segunda-feira, julho 19, 2004

A Morte de Socrates
 
A questão essencial da morte de Socrates e a compreensão do que a sua aceitação visa.
Na “Republica” e na “Apologia” compreendemos que a existência humana só interessa se for vivida na persecução do Bem. Não há certamente nenhuma identificação dos fins da cidade com a sua defesa. A defesa e certamente necessária, como a alimentação ou o comercio, mas não será certamente um fim (em si) da cidade.
Ate porque corresponde como se observa na correspondência seguinte (referente a Republica) a um meio (1 e 2) e não aos fins contemplativos da cidade.
 
Virtude— Classe Social—Função—Cidade (fase da)
 
1.Temperança—Produtiva—Material—Cidade dos Porcos
2.Coragem—Guardas—Protectiva—Cidade Muralhada
3.Sabedoria—Filósofos—Contemplativa—Cidade dos Filósofos
 
A constante referencia de que a contemplação e a justiça (educação da alma) são os sumos propósitos do Homem, conduzem a compreensão de que há uma justiça superior a que e meramente positiva, que há uma Lei superior a lei, que há uma norma superior a que emerge da contratualidade. A superioridade da Physis ao Nomos! A superioridade de Socrates sobre Trasimaco.
 
Porque facto e que, se considerasse a superioridade desse poder mundano, Socrates haveria de discordar da sociedade. Porque e que haveria de continuar os seus ensinamentos se já havia sido advertido de que estes eram “perigosos”? Deveria então submeter-se a opinião da comunidade, de modo a não a perigar, a não suscitar a “stasis”, a sedição.
Porque motivo não se submeteu a essa justiça da Polis?
Porque a sua morte representa o sumo sacrifício, do Homem ao Bem!
O “Criton” explica que a morte de Socrates era claramente evitável… A retractação ou a fuga seriam os caminhos para a sobrevivência do homem. Mas que vida seria essa subordinada pela vulgaridade da “doxa”. Socrates aceita a positividade das leis do Homem. Sabendo que esta vida só faz sentido movendo o Homem para o Bem, morre para que os seus compreendam que existe algo superior a comunidade, algo que a comunidade esta obrigada, para seu próprio bem, a seguir, e que e superior ao conjunto de opiniões dos seus membros (a tirania da Grande Besta).
 
Agora que tanto se fala em Democracia como fundamento das sociedades ocidentais, convém que não se esqueça o pensamento de Platao e a sua visão das idolatrias comunitárias, dos positivismos, do igualitarismo simplista. Ou será que Platão não faz parte do pensamento ocidental?

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