Acidentado Caminho
Tenho um amigo que me está constantemente a relembrar como o Pires de Lima jr. é uma pessoa pouco articulada. Como nunca tinha sido pessoa que me suscitasse grande interesse nunca me havia debruçado sobre o assunto.
Hoje o FG Santos alertou-me para um texto do referido senhor, um texto que não deixa de ser ilustrativo da confusão que anda aí na direita que é esquerda.
Começa com uma afirmação de Salazar que utiliza como forma de mostrar a direita do passado… retrógrada, autoritária.
Afirmar que “onde há autoridade não há liberdade” é uma constatação de facto.
Salazar queria com isto dizer que não onde existe Estado não existe liberdade e que há lugar para ambos. É evidente que o autor percebeu isso (caso não o tenha percebido a coisa torna-se ainda mais preocupante) … mas não conseguiu resistir à tentação de ser combatente anti-fascista!
A coisa torna-se emocionante quando se tenta colar Salazar (e o Senhor D. Miguel) ao monismo comunista, quando se tenta unir o cepticismo do Scottish Enlightenment a uma crítica ao Estado Novo. Esta é que é mesmo de rir…
Salazar é ilustrado como um fervoroso opositor da iniciativa privada. Como o autor bem deveria saber Salazar sempre foi um acérrimo defensor da iniciativa privada, que tinha a excelente visão de olhar para o seu país e compreender que um país com um tecido produtivo subdesenvolvido precisa de proteccionismo numa fase inicial. Deveria conhecer os esforços de abertura à iniciativa estrangeira que resultou nas parcerias do início da década de 60 e no subsequente desenvolvimento económico do país, ou as parcerias com empresas britânicas para o desenvolvimento ultramarino.
Mas será que não sabia?
É evidente que sabia...
Só que assim se matam dois coelhos de uma só cajadada.
Ganha-se um anti-fascista e pode-se falar de “free enterprise”, que é a única coisa de que o senhor sabe falar.
Como me dizia o FG Santos há uns dias, há uma certa direita por aí que, enquanto o mundo desaba nas suas cabeças, continua a achar que está tudo bem, porque a taxa está baixa…
Pires de Lima não apresenta qualquer coisa que exceda o trivial e eleva a banalidade a uma forma de arte…
“Uma direita que ame a liberdade. Uma direita humanista, respeitadora do direito à diferença nas questões éticas, de moral e de costumes, que preze a dignidade de cada pessoa e respeite opções individuais. Uma direita que acredite na iniciativa, na concorrência e estimule a capacidade de empreender. Em suma: uma direita moderna e de marcada inspiração liberal. Portugal precisa de uma direita assim. Vamos fazer por isso?”
Que Humanismo será esse? O Cristão, o secularista?
Que Liberdade é essa de cada um fazer as suas escolhas morais? E se eu escolher uma religião que não me permita pagar impostos? E se eu escolher morrer como prática sexual? E se eu me quiser casar com um cão? E se eu escolher ter sexo com crianças?
Em suma: Uma direita que não se reduza a disparar as receitas do Bloco de Esquerda, misturadas com liberalismo-económico. Portugal precisa de uma direita que pense.
´Bora lá pensar, nem que seja um quarto de hora?
Etiquetas: Direita
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