quarta-feira, junho 29, 2005

Uma Obra de Ficção

Nalguns sectores tem sido criada uma figura do Nacionalista Português como uma figura tristonha, imersa em sonhos de reconquista mundial, olhando o mar e alheio à situação do seu país.
É uma imagem divertida, embora muito pouco real.

O Nacionalista Português compreende o fim do Império melhor que ninguém, pois que o compreende como fenómeno total, espiritual e material, uma vez que o teve como fonte do seu ser ao longo de séculos.
Mais que ninguém conhece a derrota de Abril. Por isso afirma a necessidade de manter vivos todos os elementos da coesão nacional, tanto materiais como espirituais.

O suporte do espírito é sempre o corpo e nada do que existe no nosso mundo passa sem ele. Em particular quando falamos das Nações é redobrada a necessidade de uma materialidade no sentido de salvaguarda do espírito, do cumprir das vocações da “cidade”.
Assim é fundamental uma língua, pelo conjunto de significações que permite pela sua partilha. É fundamental um território, um espaço físico que funcione como repositório e seiva da vida de uma Nação. É fundamental um Estado que organize e estruture a vida nacional, que se encarregue da preservação das tradições que fazem o “caminho”, original e concreto, de uma Nação (o Rafael diria Pátria, por ser política e não familiar ou consanguínea) no sentido do Bem, do cumprimento do Homem e dos propósitos da comunidade política.
Uma Nação que não disponha deste elemento não se pode salvaguardar enquanto colectivo, ficando, como no caso da diáspora judia, unida por vínculos frágeis e sujeitos a cisão e ao desaparecimento. Por isso se luta pela soberania! Luta que deveria unir todos os nacionalistas e todas as pessoas que se orgulham do seu legado.

Por isso todos os Nacionalistas Portugueses (que não os de outra coisa qualquer) estão absolutamente cientes da necessidade de restringir, fortemente, a imigração.
Cumprisse o Estado Português as suas obrigações morais, a inserção dos que aqui vivem numa ordem política nos interesses do todo nacional, e não uma amorfa colecção de abstracções descontextualizadas, e os imigrantes poderiam vir a participar dessa homonoia. Ao proclamar a liberdade de todos, mesmo dos que atacam os interesses de Portugal em prol dos interesses russos, americanos, franceses ou alemães, faz um apelo suicidário e renega a verdadeira unidade nacional, a unidade moral!

Esta restrição à imigração é uma forma de preservar a unidade nacional e não o contrário. Essa é a diferença que opõe os Nacionalistas Portugueses de outros tipos de nacionalismo que também existem em Portugal.
Assenta essencialmente numa ideia de realidade histórica e continuidade Pátria, na necessidade de recuperar um Portugal, herdeiro de tradições e obrigações morais, e não nas sucessivas reinvenções de Portugal que foram apanágio das esquerdas de 10 e 74.
Portugal não começou no fim do Império. Tem obrigações e um percurso histórico, no qual foi assimilando outras gentes, que com o tempo passaram a ser parte integrante da vida nacional e que constituem o legado integral da Nação.
Este fundamento no real é o grande trunfo contra a invenções que querem macular esse legado e o que distingue um nacionalismo fundado na contextualidade de uma experiência portuguesa[1] dos apriorismos modernos que entroncam numa reflexão que é anterior à realidade, tentando manipulá-la, num pensamento que é produzido pelas emoções e pela mera vontade, neste caso o ódio a um segmento da sua comunidade.

A redução “rectangularista” não implica a modificação do ethos, não implica a mudança de essência e de fins, mas uma mudança de políticas, de métodos, face a uma circunstancialidade diferente, com o objectivo de defender a perenidade de Portugal.
As restrições à imigração não significam uma reinvenção da concepção de Portugal, mas uma tentativa de defender o que é possível, aceitando a História e os direitos de todos os que provaram estar, de corpo e alma, no seu seio[2].




[1] As ideias, como o 1+1=2 ou a Verdade, não são portuguesas, ou semitas, ou persas. Pode afirmar-se que tal ideia se enquadra numa determinada tradição de pensamento, num encadeamento histórico e lógico de um encadeamento de ideias.
[2] O que separa o “tecido” da comunidade política de uma ideologia é que a pertença a uma ordem política não é um acto da consciência, mas uma realidade histórica (narrativa).

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