verdade. É uma tentativa errada e mal-intencionada dizer que um Estado que actua segundo um conjunto de princípios religiosos seja uma Teocracia!
É errado porque é o mesmo que afirmar que Portugal foi até ao século XVIII uma teocracia, o que é, obviamente falso!
A doutrina política eclesiástica sempre rejeitou, e bem, o Poder temporal do plano espiritual. A teoria medieval das “Duas Espadas” não é mais que a apoteose da separação (leia-se interdependência) do Político e do Espiritual. O Homem só pode cumprir a sua Natureza se se compreender no Mundo! Para esse efeito é fundamental que disponha de uma ordem que o permita viver em Bem e não em mera Paz (os escravos são, esses sim, os que vivem da Paz). A Paz Cristã nunca foi, por isso, uma mera ausência de conflito, mas um Estado de Justiça!
O Poder da Teocracia é a erradicação do Pecado.
A Teocracia Estalinista eliminava os Inimigos do Povo, por desrespeito a Deus (Progresso Histórico Proletário). Os Talibans puniam o pecado com a morte.
Os Cristãos apenas querem uma lei PRUDENTE, que permita à colectividade viver segundo a sua Tradição. Não tem nenhuma tendência imanentista de eliminar o Pecado ou de alterar a Natureza Humana. Sabe que onde o Homem existe, existirá pecado. Pune, portanto, o pecado que prejudica a sociedade e não o pecado em si…
Já a Igreja, no seu domínio espiritual tem a capacidade de sancionar o pecador (interdições, excumunhão). Mas esta não tem capacidade política!

Parecem restar poucas dúvidas de que a política sem fundamento é tirania, ainda que a tirania de veludo e a gaiola com ar-condicionado!

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