terça-feira, junho 28, 2005

Não Beber!

Andava eu a escrever um texto para “desancar” na fé dos liberais e restante malta direitosa, na neutralidade da democracia, quando o Rebatet publicou este texto de Guillaume Faye acerca do problema essencial da Democracia.
Como calculam o referido autor não é santinho (nenhum) da minha devoção! O texto não ajudou, demontrando que por trás de uma sólida cultura terá de estar sempre o apoio da reflexão político-filosófica.

Não sei se será a ânsia de democratizar um pensamento tradicionalmente avesso a essa forma de governo ou por uma fé sincera na Modernidade, mas a verdade é que Faye aparenta cair na falácia democrática.
Ao fazer a apologia de uma democracia absolutamente neutra (uma miragem, como veremos), está a dar força ao erro que, supostamente, deveria combater, erro que é a causa dos males que a direita deveria combater.

O tipo de Democracia que Faye defende é uma democracia pós-moderna. Segue na linha de Arendt (não deixa de ser divertido!) uma concepção de política não-regimentada, mas como uma praça pública onde se joga, num plano neutro, um conjunto de interesses e crenças (aqui entra Rorty, o amigo de todas as horas dos bloquistas)… Muito mais perto do conceito de “Isonomia”, um conceito igualitário recuperado pela Religião dos Direitos Humanos, do que de um conceito de Democracia, vertido em regime.

O problema é evidente. Não há nenhuma democracia neutra, à excepção, talvez, da existente nas cabeças dos racionalistas kantianos e neo-kantianos. O Estado de Arendt, Rawls e Rorty funciona apenas no caso em que for respeitada a perspectiva “humanitária” e altruísta que a enforma, o que demostra que na fonte existe sempre uma justificação que condiciona o curso do rio.

E todas as democracias (arrisco, todos os regimes) possuem esse “vício formal” que no fundo é identificador e agente viciador da estrutura política.
A democracia geométrica (fruto do igualitarismo, Buiça!) que consagra “um homem, um voto” é uma expressão ideológica! É uma concepção que visa determinados objectivos (política massificada, dependência dos indivíduos face ao Estado, atomização, ideia de posse privada do domínio público). Não é uma escolha livre, porque estará sempre enformada para uma determinada estrutura política e social.
Não pode ser de outra maneira.

Quando Faye se enquadra na doutrina moderna de direitos individuais está a concordar com as premissas de uma sociedade que afirma combater, onde não há critério para além da opinião, que tirando algumas ideias secularizadas e desprovidas de justificação metafísica, se enquadra numa forma de pensamento pós-moderno que nunca servirá de base para nada.

O tipo de Democracia que Faye propõe não existe. E não será possível outra fundada na pós-modernidade, ou num pragmatismo de feição populista.

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