segunda-feira, dezembro 19, 2005

Direitas de Geometria Variável

Tinha a tirada do Manuel destino certeiro. De facto não tive ocasião de comprar O Diabo desta semana. Li portanto com muito interesse a trancrição do artigo de Miguel Castelo Branco sobre a problemática da direita.
O que eu vou dizer irá inevitavelmente sair mal. É risco que terei de correr, sob pena de não dizer o que devia, violando, talvez, dessa forma a serenidade que o MCB me imputa.

Tenho enorme admiração pelo percurso de MCB. Penso que a Nova Monarquia terá sido a mais interessante aventura política depois do 25 de Abril. Terá certamente padecido dos males próprios da juventude, males que seriam também a sua principal fortaleza...
Era um projecto ancorado numa perspectiva cristã e tradicional, num “reaportuguesamento” de Portugal, com apelo não só a católicos, mas a todos os sectores e correntes da direita tradicional e conservadora. Um projecto que não seria descabido hoje... como não foi ontem, nem será amanhã!

Acredito que MCB tenha mudado de ideias. O tempo e o amor às coisas do mundo estão sempre sujeitos ao desânimo. As paixões de juventude têm por hábito degenerar em ódios imorredoiros. O idealista de ontem é o pragmático de hoje...
É por isso que vejo nesta prosa enorme desencanto, o que não me preocuparia se não visse que existem no texto implicações graves para a estruturação de um pensamento tradicional português para o nosso tempo!

O problema da posição exposta por MCB é a posição panglossiana, como disse o Dragão (eu diria hegeliana-historicista), do problema.
A ideia de que se a discursividade política dos nossos dias se encontra num ponto e que esse deve ser o fulcro das direitas e esquerdas tem, irremediavelmente, consequências nefastas para qualquer tipo de doutrina...
Primeiro porque a existência desse fulcro é um mito. A sua validade é exactamente a mesma que os chavões da “opinião pública mundial”... Não há uma opinião pública mundial, nem europeia, nem portuguesa! O que há é um conjunto de estruturas e de tradições intelectuais que permitem o estabelecimento de um argumento racional sobre algo.
Ora, a existência desse ponto fulcral só existe no sentido em que os homens o realizam. E determinar a acção mediante a actuação dos outros é uma posição insustentável que conduz inevitavelmente a altruísmos éticos ou a colectivismos (morais onde o imperativo é a 3ª pessoa) que redundam no totalitarismo.
É esse mesmo totalitarismo, na forma hegeliana, a que MCB faz apelo da “direita moderna”, como a direita que aceita a o “espírito da época”.
Infelizmente, como Burke bem observou, não existe nada mais dentro do espírito do nosso tempo do que o Republicanismo onde o povo dispõe a seu bel-prazer dos governantes. Terá a direita de ser republicana, ou de ter monarcas electivos?
E essa reserva da vontade individual não é uma das grandes vitórias da esquerda? Porque passará e segundo que critério a ser uma posição de direita?
Infelizmente a abordagem do “espírito do tempo” aplicada ao pensamento político é uma fórmula vazia e que não serve de guia a qualquer fundamentação da acção humana. A observação das realidades do nosso tempo é importante, mas apenas como diálogo de 2º grau, com a importância da aplicação prática e não da fundamentação...
A inversão e a justificação do fundamento através da prática encontra-se já no domínio do erro maquiavélico e da inversão errónea da sua filosofia.

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