A Crítica Não Chega (II)
Já aqui se expuseram suficientemente os problemas da democracia liberal. Não há dúvida de que se trata de um sistema repleto de imperfeições e becos sem saída!
Não há dúvida que é um sistema que comporta em si as sementes da sua própria destruição.
Não é por isso, porém, que alinhamos com os “tontos” anti-globalização, de que o Chomsky, o Saramago e o Dr. Soares são ídolos. A crítica tem de comportar uma resposta semelhante, uma comunhão de interesses, uma partilha de mundividência.
Não é isso contudo o que acontece com dois tipos de nacionalismo tão distintos quanto os que se vêm aqui discutindo.
Que alternativas de sociedade podem ter em comum?
Uma sociedade baseada numa identidade indo-europeia, ariana ou branca (todas são concepções bastantes distintas umas das outras…) é radicalmente oposta a moral que presidiu à formação de Portugal, à sua expansão, à sua contracção.
Não tenho dúvidas de que Portugal é uma Nação, apesar do conjunto distinto de etnias (que já na altura eram misturas de etnias…) que assistiram à sua formação!
Não tenho também dúvidas de que a moralidade indo-europeia pagã nunca esteve ligada a Portugal. O que por si só não significa que seja esvaziada de utilidade. Os seus problemas são bastante mais profundos que isso…
O problema é que não existe nenhuma proposta comum, entre os dois nacionalismos.
Imaginemos que esse movimento unitário de nacionalistas tomava o Poder…
O que poderíamos esperar do novo regime?
Substituir-se-ia o sistema multiculturalista e laicista, por um sistema biologista e etnicista, ou seja, um sistema cientificista por outro igual! Se só o branco pode ser português é preciso que se defina quem é branco(o que requer uma certeza científica!!!, algo que é um contra-senso, uma vez que a ciência não pode munir a sociedade de verdades absolutas)! Que grau de pureza poderá ser aceite?
Sabendo que a população portuguesa tem muitos antepassados judaicos… A quantos será negado o direito de cidadania?
E quantos algarvios não têm sangue magrebino?
Já tinham no século XIII…
Tudo recambiado…
Obviamente que esta concepção é incompatível com a vida portuguesa, concepção derivada de uma mundividência cristã, onde o Homem se define pelo seu espírito e não pelo seu sangue.
É da árvore do cristianismo que deriva a originalidade do ser Português. É à sua sombra que todo o “ethos” português se forma, que se encontra a sua originalidade, que se encontra o que o fez nobre no mundo!
A ideia de que à formação da nacionalidade presidiu alguma coisa de pagão, ou a ideia de Afonso Henriques como herói do “ethos” branco é, no mínimo, divertida!
Disto resulta uma importante mitificação de uma personagem, desviando a admiração de uma figura histórica para a própria explicação do mundo que tem!
Saramago, recentemente, expressou o seu desejo de um regresso de Dom Afonso Henriques. A ideia é a mesma… Identificar a figura com os nossos ideais, independentemente da sua acção histórica, e dos factores e valores que esta visou defender!
Se o problema “racial” for tomado, de forma mais superficial, apenas como uma necessidade de identificação com o Poder, o problema torna-se então ainda mais simples.
Bastará, como sucedeu durante tantos anos, demonstrar como é a unidade de Poder “Portugal”, que lhes permite levar a sua vida e usufruir dos seus benefícios!
Será impossível, ou sequer difícil, que alguém se identifique com alguém de outra raça?
Ainda para mais quando é à sombra desse Poder que levam as suas vidas, que é essa a língua que usam para se educar, que é às suas autoridades que recorrem para defenderem os seus direitos…
Pior são os que com alva derme renegam a sua “verdadeira identidade”, PORTUGUESA, e olham para os Jean Monet´s, para os Hitler´s, para os Napoleões, com abjecta reverência…
O que fazer com esses que encaram como supremas as lealdades Europeias e Indo-Europeias?
É que a Nação como sub-produto da Estirpe, comporta sempre uma supremacia do fim último, e quando este é a solidariedade essencial de Portugal com o Bangladesh…
Por fim gostava apenas de realçar que tanto este vosso serviçal, como o Caturo, têm uma virtude! Levam o seu pensamento até às últimas consequências. Por esse facto compreendem que a coerência e a posição política têm uma consequente posição metafísica!
Temos, pelo menos, a compreensão de que a Verdade não é algo de manipulável.
Louvo isso no pensamento do Caturo, apesar de todos os erros que sei que a sua posição comporta e de considerar que as nossas posições são impossíveis de conciliar.
Se alguma virtude temos é não estarmos indelsos ou “empastelados”.
As nossas sínteses são na acção e não no pensamento… Por isso não estamos confusos!
Etiquetas: Nacionalismo
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