Os Jogos de Palavras
Há uns tempos no blogue Inconformista, Rodrigo N. P., publicou um artigo que falava sobre o Nacionalismo e a Direita Anti-Revolucionária. É quase um manual para o nacionalista de hoje, moderníssimo (ultra-moderno, aliás) que corta a direito e vai directo às preocupações do homem actual. Caminha no sentido da actualidade em todos os sentidos, incluindo na superficialização de conceitos e na incapacidade de alcançar sentidos nas palavras que ultrapassem a superficialidade momentânea.
O Nacionalismo (como apanhou bem o GdR) a que o autor se refere, corresponde a uma situação em que a adesão política vai para a comunidade, independentemente do que esta defende e acima de toda a actividade especulativa. Se não existe Nação numa situação em que a comunidade se articula em torno de valores exteriores a si, ficamos a saber que Portugal nasce com a I República e que até então seria uma outra coisa qualquer. Isto já diz muito sobre esta forma de nacionalismo.
Depois vem uma enorme confusão. Diz o Rodrigo N. que o Contra-Revolucionário luta por uma comunidade jurídica e que o nacionalismo que perfilha se guia por um critério histórico. Se este erro é comum, não é certamente menos disparatado. Ao longo de toda a Época Medieval não existiu qualquer teoria que tenha defendido a defesa do Rei ou da comunidade política apenas por esta ser a sua. Pelo contrário, a filosofia política medieval supreende o homem moderno pelo seu constante apelo a critérios que são extra-jurídicos. A comunidade jurídica deve existir porque serve finalidades que são maiores que a própria e o Direito serve para as proteger. Ninguém diz “defende o teu Rei ou o teu país porque eles são o teu Rei e o teu país”, mas tenta munir o homem de critérios para que encontre a acção justa (saber que Rei servir vem da capacidade de compreender a melhor ordem política). Ora quem usa esse argumento são precisamente os defensores da modernidade que dizem “o que é justo é aquilo que a comunidade ou o Rei te dizem”. Muitos até dizem que isso é ser contra o “abstracionismo universalista”...
Todos percebem o que o autor quer com isto e a confusão desemboca onde todos (menos o autor do escrito) já perceberam irá dar. Se o “verdadeiro nacionalismo” está acima da especulação, não se percebe qual é o critério acima do jurídico ( que expressa a vontade da comunidade) que poderá ser “histórico e étnico”. Há uma inconsistência grave e elementar em todos os que dizem que a comunidade é o critério e depois desatam a dar-lhe os seus critérios. Se assim fosse, não deveria o RNP aceitar os critérios que lhe são dados pela presente comunidade e aceitar as suas leis (a imigração p.ex.)? A não ser que se encontre inserido noutra comunidade, mas isso de comunidades imaginadas é um instrumento de poder, como dizia o Anderson. Habitar comunidades imaginadas e falar contra a abstracção é caso estranho.
Compreendo bem que o autor se encontre mais identificado com alguns figurões do século XX do que com os construtores da Nação Portuguesa e é precisamente por isso que não entendo o tom da coisa. Não há aqui nada passível de ser confundido.
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