quinta-feira, outubro 28, 2004

A Crítica Não Chega… (I)

Sem dúvida que sou um bocadinho bolorento! Devo dizer que não tenho quaisquer pretensões a deixar de o ser… Não possuo essa doença moderna da Novidade, que não é senão uma incompreensão do eu, na sua perspectiva histórica e narrativa. O cruel filme de Mike Leigh “Naked” retrata com firmeza essa esquizofrenia existencialista. Não padeço de qualquer complexo bergsoniano, qualquer necessidade de afirmação pela novidade, pela substituição da essência por um “ídolo” reciclável, cheio de luzinhas e “sex appeal”, que se descarta assim que se considera que “os tempos mudaram”.
Esse é um argumento recorrente. Nem sequer é um argumento particularmente original… É usado por todos os que estão com o Poder. No caso dos marxistas foi usado por quem tinha certeza religiosa (pela religião materialista-histórica e dialética) de que o futuro lhe pertencia…
Não sabemos se o Socialismo Científico (nome pomposo para o marxismo), voltará e dominará… Como não sabemos se o liberalismo será, como o patético Fukuyama pretende, será o último estádio do Homem! É, pelo menos, altamente improvável…
O que podemos e devemos fazer é aferir os erros das variadas ideias e demonstrar as suas insuficiências.
Demonstrar como o marxismo nunca passará da fase ditatorial, por nunca poder obter a ilimitação dos recursos requerida para satisfazer todas as necessidades dos homens, como o demo-liberalismo, fundado nas paixões dos homens, em particular da vaidade, estará sempre sujeito às investidas dos sofistas! Caiu em Atenas, caiu em Weimar… Até caiu em Washington durante os períodos de hábeis interpretações da Constituição em que se puniram e perseguiram “criminosos de opinião”! Sardinha viu isso, apesar da morte o ter tolhido muito antes da decrepitude geral do sistema… Esta não era também uma opinião original! Aristóteles já havia prenunciado na Política Livros III e V a decadência democrática às mãos dos sofistas, a ideia de que a decisão política na democracia (demagogia) é propriedade do cidadão, em contraponto com o regime constitucional (politeia) onde todos votam, em consonância com os princípios constitutivos da “polis”, com a sua existência real, que se encontra na mautenção da partilha espiritual (homonoesis ou homonoia).
Ideias velhinhas de 2500 anos… decerto sem qualquer interesse para o nosso tempo!

Tenho de reiterar, por isso, que o isolamento me assusta menos que o erro.


Etiquetas: