segunda-feira, janeiro 10, 2005

Uma Data Triste

Sardinha talvez não tenha sido o maior pensador, escritor, filósofo português. Foi sem dúvida o mais português dos pensadores. Nele se concentraram os fundamentos da Nação Portuguesa, num pensamento coerente, estruturado num sistema filosófico original.

O sistema Integralista de Sardinha rapidamente se demarcou de um pendor demasiado positivista da AF maurrasiana. Não buscou reconstruir pela vontade o que os antepassados haviam formado instintivamente, mas proceder a uma redescoberta da Verdade Portuguesa, regressar ao Universo Português. Regresso esse que só poderia consistir numa reconstituição do pensamento que moldou o Ser Português, que moldou toda a Europa até ao flagelo da Revolução Francesa e ao fatídico ano de 1848[1].

Sardinha dotou o pensamento contra-revolucionário português de uma originalidade própria. Não poderia ser doutra maneira, uma vez que defendeu sempre a afirmação da particularidade da Nação Portuguesa, de uma “narrativa” histórica cultural própria, no âmbito da Cultura Ocidental, num processo de redescoberta do Homem, do papel próprio da Humanidade. A Nação Portuguesa é, assim, universal e particular. Tem uma vocação universalista, buscando os fins do Homem, mas compreende que esse processo de recuperação do Homem só pode ser realizado através da narrativa própria de cada cultura, da concepção de uma cultura, de um acervo de similitudes e obrigações, que se concentram na Nação.

Foi desta forma que Sardinha dotou a Contra-Revolução portuguesa de uma estrutura que significaria o regresso ao pensamento Tomista, à reflexão filosófica tradicional portuguesa, oposta, metodologicamente, ao pragmatismo “utilitário” de Gama Castro, reflectia, em grande medida, um mesmo impulso de preservação tradicionalista, de manutenção das estruturas medievais e orgânicas da Nação.
A teleologia profundamente cristã e jusnaturalista de Sardinha impôs-se assim, corrigindo e aperfeiçoando as “intuições” de Gama Castro, que nunca se chegou a aventurar por completo na reflexão metafísica, não explorando assim as mais profundas implicações do seu pensamento.
Sardinha deu sentido completo à semente lançada…

O Bem-Comum é supremo na ordem política. Nele se condensa na acção a vocação humana, a faceta histórica, as necessidades do colectivo. Ele é a norma que, ao mover-se nestas três facetas se constitui como factor comparativo, horizonte da política, horizonte do homem no domínio do contingente.

Seria disparatado tentar abordar a generalidade do pensamento de Sardinha num “post” de um blogue. Um pensamento com tal riqueza merece um tratamento de fundo, obras de vida e não meras referências epidérmicas (como algumas que já dedicamos ao autor).
Seria loucura não aproveitarmos esta data para pensar onde estaria Portugal se se tivesse conseguido o “reaportuguesamento” da Nação, como Sardinha pretendia.
Como tributo poderá haver nada menos que a defesa das verdades defendidas por Sardinha.
Portugalidade, Humanidade, Ideal.

[1] Altura em que a Modernidade destrói a racionalidade pré-moderna. Um conjunto de ideias das Monarquias Iluminadas já havia procedido ao primeiro ataque ao sistema tradicional português, epitomizado na acção destruidora do Marquês de Pombal.

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