quarta-feira, julho 06, 2005

O Totalitarismo, O Autoritarismo, A Posse do Espírito

Na caça ao Fascismo em que vivemos é frequente que se deixe escapar o epíteto de totalitário para um conjunto de coisas bastante diferentes. A coisa perdeu o sentido e evoluiu para um insulto desprovido de conteúdo ou para uma quantificação de intervenção estatal na vida do indivíduo. Essa ideia é falsa e condenada ao insucesso.

O Totalitarismo é filho da Modernidade. O projecto racional de restruturação do Homem encontrou vários soluções (todas insatisfatórias) para a estruturaçao da alma e da vida colectiva dos Homens. Assim ideias como o psicologismo, o determinismo, o materialismo, o historicismo, forneceram a ilusão de que tudo seria controlável, que era possível penetrar o tecido da História e conhecer a completude das suas leis, determinar todos os aspectos da vida Humana.
O projecto moderno falhou, em teoria e prática. Não conseguiu, de forma que os clássicos diriam sobrehumana, criar o consenso e a coesão dialética sobre todos os aspectos do Mundo.
O fascismo, divinizador da herança renascentista da Razão de Estado, não conseguiu opor ao liberalismo, corrente divinizadora da vontade individual, a sua visão. O comunismo, a divinização do materialismo, também não o logrou.
Todas estas posições pressupõem uma capacidade divina do Homem e uma capacidade divina da comunidade política, de estabelecer o “Paraíso na Terra”.

O processo que subjaz a esta ideia provém da própria natureza do pensamento moderno.
Ao afirmar que a vontade deve orientar todos os actos políticos e que o resultado dessas concepções privadas é um “bom estado de coisas” o liberalismo afirma o seu totalitarismo!
O totalitarismo não é a intrusão do Estado numa esfera privada. Se fosse, poder-se-ia contabilizar o grau de totalitarismo pela quantidade de legislação (o que nos remete de novo para a questão do Código da Estrada) de uma ordem jurídica.
O totalitarismo caracteriza-se, e é causado, por uma destruição dos critérios do “Dever Ser”. Onde não existe critério externo, uma estrutura que permita aferir o certo e o errado, não é possível a concordar ou discordar. Esse é o totalitarismo em “estado-puro”!
É a tomada do Ser ao Dever Ser. Achar que o que “é”, é o que “deve ser”, o que é o paraíso positivista, historicista, hegeliano.

O totalitarismo produz um Estado omnipotente, o Estado Totalitário, uma vez que este é movido por fins “intramundanos”. Ao invés do conhecimento limitado do “dever ser”, pré-moderno, o Estado Totalitário conhece perfeitamente os seus fins, dominando-os, sendo o próprio Homem a ditar o “Dever Ser”.
Não encontra por isso qualquer limitação à sua acção, uma vez que ele próprio se constitui no critério de avaliação do certo e do errado, no próprio horizonte moral.
Seria assim impossível que um Estado Totalitário se afirmasse como “submetido à moral e aos superiores interesses da Nação”. O Estado Novo não é, nem poderá jamais, considerado um Estado Totalitário, uma vez que não possui o carácter de supremacia sobre o Dever Ser, a norma ou os preceitos morais.

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