Para Terminar
Lá continua a senda destes nossos amigos (Buiça, Holandês Voador, etc) contra a Filosofia. Admito que não gostem dela, mas não é o mesmo desconhecê-la e negar a sua existência…
Os liberais Buiça e Holandês negam a filosofia ao negar a supremacia da Verdade e do Bem sobre as outras coisas. No diálogo sobre a Justiça de Platão tomam o partido de Trasímaco, o sofista que considera que a verdade e justiça não são mais que crendices, ideias para amansar o Outro (posição aliás tomada por Niezsche e que os dois comentadores corroboram).
Fazem-no ao defender não a sua própria posição, mas ao defender todas as posições como legítimas (ao bom estilo dos reverendos protestantes). Não apresentam qualquer alternativa de conhecimento e verdade (como fizeram, insuficientemente, Espinosa, Comte, Bentham, Marx). Apenas defendem que não existem critérios de avaliação para a Verdade e a Justiça… Só ainda não percebemos é se todos têm razão, ou se ninguém tem razão. A fiar-me pelas posições políticas de cada um diria que Buiça considera que ninguém tem razão, e, por isso todo o governo é injusto, e que o Holandês considera que todos têm razão, ao bom estilo rousseauniano e espinosista, considerando, por isso, que as maiorias devem sempre governar, como se tivesse sempre razão.
Estas ideias são, porém como resquícios de filosofia. Por isso não conhecem Verdade!
Desconhecem a diferença entre a sophia e a doxa, o juízo e a opinião, a epiderme e o fundamento. Não conhecem a discrepância entre a opinião que é meramente reproduzida (sem ser compreendida e analisada) e aquela que é justificada e reflecte um conhecimento que lhe é anterior, dependente dos outros e de nós (conceitos como a cor, ou a agudeza dos sons, são conceitos que não são meramente sensórios, que dependem do estabelecimento das fronteiras entre cores na sua nomeação).
Dizer que o branco é melhor que o preto, sem que se indique o critério (fim, telos) é opinião! Dizer que o branco é melhor que o preto e explicar que, para a pintura de um avião é melhor (devido à refracção de calor), é um julgamento que implica verdade! Dizer que na pintura de um avião o branco ou preto são indiferentes e que depende da perspectiva o que é melhor, é sofística…
E ainda que a maior parte das pessoas queira pintar o avião de preto, a melhor forma de o pintar é o branco…
Daí aos devaneios, à apologia romântica da diversidade com que o Neuroglider nos brindou vai um pequeno passo. A sociedade só é livre quando expressa indivíduos que são radicalmente diferentes. Esta apologética vazia, que reproduz lugares-comuns disparatados como “Ser livre é acima de tudo saber quando acaba a nossa liberdade e começa a dos outros” e “Foi educado a ser condicionado e a não ter a opção de escolher por si”.
Não sei de onde me conhecerá o Neuroglider, mas não sou a pessoa com que me está a confundir. Não andei em escolas cristãs, tive uma educação estritamente liberal… Quero crer que não o fez por mal, mas apenas porque gosta de inventar!
O Neuroglider não percebe que a existência da comunidade pressupõe um conjunto de símbolos e experiências partilhadas. A própria linguagem que aqui usamos é um conjunto de símbolos arbitrários… Eu não podia tratá-lo aqui por José e esperar que o Neuroglider percebesse que era para si! Se esses símbolos não forem partilhados, não existirá conversação…
Vêem pouco os que acham que a liberdade de uns acaba na dos outros. Se querem essa liberdade desloquem-se para o Sahara… Lá poderão fazer o que desejam, sem dar cavaco a ninguém! A liberdade consiste na determinação da Justiça, daquilo a que cada um tem direito e não na ausência de conflito entre as “claims” de direitos dos indivíduos!
Por isso é que todos concordam que a lei deve evitar o mal, mas não conseguem partir daí para compreenderem que a justiça deve evitar mesmo o mal que é praticado a si mesmo, como no caso do homicídio consentido, que é considerado por si como eutanásia!O Poder tem de, invariavelmente, ser uma concepção superior à vontade dos membros, para que seja digno da morte de Sócrates (como observou o Legionário).
Não somos mais iluminados que qualquer homem que não renegue a existência da inteligência!
Etiquetas: Pensamento Tradicional
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