quinta-feira, abril 27, 2006

Recordar, Continuar, Viver

Recordar Salazar não é recordar uma pessoa, uma instituição, um evento...
Recordar Salazar é homenagear a continuação. Uma aventura que se respeita, a vontade de aperfeiçoar, de a aproximar mais de um ideal.
Outros acharam que Portugal não era mais que o conjunto de seus interesses, que haviam de ser vergados à sua vontade. Mais, outros achavam que Portugal poderia o conjunto dos desejos da população... Como se um objecto fosse apenas o que nós queremos dele fazer. Como se o homem fosse apenas o que deseja ser...

Incorruptível e fiel à Nação, o imaterial conjunto de laços entre povos.
Defensor da verdadeira liberdade dos homens, a sua inserção numa estrutura moral que impede os homens e os povos de cair no vazio.
Fomentando as virtudes que nos permitem viver em conjunto e que comandam as virtudes privadas, o homem sabe que faz parte de uma experiência superior, que pode julgar, concordar ou discordar, mas a que deve prestar contas... ou desertar.

Homem-de-Estado de excelência, foi um dos últimos políticos de princípios e de fins, para quem o Poder não era negociata, ou jogo de interesses.
Homem de serviço por, muitas vezes contra a corrente, defender o impopular.

Repito aqui um dos melhores momentos deste blogue, da pena do BOS, que ilustra bem outros tempos, outras mentalidades e uma forma séria de zelar pelo Povo...

"No Estado Novo, a política de "comes e bebes" estava descentralizada. Cabia aos governadores permitir ou proibir, observados certos trâmites legais, a circulação das diferentes marcas.A representação da Coca-Cola para Portugal foi negociada no final dos anos 20, em plena Ditadura Militar, tendo o empresário encomendado a campanha ao (também) publicitário Fernando Pessoa. Este criou o célebre 'slogan': «Primeiro, estranha-se; depois, entranha-se.»Ora, a legislação da metrópole proibia a venda de bebidas que não divulgassem os seus ingredientes — o que era precisamente o caso da Coca-Cola. Apesar disso — e face à insistência dos americanos, que não desamparavam a loja — o ministério da tutela mandou que o escuro e gaseificado líquido fosse submetido a exame bacteriológico no Instituto Central de Higiene, hoje Instituto Dr. Ricardo Jorge, dirigido então pelo conceituado higienista. Ricardo Jorge defendeu a proibição do produto, arguindo que o mesmo continha elementos susceptíveis de provocarem habituação. O próprio 'slogan' de Pessoa inculcava tal ideia. E aí a Coca-Cola foi definitivamente reprovada.

O que se passou nos anos seguintes está ainda por escrever. Há testemunhas ainda vivas de tentativas de suborno de altos funcionários da adminisrtação publica portuguesea por parte de agentes da empresa norte-americana e quadros da embaixada estado-unidense. E quando os americanos,habituados a dobrar com metal sonante as renitências dos adversários, e mal aconselhados sobre o feitiozinho "rural" do Presidente do Conselho, tentaram subornar (!) o velho estadista, este tomou uma decisão enérgica: com ele no poder, a Coca-Cola nunca seria comercializada em Portugal. Melhor dito: na metrópole, porque outro foi o entendimento dos governadores das antigas províncias ultramarinas, o que dá um quadro pitoresco do tipo de 'ditadura' que por cá imperava!...

A coisa ainda está por esclarecer... Os governadores consentiram na comercialização do produto por não terem institutos de salubridade pública que analisasse o líquido? Ou, por acinte, quiseram exercer os seus amplos poderes "autonómicos"? Ou foram comprados pelos americanos? Esta história da Coca-Cola costuma ser referida para demonstrar a tacanhez provinciana do antigo regime. Há outros indicadores mais eficazes ao propósito. Se alguma coisa prova esta história é que houve uma altura em Portugal em que as decisões se tomavam com base no "interesse público" e não em cambalachos entre empresas e governantes. Hoje em dia, neste Portugal aberto e modernaço, se um "jovem empreendedor" conhecer as pessoas certas e fizer a transferência adequada para a conta da Suíça, até pode estabelecer-se no negócio da droga, quanto mais no da Coca-Cola..."

Etiquetas: