domingo, setembro 30, 2007

O Dilema Moderno de Tocqueville

























"Se o Estado é secular e laico, não há qualquer razão para que se prefira o amor dos filhos, o sofrimento da vida, a uma vida com drogas e envolvida no falso afecto de uma prostituta."

O mui estimado André Azevedo Alves pegou na minha frase e afirmou a sua discordância com a minha posição. É preciso referir alguns pontos.
Primeiro que tudo é preciso que se compreenda o registo em que foi feito. Quando fiz a afirmação, não disse (como parece pela leitura descontextualizada) que as pessoas só podem seguir a lei ditada pelo Estado, como o fazem algumas tendências positivistas no seio da Direita e do pensamento conservador mais germanizado. Pelo contrário... Escrevi várias vezes que ao domínio político não interessa a repressão do pecado (como nas ordenações comunitárias teocráticas), mas a repressão dos erros politicamente relevantes e perigosos. Existem várias razões para orientações morais meramente privadas ou extra-políticas e que em nada respeitam à sociedade, excepto no momento em que estas se transformam em ordenações paralelas. Não me preocupam os que decidem desonrar pai e mãe, os que se decidem por viver de forma homossexual, os que levantam falsos testemunhos, excepto quando decidem incitar à sua forma de viver, em oposição aos sãos fundamentos da sociedade. Creio ser essa a diferença entre uma Comunidade Livre e uma que não o é. Uma sociedade com Liberalidade (uma virtude) e não com Liberalismo (uma ideologia)...
A minha afirmação ia, evidentemente, no sentido de promoção da virtude e da moralidade, sem o qual nenhuma sociedade pode existir. Disto nenhum liberal poderá sequer fugir... Não passa pela cabeça de ninguém que exista uma sociedade liberal onde ninguém faça a apologia da Propriedade e onde esta não se encontre plasmada na lei ou num ideal educativo. Pode-se fechar os olhos e dizer que a maioria da sociedade preferirá sempre um sistema liberal e de propriedade, mas o facto é claramente desmentido pela história ocidental.
A pergunta mantém-se. Num Estado alegadamente desprovido de concepções religiosas ou metafísicas (algo que é manifestamente impossível e falso), em que é que um padre é diferente de um angariador de prostituição ou de um defensor da eutanásia? Não estarão todos a lutar pela sua concepção de “vida boa”? Não merecem todos o mesmo tratamento?
Responda quem quiser, justificando...

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Nacionalismo Demokrático














Pediu-me o amigo Democrata que comentasse este seu texto. É difícil comentar sem saber o que o autor pretendia. Falo, então, por mim.


Toco um ponto muito importante. A questão da "Verdadeira Vontade da Nação". O que distingue entre o bom e o mau nacionalismo é, segundo o texto, o que a aceita, ao contrário do ideológico, que inventa uma predeterminada concepção como finalidade que preenche a Nação.


Resta saber que verdadeira Vontade é essa. Se a Vontade é algo diferente do Bem Comum então estaremos perante uma democracia, algo de que tenho que discordar. Na supremacia da Vontade a norma política encontra-se nos desejos da população, no Bem Comum situa-se no seu bem efectivo. Imaginemos que um grupo de pessoas se encontra numa viagem e que tem dois caminhos. Para a esquerda tem um caminho que o conduz a armadilhas e a uma morte quase certa. No trilho da direita tem um caminho seguro. Ainda que todos tenham vontade de ir pela esquerda, o seu bem reside no caminho da direita. Ou a norma se encontra fora da vontade dos indivíduos, ou encontra-mo-nos no interior do paradigma "sinistro".


Se a questão é de vontades, o que impede que a vontade verdadeira da comunidade possa abolir a família, o município, a corporação?


Não sei quão liberal o meu amigo é, e se considera que a existência de um Bem Comum faz parte das abstracções que devem ser combatidas... Creio estar aí o centro da questão.

Até Breve

Acho que quase toda a gente já disse o que eu tinha para dizer acerca da partida do Miguel Castelo-Branco. Espero que nos continuemos a encontrar por aqui neste Portugal sem forma que é a nossa blogosfera...

sábado, setembro 29, 2007

O Amor ao Tirano

















O ódio do Tirano ultrapassa a morte. Não quer impedir o mal, não quer desarmar o agressor, não pretende fazer o necessário para restaurar a Justiça. O Tirano pretende arrancar a alma do inimigo, porque este é a sua razão de viver, porque se alimenta do ódio. O Cristianismo veio mostrar que Creonte era tirano, por tentar aplicar a sua justiça humana à alma de Polínices, ao tentar condenar não a sua vida, mas toda a sua existência. Muitas vezes não conseguiu controlar os cristãos (os homens estão sempre sujeitos à tentação do Pecado), mas foi sempre clara quanto à doutrina e à necessidade de arrependimento perante o Erro. Não há razão para não perdoar o inimigo subjugado ou caído, não há razão para não alimentar os adversários que perderam a capacidade de fazer dano, restituindo a justiça como se de um irmão desavindo se tratasse.
Uma morte é sempre uma morte, mas o homicídio é mais grave quanto maior é a gravidade moral do crime. O condutor negligente não é o mesmo que o que mata os pais para comprar um carro com a herança. O homem que se vinga da alma de um morto comete um crime mais grave, porque deste não vem restituição material que lhe alimente a inveja ou a ganância. O ódio constitui a essência do seu ser, e não espera nada mais que o seu cumprir.
O Tirano sempre se rodeou dos que não acreditam em nada. Para estes a tentativa de “matar a alma” é, ou não, um erro tático, um acto prejudicial que mancha a causa, mas nunca é um mal. Esse é o drama eterno dos que não acreditam em nada, condenados a ver tudo segundo as suas conveniências, preparados para serem mártires das causas de outra convergência de poderes do Tirano, mas sempre na esperança de que o triunfo final seja seu.
Não é verdade que os que partilham o leito com o Tirano sejam incautos. Conhecem-lhe a História e sabem que o que o separa dos crimes e massacres é o tempo e a oportunidade. Dizem que o Tirano nunca matou, sabendo que à primeira oportunidade voltará a fazê-lo, prontos para apanhar as migalhas do saque e, se possível, vencê-lo no seu próprio jogo. Acham-se melhores que ele por receberem os Sacramentos, esquecendo que outros assassinos também os recebem.

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sexta-feira, setembro 28, 2007

Celebrar Eliot

Fê-lo aqui o Réprobo no seu aniversário.
Leia-se também Scruton sobre o Génio.

Voltou o Capitão do Ar!

Não Temos um PR

Temos um explicador de Economia...

quinta-feira, setembro 27, 2007

A Mentira das Meias-Tintas















A história do Catolicismo Moderno é a invenção permanente de razões compatíveis com o Mundo Moderno para que, sem fundamentos, se consiga evitar a total imersão na amoralidade. É por isso que, ao contrário de muitos, eu acho que o Vital Moreira e a República e Laicidade têm sempre razão. Apresentam-nos sempre loucura e amoralidade, mas em perfeita consonância com o que a generalidade da população e os bonitos princípios da Constituição que nos rege, defendem.
São os católicos que estão errados. Disso não tenho a mínima dúvida. Numa sociedade em que o Estado não tem qualquer directriz religiosa e se submete a legislar segundo os desejos da multidão, o laicismo e o secularismo são consequências lógicas e imediatas. A Igreja Portuguesa aceita, sem pestanejar, esta situação. O Senhor Dom Manuel Clemente acha que o secularismo e o laicismo são enormes progressos da civilização. Está no seu direito. Precisamente o mesmo direito que uma pessoa de outra denominação religiosa tem de se deslocar a um hospital e dizer a um moribundo para este tomar uma dose de morfina e evitar o sofrimento da vida, para gastar o legado da família em prostitutas e vinho, para se dirigir aos familiares de uma vítima de um acidente e lhes dizer “vão-se divertir e ganhar dinheiro, que ele há de se desenrascar!”. Tenho pena que não existam ateus em cada hospital, relembrando às pessoas que toda a agonia e sofrimento não têm qualquer razão, destinatário ou redenção. Hedonistas e ateus fariam bem em espalhar a Boa Nova sartreana.
Eles têm razão! Se o Estado é secular e laico, não há qualquer razão para que se prefira o amor dos filhos, o sofrimento da vida, a uma vida com drogas e envolvida no falso afecto de uma prostituta. Se o Estado não promove, nem possui, qualquer posição sobre as grandes questões do Homem, porque é que não devemos ter as senhoras da Clínica dos Arcos a exercer o seu direito à livre-expressão à porta das consultas de obstetrícia das maternidades de todo o país. Porque é que não temos as senhoras do “Barco do Aborto”, ou livros do Peter Singer, a incentivar à morte de crianças dentro da Alfredo da Costa? Estas senhoras têm outra visão do que é a vida humana que, segundo esse Estado acéfalo e hiper-tolerante e esse progresso civilizacional do mundo moderno, é tão aceitável como outra qualquer. Nunca encontrei qualquer resposta para estas perguntas...
O Senhor Bispo do Porto afirma que há duas formas de laicidade. Uma positiva, que respeita as religiões todas e uma negativa, que acha que a religião é matéria individual. O problema é o mesmo... como podem ser toleradas todas as posições religiosas? Isso levaria a que as pessoas que têm posições religiosas que toleram o Aborto, a Pedofilia ou o Homicídio de Infiéis, tenham de ser toleradas, possam agir como desejam e possam espalhar a sua mensagem livremente (o Estado não deve imiscuír-se na religião da sociedade, segundo diz). A comunidade fragmentar-se-ia num multiculturalismo amoral. Cada um agiria segundo os seus desejos, escolhendo a religião que melhor satisfaz os seus desejos. Calculo que o Senhor Bispo do Porto não veja mal nisto, à luz desse progresso civilizacional que consagra o divórcio entre o Político e o Religioso.
A bem da Cultura da Vida, defende-se a sua paridade com a cultura da Morte e apresenta-se o facto como “real ganho da história e da civilização”. Esta Igreja fala por cifras, conta meias-verdades e apresenta-as como triunfos, como se já houvesse tornado às Catacumbas...

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Aqui Está!

quarta-feira, setembro 26, 2007

Um local a descobrir

Já conhecem a Velha Ordem?

Mulher de Fibra (boa para limpar a tripa)















Só aqui falei uma vez de Fernanda Câncio. Acho sempre um desperdício de tempo falar de uma pessoa que não tem obra, que não tem um algoritmo de pensamento, que não tem os conhecimentos desejados para qualquer aluno de 1ºano de uma qualquer faculdade. É uma pena ver gente inteligente a perder o seu tempo com uma pessoa que é conhecida por algo que simplesmente não é relevante.
Há, contudo, uma ideia profundamente genocida no pensamento de Fernanda Câncio e que corre o risco de se disseminar pela sociedade portuguesa. Diz a senhora que um acto terrorista num país onde não existe democracia, não é o mesmo que num país onde esta impera. Raciocínio notável! Estava perfeitamente convencido que o Terrorismo era a morte de pessoas não-combatentes e que o carácter particularmente gravoso desse crime se devia ao seu carácter indirecto. Atinge-se uma pessoa para instilar o medo nos outros. Mais estranho que isto, é que a Senhora Câncio, para além de não saber escrever, não sabe pensar. Ela que foi contra a intervenção de Bush no Iraque, acaba a santificar o mesmo princípio que a legitimou. Se a imposição de um regime democrático justifica a morte de inocentes (um Rei não representa mais ou menos o Estado que um Presidente ou um polícia ou um juíz), os EUA (ou qualquer outro país) têm todo o direito a fazer guerra ao mundo não democrático. Mais uma vez se prova que uns e outros são faces diferentes de uma mesma patranha.
Há um problema grave. Se os Reis de Portugal estavam feridos de ilegitimidade por não serem democráticos e igualitários, Portugal nasceu em 1910? Mas a I República não era mais democrática que a Monarquia Liberal... Nasceu em 1974?
Neste torrão de Europa, a Câncio é a jornalista do futuro...
E você, já foi buscar o computador e telemóvel que o Governo tem para lhe oferecer?!

A Gaia Ciência

A meio do século passado, uns quantos pensadores utópicos achavam que o conhecimento residia no quantificável. A Ciência Política andou presa a sondagens cretinas e mal realizadas, por desprezarem a importância da filosofia e teoria em todo o saber...
A cretinice ainda anda por aí à solta. O exemplo vem deste artigo pretensioso e absolutamente descabido, mascarado de neuro-psicologia-política.
A coisa é montada da seguinte forma: Há pessoas que são mais conservadoras (não gostam de arriscar) e outras menos e tudo depende da forma como o cérebro está estruturado. Vai daí, aplica-se isto à Ciência Política. Os Conservadores (a malta da direita) são possuidores dessa característica (o medo de arriscar) e os de esquerda são uma cambada de aventureiros. Este pensamento tem a profundidade de uma poça na estrada, como se a a posição política de alguém fosse aferível pela forma como joga no casino.
Quando se fala de Conservadorismo não se está a falar de uma tendência, de ser cauteloso, de gostar de pesca (como dizia o outro). Tal implicaria que a estratégia "maximin" de Rawls seria a grande apologia conservadora do século XX.
Mais uma grande vitória para a Ciência!

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terça-feira, setembro 25, 2007

Um Apontamento Constitucional















Li com atenção esta apologia do Neo-Cartismo realizada pelo Luís Aguiar Santos. É interessante e coloca as questões (no enquadramento nacional) que eu aqui tenho vindo a levantar a propósito das contradições internas do liberalismo e dos liberais portugueses.
Se a Carta é, em termos formais e de conteúdo, um documento constitucional menos mau que os outros, porque se funda num acto extra-popular (não falando da ilegitimidade que o fere, obviamente), este também representa uma interpretação liberal de uma História que não o foi. Se representa, de forma interessante, alguns dos direitos essenciais do povo português, não apresenta a essência do que é uma comunidade política, os seus vínculos morais.
Para além da total discordância do Poder Moderador de Silvestre Pinheiro Ferreira, uma invenção que desmente o carácter tradicional do documento, sobra a parte mais importante. Onde se encontra a inviolabilidade, o núcleo essencial, do documento? De forma curta e seca, onde reside o substrato moral e civilizacional, que Burke denotou como essencial a toda a sociedade ordenável?
Toda a apologia da Separação de Poderes é interessante, mas é desmentida pelos nossos dias. Ao ler um artigo do Senhor Dom Duarte ao Magazine de Grande Informação, fiquei com a clara sensação de que se houvesse monarquia em Portugal, esta seria tão democrática que se oporia à vontade popular na questão fundamental do Aborto. O que significa que, mesmo estando separados os Poderes, o paradigma moral que os envolve é o mais importante e é a única arma contra a degeneração da vida comunitária.
Essa é a parte mais importante, porque é a porção da política que impede a existência de um consenso que oprima os que não têm representação. A verdadeira liberdade está aí.

sábado, setembro 22, 2007

Verdades Difíceis
-A Caminho da Verdadeira Servidão-





















Ficou meio mundo indignado com as declarações do Cardeal Joachim Meisner, por este ter afirmado que "Quando a cultura não está ligada à veneração do divino, o culto cai no ritualismo e a cultura degenera. Perde o centro". Toda a classe política alemã (a mesma que pactua com esta nojeira!) fez questão de se indignar com as declarações do Cardeal, que ainda mencionou que uma sociedade que se encontra descentrada irá incorrer nos erros do passado, no nazismo e comunismo.

Quem ler esta notícia do DN, não pode senão ficar estarrecido com o que se diz. Não se percebe (ou percebe-se bastante bem, até) porque razão é que se fala em elogios ao Nazismo que pertencem a outra história totalmente diferente. Não se percebe se o problema está na condenação do nazismo vir da Igreja e perigar o monopólio da esquerda, se está na forma como cada vez mais só é permitido ter pensamento, quando este se encontra minimizado pela ausência da pretensão em ser mais do que uma perspectiva pessoal e momentânea.

Toda esta histeria é um sintoma dos nossos tempos, mas é particularmente ilustrativa da forma como uma sociedade liberal, castrada de valores concretos. O próprio John Locke, que fez uma curiosa apologia de uma tolerância que hoje enche as bocas de todos os ignorantes que se acotovelam para comer à mesa dos “grandes” , sabia que esta teria de terminar, forçosamente, nos católicos. A razão é simples. A Doutrina Católica não acredita que as esferas política e moral existam de forma separada, que a política possa fazer algo que não seja impedir o Mal e promover a Justiça.

A solução para o Político remeter o Catolicismo para a esfera da crença privada foi o Modernismo de que Maritain foi o máximo expoente, que postulou a total independência da esfera política. Segundo esta perspectiva a política tem uma dimensão própria e dependente apenas da vontade dos cidadãos (em perfeita consonância com o que aqui transcreve o AAA), em clara oposição com toda a Doutrina da Igreja que sempre concebeu a justiça como matéria pública e não matéria privada de expressão pública.

Nunca percebi como pode um Católico saber que a Doutrina Religiosa que o anima defende estas posições e desprezá-las em função de uma liberdade individual (autonomia) que surge com a tentativa de destruír tudo o que a Igreja significa, nem sequer percebi como é que se pode aceitar que estas posições “modernistas” se tornem maioritárias, mesmo quando em total contradição com a Igreja. Ao contrário do que muitos pensam, a Tradição faz parte da Revelação e não é substituível por um conjunto de apreciações de pensadores modernos que contradizem essa linha. Isso simplesmente não é Catolicismo.

Nem o liberalismo, nem o modernismo-católico, são soluções para o que quer que seja. Se um modernista-católico aceita a injustiça do político, simplemente porque deixámos de ter uma sociedade de cristãos, só posso dizer que esse é um pensamento frustrado, porque nada pode criar. Quando esta posição se cola ao pensamento liberal e à sua apologia de que a educação para o satanismo, para o hedonismo, para o homicídio, é uma questão privada ou de defesa do interesse estatal, é evidente o factor que predomina nesse pensamento, em clara oposição a dois milénios de história. O totalitarismo liberal é tão mau como os outros...

Resta aceitar, que é sempre a parte mais difícil...

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sexta-feira, setembro 21, 2007

Quanto À Carta Policarpa

"Assim, das duas uma: ou Dom José Policarpo não sabe interpretar um texto que também o tem por destinatário, o que é pouco provável; ou, então, está em flagrante e deliberada desobediência a Bento XVI, o que já se nos afigura muito plausível, e em perfeita consonância com a sua prática modernista."

quinta-feira, setembro 20, 2007

Constitucionalismo Tradicional (II)




















É frequente ver comparar o liberalismo de Hayek e de Burke. Se é verdade que à superfície existe uma semelhança evidente, existe um grande desconhecimento das fontes da posição “whig” de Edmund Burke, que provém, essencialmente, de todo um século de interpretações pouco profundas da posição do anglo-irlandês.
A recepção novecentista de Burke foi, salvo raras excepções, incompleta (também por alguma incapacidade de acesso à correspondência de Burke), tendo dificuldades em enquadrar a posição das Reflexões com a prática de uma vida de prudência política e da mesma como arte conciliatória.

Os autores conservadores que Hayek aqui menciona, foram leitores de Burke, mas procendendo a uma leitura de um Burke utilitarista, pragmático, liberal, convencionalista. Para estes, Burke era um defensor da História contra a Teoria, da Tradição contra a Especulação, do Experimentado sobre o Novo. Há nisto um fundo de verdade, mas uma verdade superficial, que é incapaz de compreender a profundidade de um pensamento original, vendo apenas a parte que o identifica com eles próprios.
É evidente que se Burke fosse o mesmo que Hayek nunca teria escrito as Reflexões. Hayek não era um jusnaturalista, mas um convencionalista-utilitário e darwinista (ao bom estilo vitoriano). Acreditava que não existia nenhuma razão para conservar algo por si, mas pela forma como esse algo se reflectia na vida dos cidadãos. O liberalismo seria uma forma mais perfeita de sociedade e iria, portanto, sobreviver em virtude da capacidade que possuía de gerar o apoio. Não se ancoraria, portanto, em mais do que essa natureza da sua própria superioridade, ao contrário do que defenderam os jusnaturalistas liberais. Esta concepção encontra-se numa encruzilhada de várias tradições anglo-saxónicas modernas e de uma pincelada de Kant, mas que não é, certamente, a de Burke.

Burke fez questão de explicar que uma comunidade política que se rege segundo a Vontade, individual ou colectiva, está condenada à impossibilidade da Liberdade. Essa impossibilidade não é apenas a observada por Tocqueville de que sem Deus e a Tradição a propriedade é incapaz de ser preservada, mas que sem uma concepção do Bem como ordenadora da comunidade, todo o tipo de males e crimes estão ao alcance da santificação por via popular. Tal pressupõe, como daí decorre, a existência de uma ordem moral permanente e que compete à Comunidade preservar. Daí que Burke assuma a Liberdade não como uma esfera de autonomia privada, mas como a existência de um elemento que a postula e segura. Por isso existe uma moralidade que tem de ser consagrada constitucionalmente, não em virtude do número ou do apoio dos seus cidadãos, mas por lhe pertencer intrinsecamente. A Liberdade de Burke realiza-se na Virtude, porque esta é, sobretudo, estar livre do Mal e da arbitrariedade que este gera.

Dizia Pedro Arroja que tanto Friedman como Hayek nunca conseguiram explicar porque é que o “milagre económico chileno” não veio acompanhado de um regime de liberdades civis e políticas democráticas. O problema da Democracia foi diagnosticado há mais de dois milénios por Aristóteles. Este regime é oposto ao “governo constitucional” (a Politeia ou República), porque não aceita que exista uma legitimidade que não seja a Vontade Popular. Não aceitando que exista um limite aos desejos da população, aceita a inexistência de limites ao Povo. Este pode, se assim o desejar, tomar posse injustificada da propriedade de outrém (o Estado Social) ou mesmo retirar-lhe o Direito à Vida. Esse limite constitucional é o que permite o “rule of law”, porque onde quer que a população possa mudar a lei, não existe, em boa verdade, legalidade. Como Strauss bem notou, não há possibilidade de liberdade onde os indivíduos se considerem proprietários da comunidade. Não compreender esta oposição entre a Liberdade (quer a de Burke, quer a de Locke) e a Democracia das crias de Rousseau e Marx, é pactuar com o que está mal no mundo. Para isso já temos liberais de sobra cá no burgo...

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quarta-feira, setembro 19, 2007

Constitucionalismo Tradicional




















O Rui Albuquerque fez bem em colocar-me no meu lugar. Infelizmente não foi no lugar certo. Primeiro, porque o meu conservadorismo não é platónico, precisamente pela questão que aponta. Eu só imagino um “governo dos sábios” quando temperado por uma constituição, consagrada no poder real que o defende e constitui. Precisamente o oposto da posição da República e que conduziria Platão a “As Leis”. Esta posição posterior viria a ser a pedra fundamental da defesa da “bene commixta”, conduzindo ao fundamento da teoria constitucional tradicional de Aristóteles, Cícero e Políbio e que se sedimentaria na tradição republicana de Roma. Daí que, como Burke defendeu, exista como pressuposto fundamental do “conservadorismo” um elemento comunitário superior ao dos governantes, que subordina as pretensões e desejos dos que têm capacidade para governar. A explicação de Burke para a Revolução Francesa, como relembrou Kirk, era precisamente a revolta da “capacidade” contra a “propriedade”, a destruição da “constituição” em prol da “eficácia”, a vitória política d’A República sobre As Leis.
A posição conservadora é bastante clara e oposta a essa tendência. Eu não fujo, nesse aspecto, à regra e não engrosso, como os conservadores do liberalismo, as fileiras revolucionárias.

Considerar o Maquiavel do Príncipe ou o legado hobbesiano de Schmitt e do seu discípulo Freund,como elemento estruturante do pensamento conservador, é, no mínimo curioso. Estes são, aliás, proponentes da solução anti-constitucionalista e anti-tradicional. A própria dissociação política/moral é algo de profundamente estranho à tradição conservadora. Caso assim não fosse, o conservadorismo confundir-se-ia com fascismo ou o nazismo. Não é de estranhar a influência de Maquiavel no totalitarismo do fascismo, a aceitação do Reich por Schmitt, a participação de Freund na Nova Direita, que rejeitava todas as premissas do conservadorismo e também pretendia substituír a moral pelo Estado. Parece-me que o Rui A. fala de “direitismo” e não de conservadorismo, como tem vindo a ser moda nos últimos tempos em que os Partidos Populares e a Democracia Cristã são desta forma retratados nos jornais.

Lamento não pertencer às fileiras dos odiadores do Estado. Nenhum conservador pode sê-lo. Não defendo o liberalismo, nem me considero, ao contrário dos conservadores portugueses, descendente da complexada tradição comunitária do Mayflower.
A liberdade de Burke não é compatível com o convencionalismo hayekiano ou o jusnaturalismo secularista liberal. Há que escolher...

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terça-feira, setembro 18, 2007

Problema de Expressão

Porque raio é que o PM disse estar preocupado com o "Middle-West" e o canal público resolveu traduzir por Médio-Oriente? E se fosse o senhor que estava na outra cadeira?...

O Napoleão de Buckingham Palace





















O António Bastos relembra Diana de Gales e a sua amoralidade emotiva. É notável que nas sociedades em que se afirma o culto da autenticidade se defenda o total divórcio entre a pessoa e a pessoa pública. Diana é a epítome desse divórcio. Uma mulher que se tornou princesa, mas que recusou as obrigações morais e pessoais inerentes a esse estatuto, como quem renega uma família ou o seu país. Um povo ignorante que vê nas preocupações caritativas dos seus soberanos a fonte da sua obediência, à boa maneira da legitimidade napoleónica. A princesa não lhes dava moedas de ouro ou a vitória militar, mas o sonho da benevolência de mulher famosa. Gestos efémeros, uma carícia a uma desconhecida que os media amplificaram como condesador de toda a bondade do mundo, e lá vai a população a achar que a monarquia é andar a dar sanduíches às crianças...

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Orgânica e Essência

"Os sofistas governam o mundo desde a queda da escolástica. O homem no centro, como medida de tudo sem nada que o meça. O homem, uma medida sem medida para medir o Bem, a Justiça e a Verdade. É esta a realidade da cidade negra que construímos na modernidade. O individuo têm a potência de ser o mais forte, na sua existência relativa, e de gerar verdade, fazer verdade, relativamente. E não é enquanto membro social, mas enquanto ser independente, atómico."

Coisas que Abril Pariu

"Hoje em dia, mais alarmante que o excesso de estrangeiros em Portugal (isso, mais ou menos drasticamente, sempre se resolve) é a escassez de portugueses."
"Tudo o que seja preto complica-lhes com o entendimento, curto-circuita-lhes a mioleira. Seja primata, seja letra. Mas a letra ainda pior que o primata."

sexta-feira, setembro 14, 2007

A Conversa da Moda









É inacreditável que num país em que tanta gente fala de política, tão pouca gente perceba do que está a falar. O Conservadorismo é o maior exemplo desse diálogo surdo em que cada um está na sua e todos julgam falar do mesmo.
Não faltam os que dizem ser conservadores de feição anglo-saxónica. Apreciam-lhes o estilo aristocrático e a retórica romântica, mas não conseguem sequer perceber que, escondidas sob a fleuma e a estética, estão concepções profundas sobre a essência da comunidade. Pior, não percebem que por baixo da “patine” estão um conjunto de ideias, muitas vezes opostas e diversas, que se uniram por imperativos da luta pelo Poder. Estas alminhas acham que aquilo é tudo Porto e Xerez, quando existem ideias opostas dentro de uma mesma denominação. Só no século XIX houve correntes tradicionalistas (de Newman e do Oxford Movement), sociais (One Nation e Disraeli), modernizantes e liberais (Peel), vitorianos-pragmáticos (como Salisbury). Nos nossos dias não é menos assim, desde os liberais clássicos (thatcherianos), o conservadorismo cultural-moral (de Hitchens e Scruton), social-democrata e popular(de que Cameron é testa-de-ferro), o pluralismo (de Kekes), o hobbesianismo estático (dos discípulos de Oakeshott).
É tanto o disparate, que à conversinha de café não escapam pessoas inteligentes, que julgam, pasme-se, poder resolver o problema da articulação de duas ideias políticas com “o fim das ideias retrógradas contra a ciência” e a falta de sentido do “medo da internacionalização”. Isto assim, sem mais, tendo como única justificação o “estar ultrapassado” (faltando saber por quem e para quem), ficando sem saber se as leis de repressão da homossexualidade do conservadorismo social thatcheriano são compatíveis com o liberalismo, ou de onde virão as leis que não se encontram ao alcance da vontade popular (já ouviram falar de Burke?).
Estranhos são os tempos em que Hayek é visto como um grande pensador da política. Refugiado num convencionalismo darwiniano, Hayek acreditava que na sociedade nada era susceptível de se manter por si, que nada era digno de se conservar, excepto pela vontade e funcionamento de seus membros. Por isso afirmou não ser um Conservador. Não tinha interesse nos valores morais, em tradições, ou no papel real da religião (para além do seu carácter utilitário), não acreditava na existência de um bem comum, mas apenas na funcionalidade institucional. Só uma definição de conservadorismo se encaixa nesta concepção... A mesma que afirma que um comunista ou um liberal podem ser conservadores: O conservadorismo que não é uma ideia política, mas uma disposição. Ele sabia e avisou.
De resto, pode-se dizer o que se quiser. Que Burke alertou contra as “unintended consequences” toda a gente acha que sabe. Mas o que já não sabem é que defendeu, muitas vezes, reformas de fundo na administração e a criação de um sistema de administração da Índia nunca experimentado... Para quem seria um defensor da experiência e do costume não está nada mal. Que Burke defendeu a liberdade individual toda a gente se lembra, não se lembrando contudo do seu ataque ao “governo dos simples”, a sociedade governada por vontades contratuais do capitalismo-liberal.
Quando se fala em conservar, mas apenas se preserva aquilo que faz funcionar o mercado ou a autonomia individual, estamos perante uma ideia política que não é o Conservadorismo. O resto é perda de tempo.

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quinta-feira, setembro 13, 2007

A César Augusto






















Antes das minhas férias, o Dragão dedicou-me um texto a propósito da possibilidade de os Poucos melhorarem os Muitos. É sempre difícil responder ao Dragão, porque qualquer resposta parece sempre pastosa e sem graça. Ainda assim acredito que esta desvantagem poderá ser vantajosa.

Não acredito na possibilidade de mudança da Natureza Humana, porque esta é coisa permanente. Acredito, porém, que é possível aproximar os homens (que de facto o Homem é coisa que não existe...) dessa norma e que a grandeza dos homens públicos consiste na capacidade de compreender que a matéria condiciona a forma, mas que a forma (à boa maneira aristotélica) é tudo o que interessa pela capacidade de evoluír a matéria desordenada a um estado e ordenação superior.

Realizar a Natureza Humana não é transformar os homens, à boa maneira do Iluminismo, em sábios ou santos, mas conseguir adequar os homens à função que podem desempenhar. Em muitos casos a única coisa que podem esperar é a ordenação que os force a um grau de justiça limiar. Os Muitos nunca poderão ser justos no verdadeiro sentido da palavra (os que dispondo de total liberdade de acção, não procedem a crimes e que compreendem essa necessidade), mas poderão facilitar uma existência que permita uma vida em comum, que os impeça de voltar a almoçar os seus inimigos, de violar os seus filhos, de dizer tudo o que lhes vai na cabeça...
Diz o Dragão que se contenta em que o não piorem, sabendo, por certo, que esse tesouro a manter são os melhoramentos (a aproximação à Norma) de idades mais favoráveis.

Crendo que é possível mudar os homens, não podia ser mais desconfiado face aos tempos que vivemos, em que nos informam na crença de que a disformidade é o mesmo que a boa forma. Crer que existe aqui alguma ascendência ou descendência que é própria do tempo e não das forças presentes é tomar a parte pelo todo e conceder religião à materialidade.

É bem verdade que Cristo nos mandou amar o nosso semelhante, mas sempre como Ele nos amou. Forçando a bondade e colocando-nos no nosso lugar na Grande Cadeia do Ser, para que saibamos que os diferentes amores correspondem a diferentes lugares e diferentes deveres. O Amor é sempre encontrar o nosso lugar.

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Um Novo Blogue

Nacional Cristianismo

quarta-feira, setembro 12, 2007

Duas Sociedades

Dizia o Cardeal Newman, numa das mais profundas considerações sobre o “toryism”, que este era sobretudo a política feita “cara a cara”. A definição é precisa porque se coloca na antítese da política e da sociedade moderna, em que, sob o manto da emotividade, a política é feita para massas uniformizadas, que sob a ilusão da intimidade com os líderes julgam viver uma relação de verdadeira amizade, mas que assenta apenas numa receita estatística para maximizar apoios. O destinatário é uma abstração com características imputadas pelo orador e não uma pessoa concreta ou uma instituição de valores e bens definidos.
A primeira é uma comunidade em que vários “amores” geram instituições com valores, a segunda uma sociedade de abstrações em que a ordenação vem do vazio e da inexistência de pressupostos comuns.
É certo que a comunidade de proximidade corre vários riscos severos (nepotismo, sectarismo), mas a emergência do nacionalismo, do patriotismo, das virtudes cívicas, vieram servir para cimentar a colectividade, mitigando a degeneração. O século XX trouxe a possibilidade da política cara-a-cara à distância, expandindo as comunidades reais. O desempenho de cargos políticos que eram prerrogativa das famílias reais foram-se, ao longo da História, abrindo à generalidade do povo em virtude desta difusão do espírito de serviço às populações.
Continuo firme na minha crença de que esta difusão dos valores e da reflexão sobre a “coisa pública” são indistintos do pensamento tradicional e das suas finalidades. Mantenho a minha ideia de que a qualidade de uma organização social se prende com a qualidade da população e as virtudes e valores que a compõem.
Se a comunidade portuguesa tem na sua ordenação tradicional uma referência, é também claro que hoje não possui instrumento espiritual para essa realização, em particular num momento de decréscimo e erosão do patriotismo e em que o auto-interesse é encarado como forma de acção política legítima.
Perante isto a verdadeira virtude política fica ante a decisão fundamental de agir imperfeitamente, ou de ver Roma arder, de tentar uma ordem política que salve o essencial, ou deixar que tudo (ou mesmo o pouco restante) se perca.

terça-feira, setembro 11, 2007

Não Há Festa Como Esta!





















Terminou anteontem, perante a complacência do nosso arco constitucional, mais uma jornada de apologia do Totalitarismo e do Genocídio de Massas. A receita deste ano foi mais grave e mais ilustrativa que o costume. Jerónimo garantiu-nos que o Comunismo é o verdadeiro humanismo. Fê-lo com denodo tal que levou a coisa a sério e resolveu explicar. Humanos são eles... Desumana é a Zita! Estranho humanismo este que decide afirmar quem é Humano ou não. O Humanismo comunista é o contrário dos outros que partem do que é comum à Humanidade para a sua teoria. Para Sartre era a angústia existencial do vazio, da ausência de Deus e de destino. Para os Cristãos a sujeição à Natureza que Deus para o Homem destinou.. Para Jerónimo a Humanidade de alguém é ditada pelo partido. É evidente que este é o mesmo raciocínio que presidiu aos gulagues e aos campos-de-extermínio, mas aquela multidão não aprendeu nada com o último século e é pouco provável que aprenda com este, também.
É sempre agradável quando se celebra a Revolução de Outubro ao som de Prokofiev, sorvendo uma Coca-Cola e alarvando mais um hamburguer de uma multinacional americana. Como disse o organizador do festival de apoio ao Totalitarismo, a presença de multinacionais (vulgo grande capital) na Festa representa apenas uma relação contratual entre uma empresa e um partido político.
E eu que estava convencido que todas as relações eram relações de produção...

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Mercabá








Um novo local da Tradição, que irá, por certo, merecer muitas visitas.

terça-feira, setembro 04, 2007

Fiar-se
















Não são justas as críticas que apregoam que neste blogue não existe uma preocupação com a emergência de um Totalitarismo Imperial, assente no Progressismo e difundido através do sexualismo, da destruição da temperança, da ideia de que não existe medida para o que deve ser desejado, de que mais é sempre melhor.
Pelo contrário, sempre tomei como princípio essencial para a restauração da Humanidade a necessidade de reconduzir a técnica ao seu devido lugar, pelo que não me assustam as tecnologias, que podem sempre ser conduzidas para o bem e para o mal. Preocupa-me apenas que, neste momento, os homens bons não tenham acesso a esses instrumentos, dado que as comunidades de homens bons se podem contar pelos dados.
Tem, por isso toda a razão o leitor Pedro Salza que, como eu, toma a acção como definida pela obtenção das suas finalidades.
A dúvida do atento amigo Demokrata corresponde precisamente à inquietação perante o a questão das finalidades e a sua aproximação ao maquiavelismo moderno. A diferença entre Maquiavel e São Tomás nesta matéria reside na licitude das finalidades. Em Maquiavel e em todo o pensamento moderno, o homem não possui uma hierarquia de finalidades que lhe seja externa. É ele que, segundo o seu desejo, constrói as finalidades da sua acção, tendo apenas como limitação a existência de uma ordem-das-coisas que o Homem deve penetrar para submeter aos seus intentos (individuais ou colectivos).
Em São Tomás, por seu turno, o Homem encadeia-se numa ordem do Ser e os seus desejos encontram-se (ou devem encontrar-se) limitados por uma concepção do Justo que o ordena. É por isso que na visão Cristã do Mundo, apesar do homicídio ser um ilícito moral, existe permissão para fazer a Guerra em defesa de um Bem, de matar para evitar dano proporcional, de restringir a liberdade para o vício à mão armada. Não há dúvida de que é um mal (e daí que muitos sacerdotes se tenham escusado dessas actividades, em consonância com a doutrina), mas é um mal que é conduzido para o Bem e sem o qual não é possível salvar Bem nenhum, excepto para os “milenaristas” que crêem que na Idade do Espírito Santo. Os que acham que não é preciso correr...

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segunda-feira, setembro 03, 2007

Os Sentidos do Poder













Há tempos falou-se muito de monárquicos e monarquias. Como já confessei, não sou apreciador dos círculos monárquicos e do conjunto de demências que neles se escondem e procuram legitimação. É o caso dos devaneios comunistas da AMT, mas também de um conjunto de gente que acha que a vida dos povos se compadece com uma utopia em que resolveram embarcar, não se importando com a total destruição do cimento que une as comunidades e em particular as que atingiram a civilização que acompanha o Cristianismo.


Quem acreditar que a comunidade política morre a cada brecha na legitimidade, está morto para a política. Ainda bem!


Portugal assenta num contrato eterno entre um Rei e um Povo, que tem como intuito preservar os laços naturais que correspondem à boa existência da comunidade. Mesmo onde uma parte abusa dos seus poderes (a Revolução), a finalidade da governação mantém-se inevitavelmente. O Interregno da Monarquia não é um vazio político, mas um período em que não existe ancoradouro na história. No Interregno vive-se a incerteza da necessidade constante de compreender o que ergue e o que conduz ao lamaçal.


A segurança da monarquia é, contudo, falsa. Não faltam exemplos de monarquias doentes em que as populações têm de estar mais alerta do que na situação pós-revolucionária, onde monarcas e seus coniventes destruíram os pressupostos da vida em comum.


A Monarquia é, por isso, muito mais do que a "independência de um" face aos "muitos" (Cromwell gabava-se da sua independência por ser príncipe da República). É sobretudo um título que se prolonga sucessoriamente e que contém um contrato político (ao contrário do contratualismo, um contrato eterno) entre um representante e representados, com um conjunto de prerrogativas que tal acarreta (tanto naturais como convencionais). Consiste, acima de tudo, numa aliança inviolável entre as três partes: representante, representados e a Eternidade que a testemunha.


Por esse facto, um Rei não pode ser deposto por inaptidão, da mesma forma que as nossas dívidas a um tolo não deixam de existir pela sua incapacidade, conquanto este não usurpe os seus direitos (no que respeita à lebre levantada pelo republicano JV).


Maior loucura que o roubo é não perceber que se tem de viver com a sociedade onde decorreu a injustiça e não compreender que só se pode reparar a situação e instaurar alguma Justiça, onde se consiga viver com o acessório injusto.


Por isso nunca passarei o teste "Oliveira Salazar" (rasteira rasteira do leitor Lacerda), achando mais importante que os lugares dos monárquicos a preservação dos territórios que davam a Portugal a possibilidade de ser independente. Chamem-me o que quiserem, mas a minha lealdade não vai para os monárquicos, mas para Portugal (em consonância perfeita para com o Prefeito Paciente e com o MCS).


Entre a legitimidade monárquica que impele para a destruição das premissas da comunidade portuguesa e um poder espúrio e revolucionário que as assegura (apesar do equilíbrio precário com as forças sinistras e da incapacidade de vitória), todos têm de escolher...


Estamos sempre a fazê-lo.

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Tornar

Hoje tive a agradável surpresa de aqui chegar e ver que os meus caros amigos tomaram conta do blogue. Agradeço-vos a gentileza e o ardor da discussão que mantiveram, apesar da minha ausência.
Ainda pouco restabelecido do regresso a estas paragens, fui lendo as muitas mensagens deixadas na caixa de comentários. Assim que acabar a leitura, botarei faladura...
O blogue segue dentro de momentos e na medida do possível.