quinta-feira, fevereiro 15, 2007

O Real no Salazarismo















(iluminura da versão francesa da Política de Aristóteles de Nicolas Oresme)

Muito se tem falado sobre o Salazarismo sempre tentando mostá-lo como uma ideologia, na tentativa de o colar ao século de ilusões que foi o anterior. Tal tentativa não é apenas uma tentativa de encapsular o pensamento de Salazar no tempo, mas uma tentativa de o tornar compreensível ao aparato conceptual dos nossos dias. Basta abrir um daqueles livros de política actual que se vendem na FNAC para ficarmos a pensar que um pensamento político é compreendido pelas suas características superficiais. O Fascismo é um regime repressivo e anti-democrático que se funda no nacionalismo, o comunismo é um sistema de economia centralizada que defende a igualdade de todos os indivíduos, o salazarismo é um sistema anti-democrático, anti-liberal, anti-comunista, com uma polícia política e instituições para-militarizadas.

Estas são as ferramentas de compreender o “político” que nos foram legadas por séculos do positivismo mais simplista e de reduções dos fenómenos à sua expressão superficial.
Reafirmo o “post” anterior. As máscaras são apenas interessantes no sentido em que se compreendem os fins para que são utilizadas. O anti-democratismo, anti-liberalismo e anti-comunismo de Salazar são apenas algumas dessas máscaras, traços importantes, mas apenas se compreendidos no esquema do real e da preservação do essencial.
A diferença do pensamento de Salazar para a ideologia é a forma, bastante anti-moderna, como não apresenta uma solução para o problema político. Não o reduz, não o menospreza a um esquema que oblitera tudo o que não é entendido ou que fica fora das suas profissões de fé.

Ficaram célebres as expressões de Salazar em que este manifestava desejo em ser Primeiro-Ministro de um Rei Absoluto e em que lamentava não poder governar como se estivesse na Inglaterra de seu tempo. Aparente contradição, nada mais que Salazar em estado-puro. O seu desejo era ter circunstâncias que lhe permitissem de melhor forma adequar o país a um ideal comunitário, universalista e Cristão.
Houvesse povo para essa tarefa e Salazar seria democrata. Salazar sabia que a democracia só seria possível dentro dos limites do interesse nacional, entre portugueses que não podiam ser senão patriotas. Não havendo patriotismo, essa adesão ao projecto nacional que não se compadece com o desejo de venda de parcelas da Nação (como pretendia o PCP desde a sua fundação, o PS e o MUD de Humberto Delgado), não poderia haver democracia.

A velha máxima aristotélica de que o melhor regime é o que é adequado às finalidades das comunidades políticas, tendo em conta a matéria (humana e não-humana), era no pensamento de Salazar absolutamente essencial. Avesso a respostas simples e ideológicas, a ideais tomados aprioristicamente (monarquismo, republicanismo, democratismo) e colocados acima de todas as consequências.

Do legado de Salazar ficará este traço profundamente tributário da doutrina política cristã, verdadeira essência da nossa civilização. Acima dos regimes está a vida das comunidades e a sua virtude. O resto são ideologias...

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