segunda-feira, março 13, 2006

O Regresso de Creonte

Nunca me congratulo com a morte dos homens. Perde-se nela a última hipótese de redenção...
Milosevic foi um tirano, na mais verdadeira acepção da palavra. Fomentou uma guerra evitável, em defesa de uma unidade política contra-natura, que não era mais que um projecto de sobreposição dos sérvios aos restantes povos da federação jugoslava.
Para um reciclado o credo é de segunda importância. O Poder sempre foi mais importante que o que fazer com ele. No meio e acidentalmente, acertou na defesa intransigente do património histórico sérvio que é o Kosovo...

O facto de eu achar Slobodan um canalha não implica que seja um obtuso defensor da ordenzeca “ocidental” dos tribunais internacionais. Não serei comendador como o Esteves Martins que afirmou na RTP que a possibilidade de Milosevic ter sido assassinado era pouco mais que fantasiosa...
As estranhas movimentações do “processo” (à falta de melhor termo) levantam todo o tipo de suspeitas e se não tivesse sido o dito, mas o famoso Bibi da Casa Pia, ninguém aceitaria a palavra das autoridades...

O mais interessante é a forma como querem fazer crer que a autópsia, onde quer que esta seja realizada, pode revelar alguma coisa. Esta não é obra de uma mulher zangada que coloca raticida na sopa do marido, ou de uma associação criminosa que pretende eliminar a concorrência! Quem quer que cometesse um crime desta monta não iria deixar pistas detectáveis. E nós ainda de rabo para o ar a olhar os destroços do avião de Sá Carneiro e Amaro da Costa...

O mais grave, para além do barulho acusatório e do silêncio dos inocentes, é a forma como, sob a maior das naturalidades, alguns se consideram possuidores do cadáver de Milosevic. Após a morte extingue-se o perigo da acção directa de um homem. Essa é, sem qualquer dúvida a grande libertação...
O grande traço do totalitarismo é a forma como não encontra limites na morte. A injustiça de cuspir no adversário moribundo, a “guerra total”, impedir que um cadáver seja restituído à família, são injustiças porque vêm do ódio e não da vontade de restabelecer a ordem das coisas.

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