Uma Auto-Estrada Para Damasco? (I)
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Eu só a segui na deserção.
Demorou tempo até que voltasse a crer... O cepticismo é uma existência terrível. É a mais abjecta mentira do Homem. O Homem finge não crer, quando não faz outra coisa! Passa a acreditar na banalidade, numa soma de todos os disparates. Se o céptico o fosse realmente não falaria com ninguém, pois tudo seria susceptível de ser uma imagem falsa, e a própria linguagem seria um instrumento do Erro...
A enorme falsidade de que a estrutura metafísica é irrelevante na definição do “político” é facilmente verificável nestes casos.
O céptico tem uma concepção do Bem, infundamentada, mas real. Nada do que possa dizer pode justificar a sua preferência por um tipo de existência. E, contudo, crê!
Esta estranha mentira pode ser traçada à posição panteísta-democrática de Espinoza. Suscita a Dúvida Fundamental, destruíndo as bases de qualquer fundamentação, mas alia ao indivíduo uma característica mágica de obtenção de verdade, uma imanência.
A necessidade que Espinoza teve em relacionar a democracia e a verdade, em fugir a uma pós-modernidade precoce, revela bem a impossibilidade de uma comunidade alheia à verdade. Ideia prosseguida por Rousseau na sua Vontade Geral e na identificação desta com a Verdade Divina, este posicionamento precede a divinização da comunidade hobbesiana, o nacionalismo romântico alemão e o comunismo!
É por esse facto que até o niilista mais radical tem um ideal...
Por isso se pergunta a alguém se determinado evento é justo, se tal sociedade é justa, se tal acção é conforme à justiça, há sempre um palpite, uma achega, uma ideia superior à vontade, ou uma vontade que conduz a algo superior.
A sociedade sem metafísica é uma impossibilidade maior que a sociedade sem classes.
Uma mentira utópica sem precedentes...
Quem se interessar pela questão pode ler este “Are Non Theocratic Regimes Possible?” de Rémi Brague.
Etiquetas: Pensamento Tradicional
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