terça-feira, fevereiro 06, 2007

Punir a Mulher




















Muito se tem falado sobre a punição das mulheres. O problema é o do costume. Deve ou não a Mulher ser penalizada?
O problema, claro está, é a Mulher. A Mulher é mais uma dessas criações fictícias que se têm criado e que é gazua para todas as imoralidades e todos os sentimentalismos por parte dos recém-convertidos à retórica da moralidade, que sempre rejeitaram.

Com o simples acrescentar de uma maiúscula as mulheres deixam de ter todas as virtudes e vícios que as caracterizam enquanto indivíduos dotados de uma história e de uma narrativa própria, dotados de um passado e das condicionalidades do seu tempo.
Tudo isso é abandonado, porque a Mulher é vítima. É vítima de uma sociedade machista, é vítima das lavagens ao cérebro da religião, é vítima de discriminação no trabalho. É vítima de tudo o que se poderá inventar...
A Mulher é sofredora pela sua própria condição.
Varridas para debaixo do tapete da História são todas as outras histórias. De mulheres felizes, de mulheres que têm sucesso, de mulheres que usaram o seu poder para fazer o Mal e o Bem, de santas e pecadoras, não reza a História da Mulher.

Ouço que dizer que todos concordam que a Mulher não deve ser punida!
Infelizmente nunca encontro a Mulher. Tenho dificuldade em falar com estereótipos... E deles nunca obtive resposta!
Falo com mulheres. Umas sofrem, outras não. Umas são vítimas das agruras do mundo, outras são suas beneficiárias.

Punir ou não a Mulher é um acto de injustiça grave, porque coloca como elemento para a definição de uma acção uma condição fictícia. A Mulher não é criminosa, nem benemérita, nem abortista, nem mãe devota... As mulheres é que podem ter qualquer uma dessas qualidades, ou nenhuma. São o que são. Caso a caso.

Não sou defensor de códigos taliónicos.
Como já disse acredito no perdão, mas no perdão de Cristo... “Vai e não tornes a pecar”.
É verdade que todos temos culpa. Não porque tenhamos obrigação política de dotar as mulheres de condições materiais para a maternidade (esse Paraíso não existe neste mundo), mas porque não lhes mostramos os valores do Bem. Porque a comunidade política há muito se demitiu da fundamental obrigação de demonstrar que há viver bem e viver mal, entre fazer florescer uma boa e uma má vida em comum.
Temos culpa porque vivemos na apatia da neutralidade e vivemos bem com isso.
Criamos selvajaria, que disfarçamos de apatia...

Há mulheres e mulheres. A punição vem no sentido de defender a comunidade e não de estabelecer qualquer punição cósmica (a distinção entre crime e pecado, no domínio político é uma marca original da filosofia ocidental).
Da mesma forma que não considero que punir um selvagem por abortar seja solução, também me apiedo dos selvagens que criamos e que vivem entre nós, na sociedade de Marx e Nietzsche.
Para punir alguém há que compreender a gravidade do vício e do mal. O que mata por descuido, ou por não saber que ali está uma vida, não merce a mesma censura que um sujeito que resolveu destruir outro homem para que o mundo fique mais de acordo aos seus desejos.

Punir uma mulher por abortar numa situação de desespero não é o mesmo que punir uma mulher por abortar por despeito do marido, por vingança, por não querer ter responsabilidades...
Destruir esta linha para servir um estereótipo é caminhar para fim da sociedade e da necessidade que todos temos de Justiça.

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