Eu Sei Que Tive Azar
Hoje fui surpreendido com a notícia de que um certo Arquitecto irá abandonar a cátedra da ideia-feita para classe média letrada. Trata-se de uma mudança que não afecta em nada um jornal sem esperança de “melhoras”... Nem sequer surpreende a sucessão, pois o que deixou de ser epidérmico passará a ser paquidérmico, imóvel, sujeito às chibatadas dos donos. Sem grandes novidades...
Eu tive a infelicidade de conhecer o dito Arquitecto, prova-viva de que os genes são matéria de pouca monta nos assuntos dos homens...
É interessante conhecer personagens que gravitam na política, sem a ela pertencerem, serem directores de jornal sem vocação, ou conhecimentos para tal... Fica-se por isso na base do “falei uma vez com” ou “tal sujeito é um indivíduo com qualidades”! Num domínio de elevação e profundidade, portanto.
Mas o que mais me surpreendeu sempre no Arquitecto foi a sua ambição em dar passos maiores que a perna! O senhor percebeu rapidamente que só poderia deixar de ser lesma quando criasse doutrina... Começou então a elaborar alguns conceitos-chave!
Sendo a política uma matéria de responsabilidade, teorizou o Arquitecto, deveria existir um Tribunal responsável por ditar penas, interdições ou coimas, por má gestão da coisa pública. Ao ouvir tal pensamento senti a necessidade de partilhar com o Arquitecto duas questões que me assaltaram. Primeiro que a ideia era perigosa, pois tornava a magistratura um órgão de cariz político. Segundo, que a ideia não era original e já havia sido posta em prática eficazmente pelos Tribunais Populares da União Soviética.
O Arquitecto olhou para mim com olhar grave e não respondeu, com a soberba de quem não deve nada a ninguém (nem sequer à inteligência).
Um país de fidalgos, onde os apelidos garantem postos, onde a ignorância é recompensada como uma virtude, onde um homem iletrado é director de um jornal “de referência”.
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