quinta-feira, junho 28, 2007

Com a Falta de Tempo Fica uma Oferenda






Podem descarregar aqui a Tese que deu origem ao livro, poupando os respectivos 40 Euros.



terça-feira, junho 26, 2007

A Reeducação Pós-Colonial
















O fundamental é a reeducação. Os portugueses têm sido sujeitos durante anos a um inculcar de vergonha sobre a memória imperial, com o intuito de criar uma paz espiritual com um presente. Esta fez-se de várias maneiras, quase sempre de gravosos erros morais.

Uma proposta reeducativa foi o Historicismo, que se consubstancia na ideia de que não havia nada a fazer, que os “Ventos da História” estavam contra nós e que o abandono ultramarino era inevitável. Esta tem em si uma parcela verdadeira, mas uma parcela profundamente amoral. É bem verdade que os ventos da História estavam contra nós, mas também estão contra a Venezuela, Cuba e outros países que ainda hoje se colocam à margem do consenso internacional. Para além disso esta situação não permite que ninguém pense sobre a justiça da sua conduta, mas apenas sobre o que irá ter acolhimento no futuro. O que equivale a afirmar que onde exista uma genocídio ou uma violação grosseira do direito de outrém, o que teremos de fazer é o que pensamos que terá acolhimento no futuro. Se o futuro é o genocídio, devemos abraçá-lo de braços abertos. Quando o futuro fôr vender os familiares a prestações...

Por outro lado e com muito acolhimento em alguns nacionalistas mais impreparados e espíritos mais fracos, cativados pelo simplismo das suas proposições, está o nacionalismo terceiro mundista. Este funda-se nalgumas ideias modernas, o predomínio da vontade, e o colectivismo da acção, defendido pelo socialismo mais despudorado.
A ideia é simples. Para a obtenção de uma comunidade, com possibilidade de obter soberania, basta que exista a vontade de um colectivo. Ora isto não é nacionalismo nenhum, nem nenhum pensamento sério sobre a natureza das comunidades políticas. É a antítese de uma Nação, porque ao colocar os vínculos entre as partes no domínio da vontade, estabelece uma relação de utilidade entre os membros de uma comunidade que é a de uma empresa. Com esta ideia de que a comunidade repousa na vontade colectiva, vem também a ideia de que a propriedade é passível de apropriação por esse acto de vontade... se a lealdade política o é... E esta é uma ideia de que a comunidade não existe para preservar um direito anterior da comunidade, prévio e superior, mas que está ao alcance dos desejos maioritários a posse da propriedade de outros, o que representa que as relações políticas se encontram no domínio da “guerra de todos contra todos” e não numa comunidade nacional.
Como é fácil de ver, a ideia é muito jeitosa se se pretende estabelecer um domínio a nível global. Assim que alguma parte de um Estado descobre uma riqueza ou uma oportunidade estratégica, pode declarar independência, revertendo os benefícios do bem para uma parte pequena da comunidade. Vêm daí os nacionalismos plebiscitários, referendários, terceiro-mundistas, altermundialistas e restantes disparates que parecem ter muito acolhimento entre as moderníssimas hostes nacionalistas portuguesas, sempre em busca do último disparate para aderir. É o “nacionalismo-velcro”, que prefere a adesão a saber a que é que se deve aderir.

Existe ainda outra forma de reeducação, verdadeiro gulag intelectual, que provém do marxismo e de todas as suas seitas subsequentes. A ideia de que a presença portuguesa era um sistema de opressão é uma paródia, porque equivaleria a considerar que todos os habitantes das colónias eram colaboracionistas de um sistema de repressão violento. Quem observar um mínimo da história colonial portuguesa vê que um dos maiores propósitos é manutenção dos modos de vida tradicionais das populações. O mesmo propósito que parece agora cativar todas atenções dos pós-modernos das análises pós-coloniais... Tais estudiosos, numa fantástica acção de marketing (de criar inveja ao capitalista mais sanguinolento), criaram o seu próprio mercado. Primeiro defenderam o fim da opressão dos povos do jugo imperialista. Agora, após o triunfo dos movimentos políticos que tanto apoiaram, peroram sobre os problemas da destruição das narrativas e tradições que enquadravam as vidas daquelas gentes. Há gente com olho...
Agora reina na África Portuguesa a mais seráfica das justiças, a mais florescente das felicidades. As populações, urbanizadas à força, deixaram as comunidades tribais (que nenhum lucro davam à metrópole, o que diz muito da exploração portuguesa ...) para se acumularem junto ao lixo, nos musseques, vivendo em árvores, dormindo no chão, comendo o desperdício dos altos-funcionários do Partido.
A Economia, que era para todos os marxistas a razão da independência colonial, desmentiu-os. Mais fome, mais desemprego, mais trabalhos degradantes e escravizantes a benefeciar as empresas chinesas, mais gente a viver vidas de amoralidade e de prostituição, mais gente com SIDA, acompanhada por um desculpabilizador discurso de falta de auxílio internacional.
Para quem acabou com a opressão e instaurou a liberdade, não está nada mal...

Qualquer destas propostas de reeducação caminha para a catástrofe. Obliterando a possibilidade dos portugueses compreenderem os erros destas formas de pensar, encontramo-nos a um passo do suicídio. E ninguém pode fazer essa escolha por nós. É a escolha da sobrevivência.

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sexta-feira, junho 22, 2007

Elogios

Não resisto a alimentar o meu ego com este elogio do Professor José Adelino Maltez.
Peço desculpa pelo momento de auto-complacência... É como se fosse a "back cover" aqui da pasquinada!

"Meu caro

Fique sabendo que deve ser dos poucos blogosféricos a quem faço públicos "comments" porque tenho o prazer de consigo dialogar em "topoi" ou lugares comuns, onde damos umas voltas, para voltarmos mais sabedores às nossas perspectivas e continuarmos a procura do caminho e da verdade. Por isso lhe digo que não tenho de estar de acordo com tudo o que defende, ou com o todo daquilo que defende. Volto a dizer-lhe que estou de acordo com alguns dos lugares comuns conservadores e tradicionalistas em que circulamos, mas já divergimos naquilo que eu considero os "topoi" do meu "ser liberal", onde procuro conservar aquela tradição que, entre nós se chamou Ferrer, Herculano e, de certa maneira, Pessoa, herética demais para ter "nihil obstat", coisa que também reclamo. Mas que nem por isso tem qualquer coincidência com o jacobinismo e as suas subespécies.

Com as melhores saudações velho-liberais
José Adelino Maltez"

quinta-feira, junho 21, 2007

O Fusionismo e a Manutenção da Separação

















Levanta a atentíssima Cristina Ferreira a questão da compatibilidade entre o liberalismo e o conservadorismo. Já escrevi aqui bastante sobre o fim do fusionismo (que foi sempre mais uma união de facto que um matrimónio) e a forma como o liberalismo e os seus teóricos se incompatibilizaram com as posições conservadoras (morais) ao postularem a liberdade individual como finalidade da comunidade política.
A situação não se alterou e é cada vez mais evidente que os caminhos do liberalismo e do conservadorismo se encontram cada vez mais separados tanto na teoria, como na prática.
O liberal rejeita absolutamente qualquer introdução de um elemento moral no seio da sociedade, considerando que a única esfera valiosa é a individual. Para além disso pode aceitar tocquevillianamente um conjunto de símbolos sociais, mitos, ou religiões (reduzidas ao papel de superstições ou “mitos do Hades”), mas apenas com o intuito de sustentar a ordem das liberdades individuais.
Esta concepção representa a absoluta antítese de uma concepção jusnaturalista e Cristã, de uma defesa da comunidade como universalidade representante de e condicionada por um Universo maior.
Se o liberalismo coincide com o conservadorismo nalgumas coisas, não percorre certamente o mesmo caminho. O liberalismo pretende minimizar o papel do Estado, mas não tem nada que preencha esse espaço para além do vazio. Acha que o homem-vazio pode viver de forma independente e livre do Estado sem uma concepção de vida comum. Considera o “rule of law” como fundamental, mas torna a lei um mero reflexo da vontade humana ou de uma ordem insondável, frágil e passível de remoção pela fonte de poder originária.
Resumindo, o liberalismo não consegue, nem pretende, obter os mesmos fins que o conservadorismo, porque se afastou do elemento fundamental que a caracteriza, a Justiça.

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terça-feira, junho 19, 2007

Vermelho Induzido

A diferença entre um conservador e um liberal é que o primeiro sabe que o único caminho para a liberdade é a existência de uma norma ou conjunto de normas que se oponham à solidão atomizante, à descivilização progressiva, ao homem-vazio. O liberal acredita que o vazio do indivíduo, livre para se auto-destruír, é o reduto final do alcance do político. Se todos os indivíduos de um Estado Liberal decidirem cometer suicídio, paciência...
Para este problema há várias formas de pensar.
Pensar que isso nunca poderá acontecer é típico de uma concepção de que, no fundo, removendo todas as camadas de civilização, ficará a tendência para um bem. Por outro lado, são estes quem, geralmente, pensa que o bem e o mal são meras questões individuais. Considerar que o bem é algo de pessoal e depois que reside no fundo de cada um, é o mesmo que dizer que todos os carros são vermelhos, mas que a sua superficialidade o está a cobrir. O vermelho é apenas uma indução, algo que se pretende inculcar como Natural, como se a natureza não fosse o “dever ser” mas uma concepção original e primordial, inventada por um qualquer filósofo e intelectual, proprietário de uma qualquer pneumopatologia que o impede de ver além dos seus desejos.
Esta inversão da Natureza é uma das mais importantes da filosofia moderna.
Que préstimo terá esta concepção que determina o ponto de chegada e o caminho pelo ponto de partida?

quinta-feira, junho 14, 2007

A Direita e as Direitas


















(imagem despudoradamente "gamada" da Gazeta e descontando o lapso linguístico)

O número mais recente da Alameda Digital é, sem dúvida, um dos mais interessantes.
Tem um diagnóstico certeiro do "estado das coisas", por Abel Morais, tem uma reflexão sobre as origens do pensamento da direita portuguesa e o seu burkeanismo, pelo MCB, tem uma referência concreta aos vícios do presente ("É realmente espantoso observar a facilidade com que as direitas na história se aprestaram em levar às costas personagens que patentemente reuniam todos os requisitos para comprometer as suas causas e princípios – só porque na aparência exterior, por uma ou outra característica, na pose ou na oratória, ostentavam algum traço grato à sensibilidade e à estética direitista."), por Manuel Azinhal.
Tem ainda algumas perguntas.

Será que Sarkozy se lembra de como acabaram os girondinos?

É inevitável que a "direita" dos valores desapareça?

Há critérios para compreender a direita e esquerda e poder seguir em frente?

Qual a relação da "direita" com as ideologia e com a verdade?

Há que seguir lendo a brilhante reconstrução histórica das "direitas portuguesas" que vem sido levada a cabo por Mário Casa-Nova Martins.

E no número anterior há que recomendar, em atraso, este "O Mein Kampf do Europeísmo", de Carlos Bobone, que é do melhor que tenho lido acerca da construção cultural do Homem Europeu.

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O Daniel Faz Falta, Para a Malta Rir!






















O Daniel, que aqui há tempos teve a amabilidade de me colocar no eixo do mal, acha que os monárquicos são patetas! Eu também acho. Há muitos monárquicos que até apoiam os bloquistas, como se as hortas e jardins fossem mais importantes que os valores da Civilização Ocidental. Estão tão confusos como o próprio Daniel acerca do totalitarismo que se esconde no bloquismo e nos seus sonhos eróticos de uma sociedade onde é proibido proibir.
Os monárquicos são patetas, mas aquelas multidões de "charrados" que se passeiam pela sede e pelo Bairro Alto a pedir "moedinhas para o artista" (que nem uma porcaria de um malabarismo de jeito sabem fazer) ou a fazer da sexualidade a principal definição identitária de um Ser Humano, são "sonhadores" e gente que está a tocar os principais pontos que interessam ao país.
O Daniel não é pateta, nem pertenceu e pertence a um dos maiores logros da História, causador de milhões de mortos por esse mundo fora.
Há coisas piores que ser pateta. Andar a distribuír epítetos com telhados de vidro é bem pior.

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Do Mais Recente Pai da Blogosfera

A Seriedade do Conservadorismo, por Miguel Morgado

terça-feira, junho 12, 2007

Monopólios da Transcendência

Tem havido uma interessante discussão na blogosfera sobre o problema da Maçonaria e do seu papel na sociedade.
Não sei se é possível acrescentar algo de valor ao que o Je Maintiendrai transcreveu e à estranheza que lhe causa estranheza. Parece-me, contudo, peculiar que a citação que desencadeou a questão venha daqui e não daqui. Tendo tudo para acreditar na boa fé do Professor Maltez, estranho que a nota não venha dirigido a essa Lusitana Antiga Liberdade, que os Integralistas (com “neo” ou sem) não sejam os destinatários do texto. Uma transcrição vale tanto como outra. Neste caso, até mais.

Relembra o Professor Maltez que a Religião, a Política e a Moral são esferas diferentes. É bem verdade. Mas ou são fruto de um mesmo Real, ou podemos bem entregar a alma ao mundo...
Os que o fazem estão bastante descansados nesse aspecto. Sabem perfeitamente que são os seus desejos a condicionar o simulacro de transcendente, que o Deus Incognoscível é apenas um caminho para a arbitrariedade dos seus valores, inferidos de uma divindade menor, um ídolo à nossa imagem. Essa incognoscibilidade do divino é a suprema amputação do Mundo e elemento que permite que, sem mais, a Democracia ( tomá-la como mais do que bom governo é ideologia) e Liberdade (que não vêm do Syllabus, mas de Cristo) na mente de alguns se torne referencial e medida de todas as coisas. Essa arbitrariedade é contrária a tudo o que é humano, porque é um sistema auto-induzido e circular, onde não há possibilidade da verdadeira Liberdade que provém da Verdade e da possibilidade de a partilhar e compreender.
O hermetismo e o "círculo" são os disfarces do mal, como tão bem viu o monstro Chesterton...

É essa mesma ideia de que vivemos numa sociedade livre que conduz o ataque, mascarado de defesa da Liberdade da Igreja. Em 1975 defendeu-se a Igreja, desde que esta aceitasse a derrota, desde que esta se considerasse uma associação cívica, determinando que toda a sua acção seria limitada pelo político. Falava-se em permitir a "liberdade" e evitar a "teocracia", que era boçalmente descrita como a sociedade com finalidades cristãs. Deixar a Igreja andar na rua, desde que silenciada pelo Poder, renegando a realeza de Cristo. Ou seja, indisfarçadamente, postula-se a mesma tolerância que Locke propunha para os Católicos. Nenhuma, evidentemente, porque no momento em que o Católico acha que a Fé é matéria privada, assim como a Verdade e a Justiça (que comandam a Liberdade), dá um passo decisivo para ser outra coisa qualquer. Tolerância sim, mas só para os que se encontram prostrados perante o político, que têm uma lógica própria, separada do Bem da religião e da moral. É por isso que Voegelin descreveu bem que o paraíso de Arendt é tão totalitário como os "campos" do Leste! É por isso que Burke descreveu o Mal encarnado pela Revolução Francesa (e não apenas pelo seu Terror!), como oposto à Humanidade, tendo todo o homem o dever de lhe levar a Guerra, como é bem patente nas "Letters on a Regicide Peace".
Nem a Liberdade, nem Portugal, nasceram no século XIX... E quando só se admite a Igreja rendida e submissa, está-se a fazer a apologia da supremacia da endogenia do político! Se o político e o moral têm esferas diferentes e são parcialidades diferentes (o político não visa impor a moralidade, mas apenas aquela necessária para os seus fins), afirmar a independência de uns e outros é aceitar as leis de extermínio ou o homicídio dos "inimigos do povo", segundo uma regra de separação doente.
Ainda hoje pagamos a rendição, que devia ter sido resistência, como no Bloco de Leste.

Se é verdade que "sob o Sol" ninguém tem o monopólio do transcendente, é verdade que isto significa apenas que não tem o poder de o mandar e desmandar, de o negar segundo a sua vontade, para comandar obediência!

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segunda-feira, junho 11, 2007

A Falsa Morte do Socialismo

















Vejo que se propaga a ideia de que o Socialismo está a morrer. Ideia falsa. O Socialismo pode estar a desaparecer na sociedade, mas apenas enquanto grupo. As suas ideias estão vivas e de boa saúde, pertencendo ao léxico de todos os partidos (mesmo dos que se dizem fora do sistema). Quando as ideias decidem “fingir-se de mortas” tornam-se ainda mais perigosas.
O socialismo tem uma característica básica, que é o serviço da comunidade política aos indivíduos. Esse traço distintivo encontra-se nos que acham que a economia portuguesa deve servir para dar trabalho aos portugueses, nos que acham que os políticos são solucionadores de problemas individuais, que correspondem ao que em Portugal ainda passa por Direita.
Há muitas perguntas que ficam por responder na nossa direita-socialista e que fazem toda a diferença do mundo.
Qual é a justificação para o Estado Social? É uma obrigação moral, uma questão de expectativas políticas, um dever de Humanidade, um erro de que estamos prudentemente a recuperar?
Qual é o seu limite? Onde os cidadãos quiserem que ele esteja, onde seja necessário para levar a felicidade ao coração de todos os homens, quando houver igualdade total, igualdade parcial, igualdade de oportunidades?
E será possível estabelecer qualquer limite de conduta a um Estado e aos homens públicos que consideram não haver necessidade de definir estes justificações para a ordenação política?
Portas e Jerónimo Sousa concordam no problema essencial. O problema do Gulag foi a falta de TV e de ar condicionado...

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terça-feira, junho 05, 2007

Na Banca da Gulbenkian




















(10 euros)

«Como querem vocês que o homem sorria, quando a Polónia sofre?»














Este “post” do MCB sobre o humanitarismo de Fernando Nobre é uma perfeita descrição do que se tem vindo a constituir como ideologia internacional e que é uma das mais nocivas concepções de humanidade de que há memória.
Toda esta ideologia assenta em premissas básicas que são verificavelmente erradas e nocivas.
Conseguir explicar como a expansão europeia era mal-intencionada é só mais uma aplicação reflexa da vulgata marxista. Se o era em muitos casos, noutros veio criar o fim de suplícios (esses de que os humanitários tanto desejam colocar termo), veio fortificar a sedimentação das autoridades tradicionais, veio trazer produtos mais resistentes para a produção agrícola das populações autóctones. O comércio tem destas coisas, ao contrário da imagem de exploração que é transmitida pelos ideólogos descendentes do “terceiromundismo” que por aí pululam, patrocinados pelas internacionais e multinacionais. Os ferozes europeus foram e conquistaram, evintando que lhe fizessem o mesmo. É este o eterno drama da existência humana. Não podemos senão ter orgulho da construção de uma entidade política que veio do (quase) nada e conseguiu estancar as habituais expedições mouras para aquisição de escravos-cristãos que assolavam as cidades deste lado da Península, onde mulheres e crianças eram raptados em actos de pura pirataria. Talvez os Africanos não fossem assim tão “bons selvagens”, como se viu na expansão... Os escravos, não consigo realçar demasiado este ponto, não eram tomados pelos portugueses, interdita que estava a tomada de escravos por cristãos (os que o fizessem seriam criminosos, também os houve), mas comprados aos “senhores da guerra” africanos.
O lado mais sinistro desta ideologia vem na parte das construções filosóficas que emprega. Acha que o progressismo do comércio destruiu as culturas, mas defende que se deve levar para esse mundo o progresso da medicina, dos transportes, do humanitarismo. Ainda por cima faz de conta que não quer, ao trocar a cultura local por uma de progressismo e de democracia, mudar-lhes as mentes.
A diferença entre o humanitarismo e o Cristianismo é que o primeiro não gosta de si próprio. Acha que todas as formas de pensar o Bem foram causadoras da destruição e da miséria que ele quer erradicar (como se a pobreza não fosse um conceito relacional, mas um nível absoluto), mas não consegue deixar de agir segundo o que acha ser um bem. Acha que a Cultura é algo de concluído e que é inavaliável, devendo, por isso, ser sempre respeitada, mas depois preenche-a com os seus ideais de paz, que vêm das suas cabeças e das suas fórmulas mentais. O humanitarismo é o neo-colonialismo do progresso, desprovido de Bem.

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domingo, junho 03, 2007

Sem Futuro















A catástrofe eleitoral que LePen sofreu nas últimas eleições teve duas coisas boas.
Mostrou como a esmagadora maioria das propostas da direita pode ser copiada pelos partidos do centro e como a população prefere sempre votar nestes "moderados". Por outro lado mostrou que a direita só pode crescer pela linha dos princípios e não pelo centrismo do "catch all".
A FN nunca teve uma identidade própria, foi sempre um conjunto de ideias patrióticas e populistas, que por turnos apareciam, sem critério que não fosse o desejo do poder. Não é nada estranha a escolha de um programa progressista e esta hostilizou os católicos que apoiaram a FN durante muito tempo. A FN caminha para ocupar o lugar sem destaque de há muitos anos.

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Se Fosse ao Contrário...

Leio no Salon Beige que um Tribunal australiano aceitou que um bar proibisse a entrada a heterossexuais. A discriminação funciona apenas para um dos lados...

sexta-feira, junho 01, 2007

Vender Coisa de Outrém














Fiquei bastante contente com as simpáticas palavras, que muito agradeço, dos meus amigos e leitores a propósito da “Carta”. Sem pretensões a texto teórico, parece-me que deixa entrever todos os disparates de que enfermam os selectores de certezas pré-compradas e tenta mostrar como, sem uma referência externa, incorremos sempre na “guerra de todos contra todos” a que Hobbes aludia.
A psicologia de Hobbes, ao reduzir a pretensão do Homem na política, funda a cidade no Medo e instaura como virtude cívica a Cobardia. O que nos clássicos era a vício, nos modernos é virtude e traço essencial do cidadão. Com essa virtude vem a sociedade de massas, articulação de forças vazias nas mãos da demagogia e do horizonte da prática.
Vem daí o populismo de que a tecnocracia é uma das mais recentes formulações.
A ideia de que a Política resolve os problemas das pessoas é mais uma dessas promessas totalitárias, que implica a destruição das esferas infra-estaduais. Quando a política começa a preocupar-se com problemas que não são políticos, caminhamos para a ilimitação do Estado.
Se uma fome faz perigar a sobrevivência da comunidade é um problema político, se uma menina não come a sopa ao jantar ou se torna anorética porque acha que é estético, a questão simplesmente não é do foro comunitário. Hoje em dia, porém, a sociedade de massas, com o precioso auxílio do Estado Social, tornou qualquer pequeno problema de saúde individual uma questão comunitária. O acto de fumar um cigarro prejudica, estatisticamente, o erário. Toca a todos.
Em Portugal o Estado Social é inquestionável, sobretudo pela compra do eleitorado. Quem quiser saber o segredo de Gondomar, de Felgueiras, de Oeiras, de Almada, basta ver onde se gastou mais dinheiro em construção para oferecer e comprar habitantes.
No século XIX a democracia era controlada pelos que controlavam as fronteiras dos círculos eleitorais (o famoso “gerrymandering”), nos dias de hoje o truque é aquisição de populações pela venda de habitação.
O facto de nenhuma força política portuguesa denunciar ou fazer oposição a esta situação, demonstra que tanto liberais como conservadores não têm representação política, nem estão em vias disso.
Que povo nestas condições pode escolher a Liberdade?

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Acefalograma, no Interregno

John Randolph of Roanoke

The Life of John Randolph, vol. I e vol.II

(Pode fazer-se o download em pdf)

Conservas

Sinceramente não percebo os Conservadores portugueses. Há poucos, mas a maior parte são bons, talvez por serem dos poucos que se deram ao trabalho de escapar à vulgata abrilina. O problema é não saberem o que querem. Há tempos li no Cachimbo um texto do Miguel Morgado sobre Jouvenel a propósito da questão. Vem bem a propósito...

"nós somos (e queremos ser) mais ricos, mais poderosos, numa palavra, mais prósperos, em vista de quê?"

Se os conservadores terminarem por aí e não tentarem a reconstrução dos critérios que lhes permitam compreender as normas que irão enquadrar a vida humana, as leis, os mercados, ficarão sempre como uma ideologia da dúvida, um factor de correcção do liberalismo, mas nunca serão proposta de sociedade autónoma.
Retenho do texto pontos que considero importantes e pouco modernos e liberais, como é o caso do carácter natural da comunidade, o contrato eterno em que esta consiste, e da manutenção das concepções clássicas e cristãs da boa vida e boa sociedade.

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