Uma Auto-Estrada para Damasco (II)
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Não há dúvida que há bons homens sem a existência do Divino. O problema é que não há Bem sem Divino...
A questão parece retornar aos dramas fundamentalistas e aos autos-de-fé, como por certo alguns fazem crer. É inevitável que assim seja. Relembre-se a História da Filosofia e ver-se-á que em toda a teoria do Bem, em todas as pessoas que formaram um juízo auto-examinado e o levaram às mais profundas consequências, existe uma análise de Deus.
Marx pediu emprestado o Deus de Hegel, o Processo Histórico, para anunciar a Boa Nova da amoralidade e o Reino da Técnica (que, por seu turno, havia sido emprestado da doutrina positivista de Auguste Comte).
Ou o que dizer do Utilitarismo em que Bentham assume os pressupostos do materialismo cartesiano, reduzindo tudo o que não tem forma física à categoria de lenda. A partir desse momento a divinização do Homem, em particular do seu elemento hedonista, é conquistada, sendo tudo sacrificado à suas mãos.
Todos estes, gente alerta, compreendiam a necessidade de ancorar as suas concepções de Bem, num sistema mais profundo, numa demonstração de que a sua posição se encontra em consonância com a ordem natural das coisas. Essa âncora é fundamental em qualquer ideia que se proponha a ser mais que passageira, mais que mera expressão de vontade individual. Que significa fazer o Bem se não for cumprir a nossa natureza e a natureza das coisas? Que significa o Bem sem um referencial maior?
A fragilidade do Bem que não está ancorado, justificado, a algo mais profundo é o caminho mais rápido para o vazio. O vazio é o caminho mais rápido para a doutrina do mais forte, que é a antítese da concepção verdadeira de Bem que encontramos no conflito eterno de Sócrates e Trasímaco. É o triunfo deste último...
Etiquetas: Conservadorismo, Pensamento Tradicional
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