terça-feira, fevereiro 13, 2007

O Futuro do Liberalismo




















Se no rescaldo do Referendo há algo a dizer sobre as ideologias urge referir a forma como o liberalismo político se mostrou cativo do vazio. Há muito que o jusnaturalismo liberal, tributário do republicanismo (o regime que pressupõe um limite constitucional), se mostrava corrompido pela ideia democrática de que o regime é aquilo que a vontade popular determina.
Quando o liberalismo se torna existencial, se torna referencial máximo da orientação política dos homens, há sempre uma impossibilidade de responder às perguntas mais importantes da existência humana e, consequentemente, de esgrimir argumentos sobre a realidade que escapa ao seu aparato ideológico.
Por essa razão os sinceros esforços do André Azevedo Alves e de outros homens de fé católica que aderiram ao liberalismo, estão condenados ao insucesso. Da mesma forma que o liberalismo não é capaz de distinguir qualquer concepção de Bem, não é também capaz de discernir uma estrutura racional que lhe permita aferir a realidade, mas apenas demarcar as esferas em que as realidades individuais não possam conflituar. É por isso que Locke amava o protestantismo e a sua ênfase privatista, semeadora de um Deus individual. Os católicos estavam banidos da Tolerância política do Estado de Locke, por possuirem uma filosofia política baseada na Justiça (ideia que enforma a sociedade) e não na gestão do que pertence a cada um...
Para que se fale sobre a Vida, para obter conceitos que permitam compreender o que esta é, o liberalismo não chega. Porque para além dessas esferas de liberdade que são postuladas pelo liberalismo tem de haver definições, é evidente que o conceito de liberdade negativa berliniano é insuficiente, quanto mais não seja porque a definição de Homem, exógena à própria tendência anti-essencialista do liberalismo, representa em si a própria essência da Ordem. Uma norma que é externa e não mera convencionalidade dos homens.
Os liberais não-existenciais, os que aceitam a imperatividade do Bem como ordem primeira que só depois é plasmada numa cultura de Direitos Individuais, aceitam a imperatividade do Bem, embora muitas vezes a disfarcem sob a capa da cientificidade e dos direitos liberais.
Creio que depois da catástrofe que se abateu sobre Portugal é altura de pensar se toda essa dialética liberal pode proteger a essência da nossa Civilização.
Não será altura de regressar ao liberalismo não-ideológico que se encontrava confinado por uma ideia de Bem que é alicerce da nossa sociedade?

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