domingo, maio 07, 2006

Será Que Leram Alguma Coisa?

A revista Nova Vaga brinda-nos com um artigo sobre Edmund Burke que é, surpreendente a todos os títulos. Primeiro porque não nos revela nada sobre o interesse de uma reflexão sobre “gentlemanship” no contexto político português. Em segundo porque revela um conjunto de lugares-comuns sobre Edmund Burke que não se percebe em que medida fazem sentido.
Notável a forma como Burke é um filósofo sem filosofia!
Não tendo teoria será possível afirmar que a Constituição é uma réplica da harmonia do Universo? Para uma pessoa sem teorias, possuír uma doutrina sobre a Harmonia do Universo não está nada mal!
E sem teoria é possível defender que a Constituição defende os Direitos Humanos? E quais, uma vez que se opôs aos de 1789?
Notável como Burke é apresentado como um detractor das constituições feitas pela razão de um indivíduo, para depois ser um defensor de uma manutenção em absoluto de um “status quo”, qualquer que esta seja. Esta seria um mero originalismo! O que não deixa de ser notável para um Homem que defendeu que “uma sociedade sem meios de mudar é uma sociedade sem meios de sobrevivência”.
A posição originalista não bate certo com a ideia de que Burke, no fim de contas defenderia a “constituição actual”, em detrimento das dependentes de um esforço da imaginação. Não será que “actual” significará “real” e “concreta” no nosso idioma?

Mais notável que isso é o tratamento científico dado a um autor que não tem teoria! É a modos que uma experiência mística... De tudo o que Burke disse e escreveu salienta-se, em vez de uma reflexão, um modo de ser! Ser um “gentleman” é a solução para todos os males da sociedade...
Não se percebe bem o que poderá ser um “gentleman”, mas parece mais um ritual iniciático. Na ausência de uma teoria seria mais ou menos um código de conduta que salvaguardaria sabe-se lá bem o quê...
A ideia de que Burke não teria uma teoria, e seria apenas um “gentleman” é ideia tirada de uns quantos tipos que acham que é o “papillon” que faz o monge! Ideia absolutamente disparatada no tempo de Burke em que o irlandês, e em virtude da sua naturalidade, era visto como um um campónio, um retrógrado jesuíta, um homem de parca educação, pela sua pouca fluência no idioma francês... Basta dar uma espreitadela ao livro que está ali em cima para observar como as coisas se passavam na realidade.

Quando se ensinam coisas destas em Universidades...
Quando as pessoas acreditam...

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