quinta-feira, julho 07, 2005

Retrocesso do Espírito

Não há dúvida de que a Modernidade e o Totalitarismo vão de mãos dadas. Sobre a compreensão da Verdade põe-se a Vontade. Essa é a verdadeira forma do Totalitarismo, uma subordinação da metafísica ao que se pretende, numa instrumentalização que representa a antítese da “aventura” do pensamento.

Já aqui falámos frequentes vezes da Igreja “à la carte”, da ideia de que é a religião que se deve submeter aos nossos interesses, vontades e perspectivas. O paradigma da Modernidade reside na atitude peculiar de escolher uma religião segundo um conjunto de valores que perfilhamos. As pessoas que dizem, ou as que não dizem mas pensam, que são católicas por considerar esta a melhor forma de preservar a liberdade individual, por considerarem que esta representa melhor o igualitarismo, ou porque é a melhor forma de assegurar a estabilidade social, não são, de forma alguma, pessoas religiosas.
Assim se vai ao “mercado das religiões” procurar o que melhor serve os nossos interesses, sem a preocupação de encontrar uma Verdade ou um argumento superior a outro[1].

O problema desta concepção é por demais evidente. Se se coloca o terreno acima do eterno revela-se que o terreno é o divino, algo que é manifestamente errado, pelas limitações espaço-temporais de tudo o que existe “debaixo do Sol”.
Os problemas que esta atitude levanta são de duas ordens. O homem olha para a sua situação e não dispõe de capacidade de julgar, uma vez que o seu divino é aquilo que está ali, o que o rodeia. O que “é” coincide com o que “deve ser”! Não se pode questionar porque não se dispõe de um paradigma mental, de uma compreensão, que permita discordar...
Por isso se fala tanto de Liberdade e Igualdade, não se falando da questão real que é “porquê?”.
Podem existir as mais amplas liberdades políticas que o totalitarismo que se encontra na mente não deixa florescer qualquer horizonte superiror.

O Neo-Paganismo corresponde a essa mesma fixação intramundana, totalitária e impossibilitadora de um “dever ser”. Não há nada tão afastado do paganismo primitivo como o neo-paganismo. O paganismo clássico era um caminho terreno para a compreensão do eterno. O neo-paganismo é o recuo do eterno ao intramundano, deixando espaço ao positivismo para desmandar no domínio político (a não ser que as àrvores e os passarinhos se revelem grandes mestres ordenadores da sociedade).
Uma religião não é um instrumento da minha vontade, sob pena se olhar tudo como se não pudesse ser de outra maneira!
Não é um instrumento do meu desejo de comunidade, mas um caminho para compreender o que está para além do mundo físico e compreender o lugar do Homem no Mundo.

Quando se diviniza um elemento de uma sociedade e se pretende semear uma monocultura do ódio, nada nos resta senão dizer como São Tomás...

“Contra hoc scriptum scribat, si audet et inveniet non solum, qui aliorum sum minimus, sed multos alios, qui veritatis sunt cultores, per quos eius errori resistetur, vel ignorantiae consuletur”.


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[1] Sendo por isso muito curioso ver que quem anda aí a apregoar a incapacidade de distinção entre dois argumentos, é capaz de dedicar muitas linhas e horas excessivas , a uma tentativa.de argumentação, retirando-se depois para a submissão à avançada das ideologias e das perspectivas relativas.
Poderá existir ciência para estes?

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