quarta-feira, março 23, 2005

Um Ano

Um ano de blogue não é nada de especial. Congratulo-me, porém, por ter conseguido manter uma razoável actualização dos “posts” que, na sua larga maioria, são da minha autoria. O Pasquim consome por isso muito tempo, um tempo precioso, preciosidade que é medida pelas coisas que queria e deveria fazer e não faço, por ter assumido este dever. Reconhecer um dever que é bom é encontrar o caminho da felicidade. Muito do que aqui falamos se resume a essa fórmula de “encontrar nos deveres a felicidade de cumprir o Homem”.

O objectivo inicial foi cumprido. Escrevi, de facto, aqui umas coisas. No caminho de escrever o que queria ganhei leitores fiéis. Os descobridores deste blogue, Nelson Buíça, Manuel Azinhal (autor do melhor blogue que conheço) e João Sarto (autor do farol espiritual da blogosfera, digo-o sem medo de exagerar) deram um impulso fundamental ao Pasquim por publicitarem, ao elogiarem e ao criticarem os meus escritos. Obrigado.

Deixo também o agradecimento aos exemplos. Foi ao ler o Último Reduto do Pedro Guedes que tive vontade de ter um blogue. Foi o PG que me mostrou a possibilidade de ter um blogue de qualidade, interesse e que chegue a muita gente. É o exemplo de qualidade que este espaço mais tentou seguir… não conseguiu, mas continua a tentar.
E Deus, Pátria, Rei! Sempre!
O mesmo posso afirmar sobre o Fascismo em Rede que difundiu “pérolas” das letras e da filosofia que nem sabíamos existir e que tentaram revelar a tradição e originalidade do pensamento tradicionalista português (no meio de outras coisas).
O Nova Frente do BOS foi sempre outra referência e exemplo, quando não nas ideias (e muitas vezes não), pela qualidade da prosa, pelo amor às letras. Outro exemplo que será difícil atingir…
Agradeço também em especial ao FG Santos que passou de comentador habitual a ilustre blogueiro e que em muito contribuiu para as temáticas e preocupações que aqui apresentamos. E não desistimos…

Em lugar especial, gostaria de agradecer a um enorme amigo desta casa, o principal fornecedor de alento a este blogue. Há uns tempos, em conversa, falando sobre o propósito dos nossos escritos, chegámos à conclusão de que não existe outra opção senão continuar, na esperança de que os que vierem não esqueçam.
Muito obrigado Rafael!

A vós e a todos os que nos visitam,

Parabéns a vocês!

terça-feira, março 22, 2005

A Saga Gnóstica-Materialista Continua

Fico a saber que o Prof. Nuno Cardoso da Silva desconhece a doutrina da Igreja. A "Centesimmus Annus" não é um manifesto socialista!
Deveria ter-se lembrado da reflexão tomista e das "Duas Espadas", que estabelece o poder espiritual da Igreja e a sua influência indirecta sobre a contingência terrena.
Deveria lembrar-se que a objecto da própria Igreja não é resolver problemas terrenos, mas a salvação das almas! Por esse facto esta sequência de encíclicas não é um manifesto político, onde a Igreja Católica dá directrizes políticas aos crentes... mas uma achega às almas dos fiéis!
Só assim se pode compreender a acção espiritual da Igreja e o seu intuito de oferecer ao valor do trabalho uma virtude própria!
Uma errada compreensão desta concepção (como a própria Igreja reconhece) conduziu aos “padres-operários” (já aceite como heresia marxista pela Igreja hodierna) e à sua concepção comunista da comunidade dos crentes que seria extensa à comunidade política (como se não houvesse destrinça).
Em ambos os casos, dos Padres Comunistas e do referido Prof., o problema está na incompreensão da existência espiritual da Igreja e da sua incapacidade política. Na incompreensão da existência de duas esferas (ideal e contingente), concepção que é central no Cristianismo, como já o havia sido na filosofia de Platão e Aristóteles. Ao tentar reduzir tudo à esfera religiosa está a fazer o mesmo que os Comunistas e os Jacobino-Deístas fizeram na implantação do Totalitarismo.
Ignorar isto é ignorar que as virtudes cristãs não podem ser forçadas pelo Poder Político, mas apenas pelo trabalho pastoral da Igreja no reforço espiritual das virtudes, em particular da Caridade.
O que o Prof. Cardoso da Silva tenta fazer, é tornar a Caridade obrigatória politicamente, o que a desvirtua como virtude (a virtude implica uma não obrigação, mas uma liberdade de acção não coerciva). Aproxima-se assim, perigosamente, do totalitarismo comunista (pela via do milenarisno e da gnose cristã, como bem observa Voegelin a propósito desta matéria).

Ao afirmar a “dignidade do trabalho” como um valor material, o autor falha redondamente a compreensão da Encíclica que pretende analisar.
Porque ignora a premissa base do conceito de Justiça Distributiva, não consegue compreender que esta é a mais clara oposição ao marxismo. Esta “justiça distributiva” a que já aludia Aristóteles na “Política” e na “Ética Nicomaqueia” (kat´analogion ison) é a justiça que “dá igual aos iguais e desigual aos desiguais”. É ela a origem da nobreza europeia e cristã e das desigualdades materiais. Dá mais aos que mais merecem (não só por trabalho, mas por caridade), porque esses tomam voluntariamente nas suas mãos a ajuda aos que menos têm. Esse o exemplo que Donoso Cortés observou nos seus últimos dias, pela palavra e pelo exemplo, ao morrer com o título de Marqués de Valdegamas e com a camisa que tinha no corpo, por ter dado tudo aos que buscavam o seu auxílio.
O que o PCTP-MRPP defende não é uma “justiça distributiva”, mas uma “distribuição aritmética” (kat´aritmon ison). Uma concepção de Justiça que não dá a cada um o que merece, mas que dá tudo igual a todos… O que é oposto à “justiça distributiva” da Igreja. Dá igual ao que trabalha e ao que não trabalha (como observa Marx na “Crítica ao Programa de Gotha”), ao que quer trabalhar e ao que não quer, ao marginal e ao santo, simplesmente porque não considera que exista moral. Todos devem ter o que precisam…

Os tradicionalistas defendem que na Sociedade existe justiça. E que deve ser o Estado a aplicar tal Justiça. Defendem que a contribuição política deve ser canalizada para os que se encontram sós no mundo, e para os que se encontram desprovidos de ferramentas que os permitam subsistir. Defendem, porém, que essa distribuição não deve ser realizada de forma amoral e sem referencial. Defendem que os Direitos materiais a que os Homens terão direito são de carácter político e não religioso (muito menos da religião jacobina dos Direitos do Homem).
O Homem tem direito a recursos materiais, não em virtude de ser Homem, mas em virtude de pertencer a uma civilização com valores e produção.
É disparatado afirmar que Robinson Crusoe, isolado da civilização, teria direito a férias remuneradas ou a reforma aos 65 anos… Não é, contudo, despiciendo afirmar que Robinson teria deveres cristãos para com o seu amigo Sexta-Feira (algo que Robinson compreendeu, agindo em conformidade).
É tão simples quanto isto. O materialismo marxista que o Prof. Cardoso da Silva perfilha (por via de uma corruptela do Cristianismo), nunca conseguiu resolver este problema desde que rejeitou o materialismo histórico.

Nas citações da Doutrina da Igreja, que descontextualiza, o Prof. Cardoso da Silva não conseguirá observar que o maior mal que a Igreja aponta é o socialismo e materialismo marxista? A preocupação distributiva da Igreja é uma oposição ao marxismo.
Desconhecerá também que PNR e CDS-PP defendem um Estado Social com carácter social (no caso do primeiro) e garantístico (no caso do segundo), que afirmam o Estado com funções superiores à mera optimização económica?

“Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és” é uma demonstração de sabedoria antiga.
Infelizmente o referido docente já começa a apresentar sintomas evidentes de contaminação pelos seus amigos. Utiliza a velha estratégia marxista, celebrizada e epitomizada por Lukacs e du Beauvoir, dos interesses materiais. Insinua o Cristo-Materialista que todos os que não acreditam nesse materialismo, os conservadores e reaccionários, o fazem porque são “lacaios do capitalismo”, ou manietados pelo interesse (como dizia o húngaro). De lamentar…
Esta afirmação pode ter duas origens. Ou o materialismo marxista ou a canalhice pura…

Quem quer ser comunista que o seja, mas não leve Cristo para o soviete…

Não percebo se isto é apenas ignorância, má vontade, predisposição esquerdista, ou se é um ataque frontal à doutrina da Igreja…

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segunda-feira, março 21, 2005

Batalha Final

De facto eu não quero o Homem-Novo! Repudio o Homem-Novo! O Homem não é novo. Reduzir o fascismo ao nihilismo também não é novo, e não é certo.
Eu não quero o Homem-Novo... Nem o marxista, nem o nihilista! Quero o renascer do Homem! O resnascer do humanismo tradicional... Buscar no antigo os fundamentos para o futuro.

domingo, março 20, 2005

Ainda

Estranhamente apareceram algumas pessoas que não perceberam o último “post”.
Não se trata de nenhuma novidade. Continuam a preferir uma dicotomia simples, como se só existissem duas posições.
Pelo contrário. A minha posição continua como sempre.
Vejo a imigração como um problema, seja ela branca, preta, vermelha ou amarela, mas um problema cultural. A nacionalidade como algo que deve ser restrita, mas não estanque (como muito bem viu o JSarto no seu último “post”.
Não me revejo, de forma alguma, com o discurso do BOS no Euronat, em que fala em nome do PNR na defesa de uma imigração e de uma identidade portuguesa estritamente europeias. As críticas ao multirracialismo de Salazar (que vão contra toda uma existência secular e que coincidem com a concepção racialista dos esquerdistas da 1ª República) demonstram bem a natureza e origem desse discurso…
Como ficou bem explícito no texto anterior a problemática das migrações é cultural. O problema da imigração é a rejeição dos portugueses em viverem segundo a sua cultura e não disporem, por isso, de um critério que os permita avaliar aquilo que é estrangeiro. O problema dos emigrantes não é a sua cor, mas a ausência de pontos em comum com a comunidade portuguesa. Algo que é ultrapassável com convívio, educação e hábito. Algo que foi exemplar nas comunidades goesas, em que a assimilação e a criação de uma especificidade cultural própria é um dos momentos mais ricos da cultura portuguesa.
Como bem focou o FG Santos, o que nos interessa é Portugal. Não vemos Portugal como uma subdivisão da Europa ou dos povos Indo-Europeus…
Não vemos Portugal como uma sub-cultura Europeia, porque a ideia de Europa é posterior à nossa existência como Nação.
Só queremos Portugal.

quinta-feira, março 17, 2005

Multiculturalismo e Imigração

Li num jornal uma sondagem que indicava que a maioria dos portugueses estão contra o aumento da imigração e contra a sociedade multicultural. Infelizmente a sondagem não perguntava se os portugueses são a favor da sociedade acultural… paciência!
Sou contra o aumento da imigração em Portugal. Não sou xenófobo, nem xenófilo. Penso simplesmente que a sociedade portuguesa não pode assimilar mais gente, transmitir a sua cultura para uma inserção razoável e prudente.

O problema é de fundo e não a imigração em si.
Em primeiro plano temos uma comunidade desagregada. Sem um conjunto coeso de concepções comuns não existe uma verdadeira comunhão. Sem a existência de uma norma não é possível existir tolerância.
O multiculturalismo não seria mau, nem perigoso, se existisse na nossa sociedade um referencial, ou no mínimo uma proposta de valores que seja endógena. Mas numa sociedade onde só existe o privado, onde se relevou a justiça para segundo plano[1], onde o critério definidor da lei é a maioria numérica, onde os indivíduos se encontram à deriva sem concepção a que possam chamar norma, o perigo não é a existência de gente com costumes e crenças diferentes, com desprezo pelas coisas que conhecemos como preciosas, pelas construções institucionais que tomamos como essenciais à nossa existência. O perigo é que numa sociedade acultural, a existência de uma minoria com uma concepção coesa e costumes diferentes pode constituir um perigo real e fazer um “take-over”.

Numa sociedade acultural, em que o poder político é um mero procedimento, a assimilação é uma mera questão jurídica. Não implica a aceitação de uma cultura, a defesa de uma memória comum ou sequer a partilha de um conjunto de ferramentas de comunicação que possibilitam o contacto mínimo. Por isso temos a imoralidade da cedência de cidadania a residentes no prazo de três anos, da ausência de um “juramento de bandeira” para os que serviram outras bandeiras, da cidadania obtida sem qualquer serviço, comprometimento ou partilha.

A tradição portuguesa infelizmente foi apagada e já não constitui uma alternativa.
A única forma sadia de termos o outro no nosso seio é conhecermo-nos.
Só com um Nós, na essência da nossa identidade, poderemos ter no nosso seio o Outro e fazer com isso uma verdadeira “unidade na diversidade” e não uma amálgama vazia, disforme e sem propósito.

“Ai de nós se não soubermos as fontes donde brota a nossa inspiração”.


[1] A característica principal do debate político do fim do século XX, de Rawls a Hayek, de Sartre e Rorty a Nozick (exceptuando a crítica comunitária do liberalismo), é o seu desprezo pela Justiça como fundamento supremo da comunidade política.

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Revista de Teoria Política

Novas actualizações. Dois textos de muito interesse de José Adelino Maltez e Mendo Castro Henriques.

Porco

É porco. Sempre foi porco. Morrerá assim.
E os portugueses sujaram-se com ele. Dialoga com terroristas hoje, como já o havia feito aos traidores que usavam as Universidades e a benevolência de Portugal para destruir o que os elevou à civilização.
Batam palmas ao pai da democracia!
Como se o diálogo fosse um valor em si mesmo...

quarta-feira, março 16, 2005

Burke e a Democracia

Hoje em dia existe muita gente a utilizar Edmund Burke para justificar as suas teorias.
Os neo-conservadores prosseguem a utilização utilitária derivada dos liberais vitorianos. Defendem que a oposição de Burke à abstracção é um ódio ao constructivismo social, uma defesa do material contra o espiritual, um manifesto de cepticismo (ao estilo da escola escocesa) contra a especulação e a realidade espiritual, a defesa última da Liberdade.
Todos estes aspectos estão de facto presentes na obra de Burke. O problema está em compreender as críticas de Burke em algo mais do que o sentido que elas têm nos nossos dias.

Burke odiava, sem dúvida, a especulação filosófica revolucionária (aquilo a que podemos certamente chamar de Filosofia Moderna). Aponta a esta uma tentativa de recriar o Homem, uma insoburdinação a elementos externos, um método filosófico insano. No fundo estas três críticas são a mesma crítica (que Burke observa como originadas na filosofia de Rousseau).
Rousseau baseia-se num sistema “voluntarista”. Em Rousseau o indivíduo livre devê-lo-á ser através de uma libertação do passado. Só a sua vontade existe… tudo o que não fôr vontade (individual ou colectiva) é ilegítimo. Burke opõe-se frontalmente a esta visão. Demonstra pela evidência filosófica, histórica e política a forma como só aceitando o ónus do passado (só através da tradição) se pode o Homem afirmar como livre. Essa liberdade provém da existência de um referencial passado onde é aceite (como numa herança) os encargos, responsabilidades e proventos dessas acções e acontecimentos que não dependem da nossa acção.
As implicações desta reflexão são profundas e deixaram marcas na politologia ocidental.
O homem que só se encontra subordinado à sua vontade (ou à doutrém) não tem capacidade de avaliar ou estabelecer um “dever ser”[1] se encontra encerrado na escravatura das coisas como são[2]. Essa é a segunda onda do flagelo Moderno, como aponta Leo Strauss em “The Three Waves of Modernity”.

A denúncia de Burke em relação ao método filosófico revolucionário não se trata de uma fervorosa cruzada contra a filosofia (como quiseram fazer ver os utilitários-conservadores). Trata-se do erro filosófico que mencionámos anteriormente.
A denúncia de Burke investe sobre a filosofia apriorística. A filosofia de Rousseau (que foi prosseguida por todos os modernos desde comunistas a nazis, de liberais aos pragmatistas americanos) ao fundar-se na vontade e não no “dever”. Assim, os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade não são defendidos como tendo origem numa ordem superior (o papel da religião estabelecida é fulcral, quase como depositária da Tradição e da Ordem), mas como desejo humano[3]. Isto revela que existe uma predisposição para a prossecução desses fins. Eles não são compreendidos, mas pré-determinados, o que constitui uma verdadeira imposição e determinação de toda a estrutura social.
Ao opor-se a esta visão igualitária e a esta metafísica fundamentada num apriorismo infundado, Burke afirma-se como o grande opositor da ideia moderna de reinvenção da sociedade segundo esse paradigma. Como Burke bem enfatiza a propósito das políticas imperiais na Índia, o objectivo da Coroa Britânica deve ser a salvaguarda das estruturas locais e originais de Poder e não a reconstrução, segundo a “metafísica imprudente”, das comunidades do Império.

Os neo-conservadores recuperam Burke, mas um Burke amputado. Tomam a doutrina de Burke como alheia à sua posição filosófica primordial. Como se as posições anti-revolucionárias do irlandês fossem passíveis de transplantar para defender as posições democráticas e as doutrinas de Direitos Humanos que Burke tentava denunciar. Tentam colar as posições de Burke a uma concepção de “Paz Perpétua” democrática a que Burke se referiu muitas vezes como a mais grave ameaça à comunidade cristã de países da Europa[4].

Pegar na doutrina que Burke considerava mais perigosa para a Humanidade e torná-lo o defensor da mesma, sob a pretensa ideia de que Burke era um situacionista, que não era mais do que um defensor do “establishment”, é uma concepção que não se sustenta[5].
Aproveitar algumas concepções cépticas de Burke e torná-lo num David Hume é desonesto[6].
Justificar uma restruturação do Mundo sob as doutrinas abstractas dos Direitos Humanos, uma cruzada destruidora das várias narrativas histórico-tradicionais em prol de uma concepção autonomista de liberdade e afirmar de que se defende o legado de Burke é um aproveitamento ilegítimo da obra do autor.


[1] É o “dever ser” a principal característica da filosofia moral ocidental. É ela que permite a destrinça entre a “doxa” do sofista e a “sophia” filosófica.
[2] Trave-mestra do pensamento politológico de Eric Voegelin e das suas reflexões sobre o Totalitarismo e as Religiões Políticas Intramundanas.
[3] Só posteriormente, em Paine e Condorcet, foi passada a religião secular pela elaboração das teorias deístas-racionalistas dos Direitos Humanos.
[4] Nos escritos posteriores às Reflexões, em particular nas “Letters on a Regicide Peace”.
[5] Porque ignora os escritos contra-revolucionários pós 1789.
[6] Ignorando a crítica que Burke faz a Hume em 1791.

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segunda-feira, março 14, 2005

Unica Semper Avis

O site passou a disponibilizar um conjunto de elementos sobre o tema da Constituição Europeia!
Por aqui também dizemos NÃO!
O mesmo fez o Círculo António Molle Lazo em Espanha!

Iberismo? Não Obrigado

O Rafael Castela Santos publicou, finalmente, a sua reflexão sobre o Iberismo. A reflexão é muito superior a esta questão. Um texto obrigatório...
Ainda bem que existem os blogues. Doutra maneira este texto estaria numa gaveta...
É tempo bem gasto.

Ao que isto chegou…

Ainda ontem, falando com o LTN, lhe disse que esta era uma boa oportunidade de ele sair do seu partido, o PSD. Disse-lhe isso porque não acredito que o PSD tenha capacidade de servir, de alguma forma, o país. O LTN é um conservador, da direita moderada, dos que acham que ainda há razões para subsistir esta aventura a que chamamos Portugal, dos que não acreditam que o Estado seja a solução para todos os males, dos que acreditam que existe o certo e o errado.
Estará isolado nos próximos tempos…
Já aqui falei dessa amálgama de partido que, ao querer ser tudo, nada é.

Ao ler O Insurgente tive acesso a este “maravilhesco” naco de teoría política.

O PSD nunca foi um partido de direita. Por isso Sá Carneiro o quis abandonar, como afirma o sempre heterodoxo Prof. Rui Ramos. Hoje, mais que nunca, se parece aproximar o PSD da esquerda, do internacionalismo da social-democracia.
As referências a Amartya Sen, e a Rawls são bem demonstrativas da refundação ideológica que está em curso.
Não consigo perceber se este será um regresso às origens…
Nunca pensei que este PSD fosse o partido de 1974, mas já começo a ter dúvidas!
É que Rawls é o grande apologista do socialismo democrático que postula que as virtudes e capacidades inatas do ser humano pertencem à sociedade. Preconiza o regresso ao “caminho para o socialismo” que pensávamos perdido na década de 80. Qualquer actividade é propriedade do Estado que, com o mero intuito desenvolvimentista, concede como benesse ao “agente” uma parte superior nos lucros dessa actividade. São incontáveis os erros de Rawls. Este é particularmente nefasto…
A beleza de uma mulher não é sua, mas da sociedade, assim como as “fintas” de Cristiano Ronaldo…
E a concepção de liberdade de Amartya Sen ajuda também a esta “orgia” neo-socialista. Uma liberdade que se apresenta como a capacidade dos indivíduos para exercer a democracia… apresenta a sociedade democrática como um fim, ignorando que a sociedade democrática é o que a própria sociedade quer que ela seja. Impõe assim uma determinação final à democracia, um procedimento anti-democrático visto que a democracia se funda na escolha, não podendo por isso ser enclausurada nos desejos socializantes de uma visão. Este é o regresso à velha e batida concepção da 1ª República que subordinava a vontade popular à ideia de Democracia…
Junta-se a isto Adam Smith para não assustar os empresários… e está pronto a servir!

Esta estratégia e ideologia não irá a lado nenhum. Mais uma vez estes ideólogos de botequim mudarão de ideias… À trigésima quarta vez serão Secretários de Estado! Essa trigésima quarta será como a primeira. Inconsequente e irrelevante!
No PSD nada disso interessa… Interessa é lá chegar! Ninguém lhes irá perguntar como passaram de rawlsianos a neo-liberais…

E no entanto lá continua a militar grande parte da direita portuguesa. Porquê?
Talvez não acreditem assim tanto nas suas ideias…

sexta-feira, março 11, 2005

Cristo-Marxismo?

O Professor Cardoso da Silva está, como tem estado, confuso…
Defende uma monarquia electiva, e agora defende um cristianismo marxista! Tornou-se um mestre do paradoxo. Pena que não explique como dar sentido a tais contradições…
O refúgio é uma pueril vitimização . Fala da minha soberba… Estivesse eu assoberbado e nem sequer me dignaria a escrever um texto sobre os seus erros! Limitar-me-ia ao escárnio a que generalizadamente o votaram. Tentei fazê-lo ver os seus erros… Talvez seja esse o meu erro! Erro de quem considera que o velho método dialéctico ainda serve para alguma coisa que não a exaltação de vaidades. Já vi que não é esse o caso, tal foi a forma como tomou a crítica como ofensa (relegando a Verdade ao papel de apêndice), quer pela forma como apenas repetiu os erros anteriormente proferidos.

Em primeiro plano ressalta à vista a concepção anti-cristã de Justiça.
A confusão do Prof. Cardoso da Silva é, por demais, evidente.
Defende que a propriedade não é um bem absoluto… E logo me coloca a perfilhar tal ideologia liberal! De onde tirou tal ideia? Não saberá que os conservadores como eu defendem a propriedade como um meio? Sendo um meio está subordinada ao Bem Comum… logo não é um valor absoluto, como é na visão liberal! Penso que também tenho o benefício de não ser liberal…
A razão parece ser uma visão curta do problema… Uns, socialistas, defendem que a propriedade está subordinada ao Povo, outros, liberais, defendem-na como ideal absoluto. Esta visão não nada mais contempla que esta dicotomia! Nada que uns óculos não resolvam… É que faz parte da doutrina de Burke, Donoso Cortés, Russell Kirk, Chesterton, ou mesmo Salazar e Sardinha, que a propriedade esteja subordinada ao Bem Comum! Penso que estes amigos serão insuspeitos de serem marxistas…

E se estes amigos são insuspeitos de serem marxistas (algo que hoje não se pode dizer de NCS), também tiveram o cuidado de observar as deficiências e incompatibilidades do marxismo na permissão da vida e virtudes cristãs.
Desde logo estes pensadores observaram os erros do marxismo (algo que não se pode também dizer de NCS).
O marxismo possui dois erros fundamentais (de entre muitos).
O materialismo marxista é uma clara objecção à vida cristã. O Prof. NCS demonstra bem o seu anti-cristianismo ao afirmar que a dignidade humana reside na posse!

“Todos temos direito à dignidade, a qual passa também pelo acesso a um mínimo de bens materiais. Tentar substituir um direito por uma esmola é indigno e perverso.”

É uma concepção errada e anti-cristã afirmar isto. A dignidade existe mesmo no Homem que nada tem… O homem que nada tem e, mesmo assim, não renega aquilo pelo que lutou e em que acredita é o homem digno! É esse o exemplo e é isso que dignifica a pobreza…
O argumento utilizado por NCS é exactamente o mesmo utilizado pelos defensores da prostituição…
Mas vê-se logo onde foi o ilustre Prof. beber essa concepção de que o Homem tem direitos materiais de propriedade antes de ter nascido. Foi buscar à concepção jacobina da Revolução Francesa, aos assassinos de cristãos da Vendeia…
Essa colagem aos jacobinos é óbvia! E torna-se mais evidente quando implica que a política deve ser a defesa dos desfavorecidos…
É obviamente falsa essa asserção. A política é a vantagem de todos! É outra das ideias marxistas que o parecem ter contagiado…

O marxismo é amoral! É amoral porque tem na sua génese uma ideia anti-cristã…
O objectivo marxista é dar a cada um os meios para que este faça o que quiser da sua vida. É a erradicação do pecado (como dizia Chesterton), mas através da destruição dos critérios de avaliação do certo e do errado (como disse Dostoyevski, não é o Homem alcançar o céu, mas arrancar o céu para a Terra). No marxismo o certo e errado é ditado pelo critério histórico-materialista… Será que o Homem, e o cristão em particular, pode aferir a justiça das suas acções ao compará-la com esse critério que implica que o Homem se move apenas por motivos económicos?
O Prof. NCS parece concordar com isso ao aliar-se com os defensores desta ideia…

“O Corcunda acha que os pobres devem ter paciência e deixar-se de reivindicações de inspiração marxista...”

Sim, acho! Porque, como vimos, estas reivindicações de cariz material e universal atacam o Cristianismo e o equilíbrio social (os marxistas defendem os direitos apenas dos pobres e a história demonstra bem o que acontece aos outros que não o são).
Isto não implica que os pobres não peçam ajuda e não a obtenham. Sou um fervoroso defensor de uma faceta social do Estado, mas uma que não considera, como NCS e Garcia Pereira, que a marginalidade é uma mera questão de escolha individual e que tem direito a ser patrocinada pelo Estado (o PCTP-MRPP apoia um aumento dos rendimentos mínimos). Apoio que Estado deve defender (actuando ou garantindo) os órfãos, os que não têm ninguém, os abandonados… Não defendo a ideia marxista de "exclusão social" que implica que o Estado force a sociedade a inserir!

Mas tudo o que eu penso é irrelevante…
NCS já se decidiu a considerar-me um neo-liberal! Um divinizador da propriedade, um hayekiano detractor da justiça social!
Fá-lo-á porque não leu ou porque não sabe?

Tendo em conta o que disse, gostaria de saber como pode o Professor Cardoso da Silva achar que o Cristianismo se adequa a este materialismo? E como pode ele colar a opção pelos mais pobres da Igreja ao jacobinismo socialista?
Haverá maior soberba que pensar que se pode conciliar o que é irreconciliável?
Digna de deuses tal tarefa…

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quinta-feira, março 10, 2005

Mais Uma

Passem os olhos pela edição do fim-de-semana passado da Political Theory Daily Review, que apresenta duas edições. A primeira conservadora-liberal, a segunda esquerdista... Ambas com artigos da qualidade habitual.
Na primeira edição salientam-se os artigos clássicos de Scruton e Kekes, bem como a inteligente reflexão de Harvey Mansfield.
Na segunda a tipologia arendtiana.
Só têm a ganhar...

Outra Sugestão

O Pedro Guedes prossegue o seu serviço público com a difusão de uma obra sobre Alfredo Pimenta...

Revista de Teoria Política

Tenho colocado algumas actualizações na Revista de Teoria Política.
Deixo lá também uma sugestão livreira... Dado que é a primeira vez que deixo uma sugestão de aquisição de livros na referida Revista e que é uma sugestão útil (e politicamente correcta) para todos os apreciadores da Filosofia Política, convido-vos a dar uma espreitadela.

Novas da Hidra

A propósito do post anterior, leia-se esta notícia do Santos da Casa...
Vergonhoso, mas ilustrativo!
Que ninguém venha dizer depois que não esperava uma Europa Socialista!

A Benção

Quando se fala do Tratado Constitucional Europeu existe uma quase obsessão de vários sectores conservadores na referência à importância do Cristianismo na identidade europeia. Deve ser erro meu, mas não conheço essa consciência europeia que se traduz numa identidade colectiva, numa unidade cultural. Desconheço portanto a influência do Cristianismo na referida identidade...
Ainda mais interessante é o contributo do Cristianismo na formação da cultura filosófica europeia contemporânea, cultura que se move entre um liberalismo clássico e um socialismo jacobino e existencialista, amaciado por variadas concepções de liberdade individual. É de facto fulcral a relevância do Cristianismo em ambas as concepções…
Até porque em nenhum outro espaço continental, que não a Europa, se observam estas concepções filosóficas como predominantes… Talvez aparte da América do Norte, da América Latina, da Oceânia. Pois… Bem Europeu!
Spengler tinha bem razão quando afirmava que a palavra Europa deveria ser erradicada do léxico cultural…
Não só o Cristianismo nada tem a ver com estas concepções, como elas nada têm de Europeu.

Mas o que mais deve importar é a forma como a dita Europa, profundamente anti-católica, busca constantemente sanção eclesiástica. Neste ponto os conservadores sociais europeus (os partidos populares) são mais perigosos que os socialistas. São acérrimos defensores das medidas igualitárias e anti-discriminação, de um estado baseado no contratualismo e na vontade individual (sim, esse mesmo que tem de arranjar desculpas esfarrapadas para punir o pervertido antropófago alemão que matou e comeu sob consentimento um sujeito igualmente demente)… São estes que cortejam a Igreja, de modo a que esta, com olho no negócio, santifique o Super-Estado. Pouco interessa que o Super-Estado defenda concepções opostas à doutrina católica…

Observar os cristãos preocupados com qualquer menção a um conjunto de ideias que são absolutamente ignoradas na legislação e principiologia da União Europeia é, no mínimo, caricato. Quase o mesmo que esperar que o Papa se pronuncie acerca da legitimidade da homossexualidade! E no entanto…
Será que é mesmo necessário que o Papa se pronuncie? Será que não chega observar que os princípios da UE são, como se observou nas recomendações a Portugal a propósito do aborto (deveria estar extinto até 2010), opostos às concepções de sociedade do catolicismo?

Não se percebe esta Europa…
Esperará que o Tratado se torne “mui católico” com a sanção do Papa, ou que a Igreja se torne laica e anti-ortodoxa a troco de uma existência mais pacífica?
E não se ergue…

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terça-feira, março 08, 2005

Em Viagem

Ontem foi o aniversário da morte de São Tomás de Aquino, mas não me foi possível escrever nada sobre essa figura inigualável da Cristandade. Hoje também não escreverei, por falta de tempo... Fica aqui a pequeníssima homenagem!

A Cabala

O Unica apresenta evidências de uma cabala contra Portugal. É imprescindível que leiam e divulguem! São sempre os mesmos...

domingo, março 06, 2005

O Ser e o Qualquer Coisa

Li, com a devida atenção, o texto do Prof. José Adelino Maltez a propósito do meu texto anterior. Desde logo gostaria de agradecer os elogios do Professor, que muito me envaideceram, por provirem de um “ídolo” da minha adolescência. Qualquer elogio que possa tecer ao Professor Maltez será sempre uma repetição e uma redundância, dispensando-me esse facto da enumeração de virtudes que todos conhecem.

Tenho de voltar, porém, à mesma questão. Uma questão que não é apenas o aborto, mas que reflecte a nossa sociedade e a forma como (não) encaramos os problemas morais do nosso tempo. Teremos de partir dela para obter a sinopse do problema…

A questão essencial da problemática do aborto é a não existência de duas posições sobre o problema!
Existe, neste momento, uma posição sobre a questão. A posição conglomera-se em torno da concepção Cristã de Vida Humana. Mais do que isso, conglomera-se em torno de uma posição sobre a Vida. Tem um argumento, discutível, acerca do início da Vida, na formação do Ser Humano.
Em contraponto existe uma não-posição! Não existe uma proposta alternativa (seja ela científico-materialista, religiosa ou filosófica, sequer) que defenda outro tipo de concepção de Vida Humana. O que observamos nos pró-aborto é a defesa de algo mais abjecto… ser pró-escolha! O pró-escolha não tem de decidir, de propor, de ter uma concepção alternativa. Para o pró-escolha não tem de existir um horizonte moral!
Um “multiculturalista”, por exemplo, diria que se deveria fazer prevalecer a visão da comunidade onde o indivíduo se insere. Aceitaria que a decisão se deveria fazer equacionando a posição da sociedade (a concepção fundamentada na constituição da sua própria sociedade, tomada como horizonte moral) e a acção do indivíduo. Nada disso se pode afirmar a respeito do “pro-choice”. O pro-choice não é um tradicionalista (como o multiculturalista é a favor de todas as tradições, muitas vezes de todos menos da sua). O pró-escolha é um atomista convicto! Defende a religião da Vontade e do Indivíduo!
A defesa pró-escolha defende, simplesmente a autonomia do indivíduo para determinar o que é a Vida Humana e até mesmo a autonomia de agir em absoluto desrespeito pela sua própria concepção de Vida Humana. Defende ainda a suprema loucura de afirmar que uma pessoa pode, simplesmente, estar-se a “borrifar” para a Vida Humana.
Defende assim que uma pessoa pode considerar a Vida Humana pode começar aos 65 anos, ou que pode considerar que a vida começa às 10 semanas de gestação, mas, por uma vontade momentânea decide matar (na sua própria concepção) o Ser Humano sobre o qual é responsável.
Pior que isso existe a terceira opção, que é a pessoa que se não pensa sequer nas repercussões das suas acções e por isso age apenas segundo a sua vontade, estando apenas restringida pela Lei! E se esta quiser abortar apenas para se vingar da pureza de uma criança que ainda não nasceu, ninguém pode fazer nada para o impedir!

O problema, que muitos negam, é que uma sociedade deve sempre definir os seus fundamentos, ao contrário das nossas sociedades que consideram a organização político-legal como simples resultado das vontades de seus membros!
Essa sociedade não se encontra blindada, porque não tem nenhum fundamento último!
Sendo um simples resultado de concepções privadas, não tem qualquer possibilidade de se blindar a concepções erradas (até porque não acredita que elas existam).
A Vida apresenta-se, então, como uma frágil concepção, destinada a desaparecer, num tumulto hedonista-utilitário! Basta ver-se o ataque, por via marxista ou progressista, que é movido à concepção de inviolabilidade da Vida, onde se defende que algumas pessoas, não tendo capacidades económicas para serem pais, podem, legitimamente, terminar uma gravidez! E basta ver-se como esta teoria abjecta está difundida na nossa sociedade…
Não se abeira do problema! Não observa onde há ou não um direito à Vida a defender, mas apenas a forma como pode ou não “dar jeito” o nascimento! O mesmo raciocínio se poderá efectuar (não dispondo de uma concepção fixa de Vida Humana, nem nos preocupando com isso) a propósito dos Judeus, Ciganos, pessoas com mais de 65 anos, Católicos (como fez o Marquês de Sade à população da Vendeia, ao defender o extermínio dessa espécie sub-humana).

Como começámos por dizer, a questão de que falámos não é apenas a questão do aborto! É bem mais que isso! É a forma como não se apresenta nenhuma alternativa à concepção Cristã de Vida Humana. E por isso não há uma qualquer obsessão sobre o aborto… Existe apenas a compreensão de que ela é questão paradigmática na compreensão dos erros da nossa sociedade, erros que são, em grande medida, da mesma natureza que o que apresentámos!

Uma concepção, contra uma não-concepção, uma narrativa cultural (que permite concordância ou discordância), contra um o atomismo (onde o indivíduo não dispõe de uma concepção social para concordar ou discordar, mas apenas de vontade ensimesmada)…
O Ser contra o Nada!

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quinta-feira, março 03, 2005

Mais do Que Aborto

O Prof. Adelino Maltez publicou um interessante artigo sobre o aborto. É um artigo bem demonstrativo da teoria consensualista democrática que assola o nosso país!
Considera o referido Prof. que o Estado que não é uma teocracia não tem qualquer dever de proteger uma qualquer concepção cristã de Vida Humana.
Esta concepção implica um conjunto de concepções erradas que tentaremos, muito sucintamente, abordar.

1. Um Estado que não tem na sua concepção legislativa uma orientação, um corpo moral coeso, mas em que a legislação é um acaso, um resultado de votos (que podem ser contraditórios entre si), é um Estado Injusto.
É injusto porque, em primeiro lugar, não busca ser um acervo coeso que eleve os seus membros. É um Estado em que a lei é, mesmo quando coesa, o mera vantagem da maioria, um abjecto consenso que pode englobar tudo, desde a proibição da pena de morte à tortura obrigatória de crianças às terças-feiras…
Em segundo lugar, pela própria natureza do que já observámos, não fomenta na Pessoa a Justiça… Ficando-se pela resposta do sofista “obedece-me, porque eu domino a besta!”. O Homem obedece, não pela justiça da norma, mas no cano da espingarda!
Como no início da República… Obedeçam, que nós somos mais ou mais fortes!
Um Poder digno de ratos ou ovelhas!

2. Poderá arguir o autor do texto que o Estado não pode passar a obrigar a Tortura de Crianças à Terça-Feira, porque está obrigado a não o fazer por uma questão de Direitos Humanos! Erroneamente o poderá fazer…
Com que direito exclui o Estado os Direitos Humanos Cristãos para depois aceitar a Religião Racionalista da Guilhotina?
Com que direito poderá criticar o dogma da Revelação, para impor o Dogma Privatista de Condorcet? Se o povo tudo pode, porque não revogar esses Direitos Humanos? Ou porque não pisar a máxima kantiana (proto-marxista) da Humanidade como Fim e proclamar que, se a Humanidade é sofrida, todo o Homem deve sofrer?

3. Em breve se poderá proclamar o fim dos Dogmas. O Homem não terá de fazer sentido (ou sequer de ter capacidade de fazer sentido, como viram Chesterton e MacIntyre)… Pode viver na náusea sartreana!
Chegará a altura de dar os parabéns aos que não encontram nos princípios nada mais que Vontade (sua ou de outrem)!
Nessa sociedade pós-cristã não haverá incesto, nem pecado, nem erro. Mas isto já acontece… A novidade será a ausência de referencial! O Estado deixa a moral à iniciativa privada! À medida que a ortodoxia e o dogma vão desaparecendo e sendo substituídas pela vontade de seus membros, desaparece a distância entre o “ser” e o “dever”… Tudo é “ser” porque tudo é “querer”! Não existe a mínima necessidade de religião, porque ela, tal como a política, é apenas o fruto dos nossos desejos!
Privatiza-se o público e o espiritual e eles desaparecem… Fica o privado, desnorteado pela ausência de concepções externas!

4. Não quer isto dizer, de forma alguma, que o Estado seja o detentor da Verdade. É uma tentativa errada e mal-intencionada dizer que um Estado que actua segundo um conjunto de princípios religiosos seja uma Teocracia!
É errado porque é o mesmo que afirmar que Portugal foi até ao século XVIII uma teocracia, o que é, obviamente falso!
A doutrina política eclesiástica sempre rejeitou, e bem, o Poder temporal do plano espiritual. A teoria medieval das “Duas Espadas” não é mais que a apoteose da separação (leia-se interdependência) do Político e do Espiritual. O Homem só pode cumprir a sua Natureza se se compreender no Mundo! Para esse efeito é fundamental que disponha de uma ordem que o permita viver em Bem e não em mera Paz (os escravos são, esses sim, os que vivem da Paz). A Paz Cristã nunca foi, por isso, uma mera ausência de conflito, mas um Estado de Justiça!
O Poder da Teocracia é a erradicação do Pecado.
A Teocracia Estalinista eliminava os Inimigos do Povo, por desrespeito a Deus (Progresso Histórico Proletário). Os Talibans puniam o pecado com a morte.
Os Cristãos apenas querem uma lei PRUDENTE, que permita à colectividade viver segundo a sua Tradição. Não tem nenhuma tendência imanentista de eliminar o Pecado ou de alterar a Natureza Humana. Sabe que onde o Homem existe, existirá pecado. Pune, portanto, o pecado que prejudica a sociedade e não o pecado em si…
Já a Igreja, no seu domínio espiritual tem a capacidade de sancionar o pecador (interdições, excumunhão). Mas esta não tem capacidade política!

Parecem restar poucas dúvidas de que a política sem fundamento é tirania, ainda que a tirania de veludo e a gaiola com ar-condicionado!

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quarta-feira, março 02, 2005

Visto Daqui

O Problema Conservador (I)

Mesmo nos tempos imediatamente seguintes à Revolução Francesa a reacção conservadora seguiu em variados caminhos. Nalguns movimentos prosseguiu o caminho anti-moderno, noutros procurou um diálogo de contenção com as ideias modernas, noutras ainda prosseguiu uma ou outra ideia central absolutizada.
É esta cisão fundamental que dá ao conservadorismo grande parte da sua indefinição, bem como grande parte das confusões na sua análise.

Sobre a primeira vertente falar-se-á posteriormente e com maior detalhe posteriormente, pois é dela que provém grande parte das análises que aqui expomos com maior frequência.

A segunda vertente que aqui mencionámos é a origem da grande parte das reflexões sobre o conservadorismo com que nos deparamos habitualmente. Uma forma de pensamento que se baseia num conjunto de premissas que focam essencialmente a descrença no racionalismo. É desse cepticismo e de uma postura de “contenção” face às posições modernas que surge o conservadorismo-liberal.
Com a desilusão face à Revolução, com a constante instabilidade governativa, com o agravamento das crises sociais, surge uma solução conciliatória. É esta concepção híbrida que se forma como solução a essa crise. Uma solução conciliatória em que a preocupação com os fundamentos para a ordem foi preterida em favor das teses contratualistas, ou por um cepticismo pragmático. Ainda hoje o conservadorismo liberal enferma destas maleitas, maleitas que constituem a sua essência. Ainda hoje vemos a direita enfileirar-se nas mesmas proposições liberais, na esperança (que se esperaria caída por terra após dois séculos) de conter o avanço da modernidade. Em boa verdade nenhuma dessas concepções provou qualquer capacidade de conter as falsas ideias progressistas, relativistas, positivistas. Basta indagar em que momento terá esse conservadorismo conseguido estancar a hemorragia…
As razões do insucesso prendem-se sobretudo com a própria natureza do movimento.
Olhando para Disraeli, por exemplo, observamos a completa ausência de um ideário articulado. As acções políticas são no governo de Disraeli movidas essencialmente pelas necessidades de uma cultura moderna já perfeitamente assimilada. As medidas democráticas de Disraeli (extensão do sufrágio, eliminação de algumas tradições eleitorais, sua substituição por concepções racionalistas de representação) não têm qualquer fundamentação conceptual. São um conjunto de medidas que visavam a conquista de eleitorado aos Whigs, algo que logrou através da destruição das estruturas intermédias da Nação justificada pela “lamechice” do One Nation Conservatism, em que o Governo passou a ser, sob um pretexto sentimental, a principal fonte de dependência do povo. Um governo à moderna, de massas dependentes, onde o papel dos poderes intermédios e onde o armorial das instituições foi pisado pelas concepções geometristas da Revolução. Caem assim muitos mitos sobre o conservadorismo inglês…
Pior que isso, Disraeli encontra como fundamento do Poder um cepticismo, na linha iniciada por Hume, uma fórmula que redunda num utilitarismo (a mais abjecta e simplista de todas as concepções filosóficas). Disraeli aceita a fórmula utilitarista de que a política é “maior felicidade, para o maior número”[1], embora achasse caber ao Governo o julgamento de tal fórmula.

É a afirmação do cepticismo que conduz ao pragmatismo e à aceitação da limitação espiritual utilitarista, ideia que comparada com o marxismo (em grande medida seu sucedâneo) até dá ao último uma quase respeitabilidade e profundidade que nunca teve.

Este tipo de conservadorismo, que é defendido no século XX por pensadores como Michael Oakeshott, Kenneth Minogue, Anthony Quinton, ou os Neo-Conservadores de Irving Kristol e não é na verdade um conservadorismo. É antes um argumento pró-liberal, onde todas as posições que se desejam conservar são posições liberais ou mesmo uma estrutura de Direitos Humanos jacobina e deísta.

É esta ausência de uma concepção original, de uma posição que se afaste da parcialidade das soluções burguesas[2] ou populistas[3], que impede que o conservadorismo se afirme como ideia política autónoma. Basta, para esse efeito, ver a navegação por cabotagem que grassa neste conservadorismo-liberal e a forma como uma perda de uma concepção articulada, de defesa dos valores tradicionais da nossa civilização.


[1] Na linha dos grandes desvirtuadores da obra de Burke, que ainda hoje vão proliferando, sobretudo na Europa.

[2] A concepção liberal é essencialmente proprietária, predominando a concepção de propriedade sobre a justiça total da sociedade.

[3] Sejam elas socialistas, justicialistas ou revanchistas.

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terça-feira, março 01, 2005

Benvindos

É sempre uma grande alegria ver novos comentadores, como o Fernando Lemos, o Diego Barreto, o Miguel, o nosso amigo Geraldo...
A vossa companhia é uma prazer!

Para Mais Tarde Recordar

Há uns tempos, o nosso amigo Manuel Azinhal elogiou-me a propósito da despojada “bloguice” a que chamo Revista de Teoria Política. Perguntava o nosso amigo de Além Tejo que mais surpresas teria eu…
Respondo eu! Não tenho de certeza nenhuma surpresa de calibre igual à publicação de Memórias inéditas de Couto Viana
Um obrigado ao Manuel, que assim faz o trabalho que deveriam fazer os jornais e as televisões em vez de andarem atrás dos Cachapas, das Rebelos Pintos, dos Prados Coelhos (o júnior, o júnior!)…