Espaços e Memória
Li, há dias, uma excelente entrevista de Pierre Manent e Marcel Gauchet ao Le Magazine Littéraire, a propósito da necessidade, que ambos os autores diagnosticam, de uma comunidade como substrato da democracia. Ambos observam que os pressupostos comunitários da democracia e do igualitarismo que a precede e enquadra, estão a ser subvertidos pela “cultura de direitos” que afasta a vida comum para uma teoria individualista a ideia do político. Daí à ideia do Estado como mero sistema de resposta a “inputs” da distopia tecnocrática é apenas um salto a partir do isolamento e da anomia, o que corresponde a uma sentença de morte a prazo do regime. Um sistema político que não comporte uma “memória comunitária” está condenado a não saber o que fazer e, em última análise, a deixar que os seus princípios sejam arrastados para o “caixote do lixo da História”. Sem meios para se compreender, estando unidos por razões que não são a compreensão do lugar do Homem no Mundo e a sua realização concreta (unidades raciais, sociais, linguísticas e lixo similar), as comunidades degradam-se e aceitam a destruição dos seus elementos constitutivos.
Esta reflexão é importante nos dias que correm, em especial para os que acham que uma comunidade política, um território, uma nação, pode ser subvertida apenas porque mais de metade dos eleitores assim tiveram por bem. Onde não existe uma memória, uma ligação do lugar aos princípios e onde se achar que “o comum” pertence aos privados, pode aceitar-se a injustiça a troco de um benefício pessoal. E pode um imigrante receber a hospitalidade de um povo, ter filhos nessa “casa” e depois dizer que a casa é sua?
Isto é Direito?
Etiquetas: Modernidade
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