segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Redobrada Sugestão

Em viagem pelo país, tive ocasião de ouvir uma entrevista de Alexandre Honrado a Sílvia Espírito Santo, autora da biografia de Cecília Supico Pinto. Alexandre Honrado é licenciado em História e escritor de valia abrilina, não se negando ao disparate repetitivo e ao "fostes", "comestes" e "fizestes", aos microfones do Rádio Clube.
A entrevista com a autora do livro (que me foi recomendado por um amigo) foi um exemplo de uma mentalidade que se vai disseminando no rectângulo democrático. Primeiro insultou a convidada, ao afirmar que o seu livro seria um branqueamento (ou poderia ser lido como um tal) de algumas personalidades do Estado Novo. A autora respondeu à letra, afirmando basear-se no método analítico da historiografia. Logo a seguir perguntou se a imagem de Salazar não corria o risco de ficar humanizada na obra. Ora, isto é bastante estranho para um licenciado em História, exceptuando se o referido "escritor" achar que a História deve ser um reflexo daquilo que o político ou a vontade popular quer. Em vez de questionar se aquela face de Salazar seria verdadeira, perguntou se seria políticamente útil, o que é uma estranha posição científica para uma pessoa com formação na área. Se calhar licenciou-se em Karl Marx Stadt...
Ainda preocupado com os espíritos mais simples, o notável escritor/ideólogo, insurgiu-se contra a "caridadezinha" levada a cabo pelo Movimento Nacional Feminino. Quando lhe foi explicada dimensão da acção do Movimento, apressou-se a dizer que enquanto isso havia pessoas a receber a caridade havia gente no Tarrafal, como se os soldados e suas famílias que lutavam por Portugal, fossem o mesmo que os que pretendiam boicotar a sua acção. Uma lição para todos nós...
Por fim e muito custo, o locutor lá foi pedindo desculpa. É que ele não tinha lido o livro. Não tinha lido o livro, mas tinha dúvidas sobre as finalidades, o método, as personalidades lá inscritas. Um ensaio sobre como ser cábula e falar com certezas. A melhor recomendação que o livro poderia merecer...

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