quarta-feira, março 12, 2008

Ainda o Esvaziamento da Comunidade e a Destruição da Constituição Monárquica












Existem várias justificações para a Monarquia. Umas são lícitas, outras nem tanto.
O argumento da Unidade Nacional sob a Coroa é um desses caminhos pedregosos a que o esvaziamento princípios da comunidade conduziu. Faz-se o apelo à unidade, mas não se explica em torno de quê, como se uma unidade política não pertencesse ao reino das coisas que carecem de justificação. Fosse a comunidade um fim-em-si-mesmo e teríamos de aceitar o paradigma bodiniano, precursor da estatocracias em que a loucura estatizada é inquestionável pelo súbdito. Todos juntos, sob a Coroa, juraríamos eterna fidelidade ao “demos” e aos seus desmandos, prontos para aceitar os “direitos sociais” da sua cobiça e o direito à tirania de que este dispõe, quando colocado no papel de “constituinte”. Tirano tontinho, o “demos” português gostou da discussão de ontem à noite. Viu lá gente bem educada e o resto não percebeu (o hábito de achar bom tudo o que não compreende é uma das grandes conquistas de Abril), habituado que está à filtragem informativa do seu grão-vizir abrilino. Não lhes aumentaram os proventos, caiu tudo em saco roto.
O que os monárquicos cá da aldeia ainda não perceberam é que o regime da unidade vazia é a democracia, em que, independentemente da diferença radical entre todas as posições, lá se vão todos submetendo à loucura que a maioria decidiu instituir (p.ex. a capacidade de cada um decidir o que é uma vida humana e agir segundo essa crença). Não há maior unidade que esta, em que, apesar do vazio de propósitos e das cisões mais gravosas, o rebanho continua unido
Se querem comunidade, debatam os seus princípios essenciais, ou assumam de vez que Dom Duarte como Napoleão, Richard Cromwell ou Adolf Hitler não são mais que ungidos pela sacrossanta Vontade Popular.
Sei bem que se dirá que sou “isto e aquilo”, que represento uma monarquia que não existe (mas que é monarquia, ainda assim), que pertenço ao segmento que deve ser varrido para baixo do tapete. Não me interessa. Não pertenço a associações monárquicas, partidos ou capelinhas. Não tenho casacos azuis de botões dourados, nem o telefone do Rui Marques. Não estou na política. Não me faltando oportunidades de “encarrilar”, tenho rejeitado esse caminho por uma simples razão: nenhum grupo tem qualquer projecto que interesse, porque não existe um grupo político actual que não ande a sacrificar o essencial ao acessório. Outros há que nem acham que exista um essencial.

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