quinta-feira, março 30, 2006

Da Metafísica à Sociologia

Já aqui dissecámos o problema das direitas e da forma como de uma ideia generalizadora se tentaram formar pilares para a compreensão da essência dos movimentos políticos. Como dissémos também o objectivo de uma direita deve ser encontrar o centro, encontrar o critério justo que permite observar o desvio, o erro, a falsidade. A direita e os seus ideais, que compreendemos como uma estrutura de ordem que reflecte uma ordem maior, superior ao indivíduo, é um caminho, mas não um destino...
A doutrina da raison d´état, um sucedâneo do maquiavelismo, é reflexo de uma ordem (de uma visão de ordem mais limitada como observa Leo Strauss no Natural Right and History). A doutrina de Hobbes é, da mesma forma, a construcção de uma metafísica com implicações política. O mesmo sucede com Pufendorf, com o Divine Right of Kings, o estatismo historicista hegeliano e outras formas de positivismo extremado. A afirmação da Ordem é uma constante, mas encerra em si uma armadilha, através da criação de uma metafísica ad hoc, mera justificação do Poder ou da facção. Nenhuma liberdade, em sentido verdadeiro, emerge daí. Há direitas e direitas...
Por isso é urgente recuperar a verdadeira metafísica. É na recta razão que se compreende o que está à esquerda e direita.
A direita é, por isso, uma forma superficial.

Relembremos a herança de Burke e a forma como este se colocava, diremos de forma liberal (porque motivado pelo interesse na verdadeira liberdade), contra o sectarismo (os aficionados do poder) e contra a dissolução (os que esquecem os deveres políticos que a liberdade implica). Burke sempre se defendeu afirmando que ambos os lados estavam em excesso. Fossem os direitistas, os partidários de Jorge III, ou os esquerdistas, os afrancesados dos clubes republicanos e revolucionários, todos tiveram direita à sua “bordoada”.
Esta é a dita “direita sociológica”, que trata de se reformular de cada vez que precisa de uma nova justificação... É um grupo que se blinda e não uma corrente de pensamento. É desta vulnerabilidade às tendências externas, por motivos práticos e não por qualquer preocupação com a “justa medida”, que penetram no seu seio ideias como o pragmatismo... e é por essa porta, a ausência de uma identidade substantiva (basta ver-se o que tem sido o GOP desde a fundação até hoje), que os neo-conservadores entram na direita sociológica, apesar de todo o seu paradigma mental ser de esquerda (só as conclusões a que chegam não o são).

A distinção é entre uma direita sociológica, o oposto das esquerdas, e uma direita que olha para si como “recta”. Os neoconservadores são de direita sociológica (exceptuando aqueles que não renegaram a sua tradição e se mantiveram no Labour por acesso ao decision-making), mas opõem-se à possibilidade de encontrar algo recto no mundo, como seja a virtude ou o Bem.

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