terça-feira, dezembro 13, 2005

Um Olhar Sobre o Vazio

São sobejamente conhecidos os estudos e reflexões de Ortega y Gassett sobre a sociedade de massas. Foi concepção prosseguida em muitas reflexões da máxima importância na filosofia, tanto nos heideggerianismos de direita e esquerda, como na Conservative Revolution, como na crítica comunitária-católica de Charles Taylor.
Lado a lado com este diagnóstico da sociedade de massas, que já várias vezes aqui tratámos, existe uma reflexão filosófica de extrema relevância e que ocorre no mesmo sentido...
Santayana é um americano peculiar, que nunca abandonou as raízes da Espanha natal.
O traço permanente da sua obra encontra-se numa materialidade (anglo-saxónica moderna) mesclada com uma espiritualidade tradicional (traços da catolicidade espanhola). Nesse diálogo entre as duas tradições, que em tempos diferentes da sua vida ganharam pendores variados, Santayana estabeleceu uma perpectiva original e interessante, em que a estética católica (uma concepção residual da religião) perdurou e manteve-se como critério e concepção estruturante do gosto e do belo.
Para Santayana a grande distinção entre as sociedades reside na distinção entre o feio e o belo. A boa sociedade é aquela que possui a capacidade de distinguir o belo, de criar beleza, algo de mais elevado que o “aqui e agora”, o que se poderia descrever como capacidade de sonhar.
A Modernidade e os seus subprodutos são os grandes responsáveis pela destruição estética dos nossos dias. Nesse aspecto Marx, Bentham e Rockefeller pertencem a um mesmo espírito que reduz a humanidade a uma mera função material, onde não existe lugar para uma concepção superior. A modernidade prefere o indivíduo atomizado de Charles Taylor, ou o “homem de massas” de Gassett... o que Santayana define como o “órfão”, desprovido de tradições, da capacidade de ser portador de algo. Os órfãos são os filhos predilectos da Modernidade, que pelo vazio se encontram a caminho da incapacidade de estabelecer os juízos do certo e errado. Sem fins autónomos e reduzidos à aceitação da sociedade, tornam-se seres gregários e não políticos, redundando num tribalismo animalesco, uma forma pré-política animalesca (segundo a concepção aristotélica). O político passa a vara (como na República de Platão) onde existe apenas acção e reacção, onde existe apenas vontade de auto-preservação (o rebanho hobbesiano perfeito). O homem medíocre é desprovido de concepção do belo e consequentemente desprovido de algo por que lutar. Sem coragem, nem nada para a canalizar, fica em casa entregando-se ao hedonismo, aos prazeres do animal e à imprensa que o vão mantendo no lugar necessário.
Basta vermos como a nossa imprensa promove o medo da morte (o acto corajoso da Restauração deu lugar ao Dia Mundial Contra a SIDA) para sabermos que Santayana tinha razão...

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