quarta-feira, dezembro 22, 2004

Repetindo...

Ao contrário do que o Caturo pensa, uma pessoa não tem que expor as suas visões religiosas para o refutar. Existe um processo, chamado filosofia (que parece desconhecer) e que faz isso sem recorrer a Deuses… Fá-lo pela verdade.
Ora é aí mesmo que reside a essência do problema.
A pergunta de Pilatos, “o que é a verdade?” é a pergunta mais simples de todas.
É a base da Humanidade.
É a base da Humanidade, porque é dela que provém a própria capacidade do Homem de pensamento abstracto, de pensamento para além do aqui e agora.
Não houvesse verdade e não haveria civilização ou cultura, uma vez que, ao não existirem significações partilhadas, não existiriam quaisquer tipos de diálogos possíveis. Dizer “eu vi um cão” seria o mesmo que dizer “eu comi um gelado”… Ora isto não é uma questão de perspectiva… como é evidente!
A filosofia compreendeu também que existe uma estreita ligação entre a Verdade, o Bem e o Uno. Foi assim que Platão na “Alegoria da Luz” bem como na “Alegoria da Caverna” revelou a ideia de que o Uno é supremo. Isto observa-se através do processo dialético, de estreitamento das opções. Da “doxa”, da opinião desconexa, e através do “Zetema”, claramente descrito na “Alegoria da Linha” se passa do formal ao essencial.
Observou também que a verdade, nessa linha da inteligência que separa o visível do cognoscível, reside o estreitamento desse conjunto de ideias não alinhadas e desconexas. Ou seja, o percurso que conduz ao Bem, o Uno, fonte de toda a Sophia, é a Verdade, por isso mesmo. O processo lógico e dialético permite a ordenação do Mundo, segundo graus.
Logo, só há um Deus, o Deus de que Sócrates falava, a Unidade Superior de todas as ideias numa força que movimenta o Mundo. Isto é a base fundamental do pensamento platónico, que irá ser aproveitado por toda a filosofia, de Agostinho aos Neo-Platónicos.
Tendo já referido este assunto tantas vezes é de estranhar que os Pilatos ainda continuem a fazer a pergunta… Mas é essa a miséria do Mundo.

As decorrências são óbvias. Uma vez que a vida melhor para o Homem é aquela que não está dependente do transitório e efémero, é óbvio que a felicidade do Homem é alcançada nessa esfera divina… Assim o Homem não pode renunciar à Justiça, que é a virtude, proveniente desse conhecimento, que o permite viver Bem com os outros. Vivendo segundo essa Justa Norma, que é derivada desse mesmo conhecimento do que é perene, realiza-se o Homem na esfera política e individual, pois que participam todos os cidadãos nesse Bem-Comum, embora com funções diferentes.

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