quarta-feira, setembro 08, 2004

Aprofundando…

Em Portugal criou-se apos a transiçao espanhola a ideia de que a monarquia poderia ter sido uma soluçao para a liberalizaçao do regime. Foi criada a ideia de que era possivel uma monarquia que convivesse com o Comunismo e o Esquerdismo Revolucionario, como a que existiu em Espanha, quando sabemos que a grande parte dos monarquicos de entao eram fervorosos anti-comunistas, que so nos anos 70 e 80 foram convertidos aos disparates pluralistas e democratistas vigentes, embora em geral fossem mais liberais que os ultras do EN.
A democracia não era vista com qualquer valor proprio, quer pela direita quer pela esquerda, mas apenas com uma moeda de troca com a Europa e os EUA. Quanto mais autonomia pretendessem dar a sociedade civil, mais probabilidades de sucesso teriam no Jogo de Poder das potencias mundiais. Ganhou quem mais cedeu, quem tinha menos principios, Mario Soares.
Poderiam os monarquicos ter cedido a tanto?
Deveriam os monarquicos ter cedido tanto?

Ter uma monarquia para ter uma republica com rei, como o foi no pos-1834, so tem valor residual, por trazer uma ideia (quase minima) de continuaçao historica da naçao.
O problema parece residir mais no que Castela Santos observou nos seus comentarios, no seguimento das teses de Vico, Burkhart, Voegelin e Moncada. A Modernidade e fruto de uma degenerescencia existencial e espiritual dos povos europeus, que interessa combater, e impossivel conter (como demonstra o exemplo de Salazar e Franco) sem um recrudescimento e um regresso do espirito (não apenas religioso…).
Donoso Cortes observou bem a natureza do problema no Ensayo, ao identificar e estabelecer a analogia entre as formas de governo e as formas religiosas.

Não acredito que Salazar tivesse tido oportunidade de restaurar a monarquia.
Primeiro porque ela não tinha capacidade, na altura, para ser democratica.
Segundo porque seria vista como filha do Estado Novo e destruida por um golpe esquerdista e democratista. Isto deve-se a incapacidade de resolver a questao colonial, que esta era a grande fonte de discordia entre Estado e Povo.
Terceiro porque o Povo já não tinha uma identificaçao com as praticas espirituais da monarquia portuguesa (não, não e ir a Igreja). Já não toma o Rei como representante da Ordem, do interesse da colectividade (ideia substituida pelas concepçoes privatistas da democracia relativista), da sua caminhada no tempo para alcançar a Virtude, simbolizada pela sua Cultura.