sexta-feira, janeiro 30, 2009

Vamos Coroar Abril!










Em vez de pensar em chefes-de-estado, em pretendentes e sucessores, em ir a jogo ou esperar vez, os monárquicos dever-se-iam preocupar com a fórmula constitucional que desejam para o país. Precisamente o inverso do que está a acontecer.
A actual constituição é absolutamente impossível de conciliar com um sistema monárquico de qualquer espécie, uma vez que consagra o princípio democrático como única forma possível para a eleição de representantes. O salto lógico de uma constituição como a nossa para uma constituição monárquica-constitucional é tão grande que implicaria a revisão dos seus princípios estruturantes e a esvaziaria por completo. Pensar que seria possível, por referendo ou por via parlamentar, reformulá-la nesse sentido é algo que ninguém no seu juízo perfeito crê. Podem estar bem descansados por isso todos os monárquicos. Ainda que se conseguisse convocar e ganhar um referendo*, ainda que se conseguisse ter alguma força parlamentar, de nenhuma forma seria possível adicionar um chefe-de-estado não eleito (há sempre a possibilidade de ter uma monarquia electiva, mas para isso já lá está o Cavaco) e convencer a esquerda a aceitar as revisões necessárias ao novo regime. Sinceramente não vejo onde está o realismo e o bom-senso de tudo isto...
Por isso quando a muito estimada Cristina afirma que não quer ser vista como utópica e irrealista, há que esclarecer, em primeiro, onde está o realismo de tudo isto. Onde pára o bom-senso dos que acreditam que duma constituição social-democrata com tantas influências terceiro-mundistas (ah, a doce Jugoslávia!) pode nascer uma instituição como a monárquica? Nisto tudo falta bom-senso, mas falta também uma compreensão do regime político-constitucional actual. Quem acha que basta retirar a forma republicana de regime dos “limites materiais de revisão” da CRP ou se engana ou faz por ser enganar.

Depois temos a questão do Miguel, que acha que qualquer monarquia é melhor que uma república. Não concordo de forma alguma, porque a Monarquia deve ser a sagração de Portugal e não a coroação do Anti-Portugal. Quem está contente com a “república como está” são todos aqueles que nela se querem enquistar e beneficiar, com um simulacro da instituição mais portuguesa, os ideais anti-portugueses. Máxima imprudência é achar que se numa ordem constitucional como a actual se acrescentasse um monarca, o país iria acordar mais português, a pátria mais livre, a comunidade mais forte. O que é irrealista é pensar que alguma coisa mudaria se houvesse um monarca em vez do PR, ou que um Rei que estivesse, à maneira inglesa ou nórdica, nas mãos dos executivos iríamos ter um país mais limpo e com menos corrupção. E que bonitos valores tem transmitido o Rei Juan Carlos, o rei de Zapatero, que aceita as "leis de memória histórica", a destruição da família e se mantém silencioso ou aplaude. E esse Rei de Abril deteria o poder da Monarquia Constitucional de nomear e remover governos ao sabor do que ditam as elites, ou ficaríamos nas mãos do executivo sem apelo nem agravo à boa maneira dos países com concetração de poderes no executivo? Troco essa Monarquia por uma República de valores cristãos e tradições portuguesas sem pestanejar.

A estas perguntas simples de mera compreensão do regime actual os monárquicos respondem com o silêncio bizarro de quem esconde as cartas apesar de há muito estar excluído do jogo. Irrealismo e utopia maior que essas não conheço.
Há para os monárquicos desse “estranho realismo e bom-senso” uma esperança. Que uma das forças deste regime precise deles para destruir o que resta deste país.

Comigo, felizmente, os monárquicos não têm de se preocupar. Sou só um gajo que têm um blogue. Não emperro negociações, não faço pressões, não pertenço a movimentos monárquicos, não tenho títulos, não uso casacos de botão dourado, não pertenço àqueles grupos que se alimentam socialmente de relações com SSAARR, não quero ser deputado europeu.
Queria apenas que a Monarquia servisse para defender Portugal. Não servindo...

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*Esclareço desde já os mais incautos de que o referendo na ordem constitucional portuguesa não tem carácter vinculativo ou legal, funcionando apenas como uma instrução do soberano ao legislador e não tendo qualquer valor legal, mas valor político, tendo a AR obrigação política de como achar melhor as pôr em prática.

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quarta-feira, janeiro 28, 2009

Algumas Reflexões sobre o Perigo da Monarquia












A actual ofensiva monárquica em torno do constitucionalismo monárquico e da sua legitimação é um erro monumental que a Ideia Monárquica pagará muito caro. As gerações vindouras, que buscarão alternativas ao seu tempo, deparar-se-ão com um deserto intelectual e uma obsessão com a legitimação do presente. A única coisa que se ouve aos monárquicos de hoje é «a monarquia é muito adequada àquilo que vivemos», o que, sejamos sinceros, não tem qualquer validade quando esse presente se alterar.
Esta visão curta dos nossos monárquicos remonta ao século XIX e a todo o conjunto de falácias que o abjecto regime saído das Guerras Liberais gerou, com a sua plêiade de barões novos-ricos e sanguinários da guerra-civil, a sua obsessão com o modelo inglês ou francês, a sua inspiração claramente maçónica encoberta pelo Catolicismo como religião oficial, pela maioria dos deputados e representantes ajoelhados perante as ideologias do Progresso, os positivismos e os utilitarismos (autênticas filosofias de pocilga que haviam de seguir da monarquia de republicanos até à República).

É até possível que a Monarquia do Norte tenha falhado por causa dos Integralistas. Não acredito, mas não é importante para o caso. O que é certo é que os que tinham a monarquia e as vetustas instituições na boca, foram os primeiros a quererem silenciá-las. Porque não aceitaram estes as antigas instituições e juras constitucionais com a carga religiosa correspondente da Nação Antiga? Será que seria por preferirem ajoelhar perante as efígies de Bentham, Comte e Rousseau? Será por colocarem esses ídolos acima dos Princípios da Nação? Há aqui um erro essencial. Para quê retroceder ao regime anterior, quando o regime caiu por falta de monárquicos?

Hoje os monárquicos fazem essa mesma escolha. Escolhem um regime monárquico por este ser mais republicano e democrático, numa paródia sem fim. Querem voltar a essa monarquia que é igual à república, esquecendo-se que a maior parte dos portugueses já não se revêem em qualquer representação tradicional. O que foi nos tempos pós-Sidónio uma alternativa de ordem é hoje uma alternativa de caos, de um representante tradicional armado em presidente ou “conducator” democrático. Para isso o presente já tem o seu presidente.

Uma ordem política monárquica ou republicana que não tenha como finalidade princípios transcendentes, que não inculque a Virtude, que não compreenda a essência natural do político e a sua subordinação a uma Justiça Maior, não me interessa para nada. A Monarquia Constitucional e a do Norte condenaram-se por serem fruto de homens de ideais republicanos (todos os que acreditam que a Constituição e a Religião são produtos da vontade popular). Não me interessam para nada, como os gráficos com os PIB’s, os gastos com o Chefe-de-Estado, ou os índices de criminalidade monárquicos e republicanos. Tudo isso é vulgata republicana que deveria causar indiferença ao monárquico.

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Tradição Católica





Queria agradecer à Magdália as simpáticas palavras que me dedicou, elegendo este blogue como um dos melhores da Tradição Católica de Língua Portuguesa. Fico muito agradecido e espero que a Magdália perceba o quanto são importantes os seus elogios num tempo em que é fácil desanimar, esperando que não fique desalentada pelos insultos de que muitas vezes é alvo.

terça-feira, janeiro 27, 2009

A Religião como Braço Transcendente do Poder


“Se Deus criou o Homem racional e com tendência para racionalizar tudo o que observa à sua volta, por que não poderá uma concepção racionalista da política estar próxima e/ou ter como guia os valores do Catolicismo e do Cristianismo de forma geral?O Deísmo protestante terá nascido por geração espontânea, ou ele não será mais que uma herança cristã-católica, mas descentralizada da hierarquia de Roma, para criar uma sociedade com valores morais consistentes e objectivos que deram origem uma sociedade próspera ampla e profundamente religiosa? (Tendo nós como exemplo flagrante os primeiros colonos dos EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.) Por que haveria Pera, pretendendo ele "uma Europa cristã" de ignorar o legado pós-Reforma? Será a visão sectária de cada uma das Igrejas cristãs aquilo que poderá ajudar a edificar uma Europa e um mundo cristãos?” - Pedro Félix -


Parece-me que o Pedro Félix confunde racionalidade com racionalismo, sendo isso que está a prejudicar a compreensão do problema. A racionalidade faz parte da Tradição Cristã. Poderá alguém dizer que São Tomás não era racional? Pode-se dizer que não é racionalista, ou seja, não acreditava no materialismo, em que os factos e a materialidade seriam a chave para o conhecimento, numa representação de um Deus encoberto e revelado pela Natureza e não pelo Sobrenatural. Ou seja, racionalismo e deísmo são incompatíveis por completo com o Catolicismo e a sua visão sobrenaturalista do mundo.
Ora o Pedro Félix comete aqui um segundo equívoco. O facto de achar que pelo Deísmo vir do Cristianismo é compatível ou o mesmo que este. Tal não corresponde à verdade, porque o papel que é atribuído à Tradição é relegado para um papel contingente e o conhecimento de Deus passa a ser um "direito humano", em vez de uma prerrogativa dos que acedem ao espiritual. No meio de tanta "objectividade" a única coisa que o protestantismo conseguiu produzir foi um deus para cada cabeça. A religião da dúvida ou da Razão... E então o Estado veio com os seus Direitos Seculares e Força ocupar o lugar do Certo e Errado. Ora, pode o PF dizer que essa visão gerou mais prosperidade, mas essa é uma categoria que não é moral. Se acredita que a prosperidade é uma categoria moral, acredita que "might is right", uma expressão evidente do Mal e anexa o certo e errado às cotações da bolsa, ao resultado das guerras, a uma corrida de cavalos.
Há um problema central na identidade que interessa reflectir. Nenhuma pessoa pode ser simultaneamente uma coisa e o seu contrário... Ou seja, uma entidade não pode ser simultaneamente naturalista e sobrenaturalista, nem deísta, maçónica, laica ou agnóstica e Cristã, da mesma forma que não se pode ter um metro 1,64m e 1,87m. Quem aceita este tipo de identificação contraditória é porque tem na identificação uma arma para projectos políticos. A religião como braço transcendente do tal “might is right” pode ser muito útil, mas é o contrário do que deve ser a Religião – a procura da ordem das coisas e a reordenação da alma segundo esse princípio. Isso não é mais do que Ideologia.
O Pedro Félix fala do sectarismo das igrejas cristãs do ponto-de-vista de quem não acredita em nenhuma. Só assim se explica que prefira o Poder do Cristianismo, à sua Verdade. É que é preciso ser muito imaginativo, ou ver o Cristianismo de muito longe, para não perceber as insanáveis diferenças no seu seio. Para as esquecer com desejo de mando, o problema já é outro e mais profundo.

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, Esperança, Justiça...


Enquanto houver memória de Portugal e portugueses que a cultivam...

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Pêra Manca















Terminei hoje a leitura de “Perché Dobbiamo Dirci Cristiani” de Marcello Pera (livro aqui citado pelo André Azevedo Alves). Li-o por sugestão de amigos e para perceber, através da missiva do Papa ao autor, qual a linha argumentativa da Igreja para se “adequar ao mundo”. O livro é uma sequência de equívocos e meias-verdades sobre o Cristianismo e o Liberalismo que tem uma finalidade clara, mas um argumento de seriedade duvidosa.
Primeiro que tudo a linha argumentativa é muito semelhante à de Joseph Weiler em “Para uma Europa Cristã” e não apresenta novidades significativas, excepto uma visão mais descritiva (embora muitas vezes descontextualizada e omissa) dos fundadores do liberalismo no que respeita ao Cristianismo. Por isso o livro é quase um eco de argumentos democrata-cristãos (uma ideologia mortiça do passado) para que o Estado-laico persista com preceitos do Cristianismo.
No meio do requentamento de algumas ideias antigas, mal disfarçadas de coisa nova, um conjunto de confusões vêm à tona e sobressaem. Pera afirma que o liberalismo só existe no contexto do Cristianismo e do seu jusnaturalismo. Isso é verdade, mas esquece uma verdade mais essencial, que o liberalismo provém de uma concepção Cristã que é incompatível com o Catolicismo e que se apoia num deísmo protestante para criar um Deus que não deixa ensinamento terreno e deixa o campo da moralidade política para a racionalidade humana. Locke sabia isso ao condenar os Católicos à exclusão da sua tolerância. Infelizmente Pera gosta muito de Locke, mas esqueceu-se disso...
Este esquecimento de Pera é, porém, muito revelador. Pera propõe-se a compatibilizar o incompatibilizável e a assumir a visão política Católica como mero membro desse Cristianismo que é fundador do liberalismo (a ideologia que pretende preservar e que é o seu quadro de valores), cria uma ideia de proximidade entre o Catolicismo e Protestantismo que só é real em mentes capazes de dobrar o real à sua vontade (Pera é bem capaz disso, como se verá). Mas se é assim, porque estranha razão foi preciso derrotar militar e espiritualmente o Catolicismo na Europa para que o liberalismo se afirmasse na Europa? Afirmá-lo seria afirmar que os Papas anteriores ao liberalismo não estariam em perfeita sintonia com os verdadeiros valores Cristãos, o que diria muito sobre as reais intenções do autor.
Pera afirma querer o Jusnaturalismo Cristão como modelo de edificação europeia (à semelhança dos EUA), com vista a criar uma reserva de Direitos Fundamentais. Infelizmente, a única coisa que Pera faz é, ao bom estilo dos seus mentores deístas e racionalistas, criar um Deus que serve os seus interesses políticos (as liberdades e tolerâncias) esquecendo todo o acervo Cristão (Católico) sobre os limites à liberdade e tolerância que o autor olimpicamente ignora. Se Deus serve como referência para a inviolabilidade dos princípios políticos, talvez ignorar o acervo religioso que se está a defender talvez não seja boa ideia... a não ser que, como disse, se esteja a falar de uma religião, o Cristianismo, que é uma síntese metafísica liberal que está na cabeça do autor. Mas se entramos nesta maravilha moderna dos deuses privados, talvez não nos encontremos muito longe do “Crepúsculo dos Deuses” ou dos sonho nietzschano de muitas figuras do Reich. Que liberdade subsiste nessa visão de Deus?
Não me interessa muito a sensibilidade de Pera ao projecto político da Igreja. O autor erra e erra muito. Quando condena a Igreja não o faz porque esta não esteja a defender os princípios de Cristo, mas porque não se mantém na linha liberal. Deve ser o deus secular que lhe fala ao ouvido e mais alto que o Outro.

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Com Atraso...

Dois Anos de Saudades do Futuro.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

No Vale das Sombras














O Mundo assistiu ontem à grande missa laica de entronização do seu rei. Não duvido de que muitos se reviram naquela cerimónia confusa de patriotismo, religião e idolatria. Carregando dores de pessoas que não existiram, injustiças históricas que não compreendem, mas que compraram com medo do “universalizável” kantiano, os povos do mundo uniram-se hoje para celebrar um futuro que não conhecem.
Quem percebe a política dos últimos sessenta anos pode perceber o triunfo desta mensagem vazia. Transformados os últimos portadores de uma civilização em consumidores, em meros receptáculos acríticos dos impulsos sensuais veículados pelos meios de comunicação, em servidores do conforto, em seres incapazes de aceitar qualquer norma de conduta que não assente nos seus caprichos mais infantis, chegou a altura de criar um povo mundial. Removem-se as culturas, as crenças profundas e fomenta-se um desejo de ser como o outro e caem finalmente as ordens políticas e as comunidades de sentido sem as quais não há Justiça. Todo o Progresso foi erguido por este desejo de ser o outro, de renegar raízes, e este só se consegue através da criação de um pesadelo de que a igualdade e a liberdade libertam.
Qual é o povo desta Terra que não deposita mais esperanças em Obama do que nos seus próprios governantes? Qual o povo que não preferiria ser uma estrela cosida no “star spangled banner” do que aceitar a escassez que o atormenta? Quantos povos não estão dispostos a esquecerem-se de si para que tenham mais poder, mais dinheiro, mais pão?
O homem vazio é o grande apoiante do Tirano e o cosmopolitismo o seu regime. Ver milhares de africanos nas ruas a celebrar um presidente americano que não conhecem e que defende medidas que serão muito prejudiciais aos países africanos (o capitalismo de Estado significa a estagnação das economias africanas) é apenas um prenúncio sinistro de uma “vontade popular legítima” desligada da realidade e de qualquer obediência racional, movida pelos tribalismos e racismos (a identificação da raça como factor preponderante da identificação individual) que muitos afirmam que acabarão com Obama. Tudo isto é demasiado ridículo, mas continua no sentido do esvaziamento dos conceitos imperativos de que se fazem as comunidades e o seu cimento real, a Justiça até à criação da massa amorfa e da grande máquina (impessoal e utilitária) que a adestra.Quanto mais vazio o homem, mais capacidade tem a máquina de o satisfazer, sugando-lhe assim a vida para a obtenção de finalidades meramente pessoais. O Tirano, ao contrário do que se diz por aí, é perfeitamente consentâneo com as vontades pessoais e da maioria. A diferença entre um Tirano e um Governante Legítimo não tem relação com os desejos da maioria e da minoria, mas com aquele que funda a sua acção numa Construcção Maior. Uma lição dos Antigos que os Modernos irão pagar caro...

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terça-feira, janeiro 20, 2009

Uma excelente iniciativa do Professor José Adelino Maltez está agora ao dispôr dos estudantes, estudiosos e outros interessados nas coisas da política. Uma base de dados com eventos, imagens e textos explicativos que tem, entre outras virtudes, a supervisão do Professor Maltez e a coragem de ser independente do "negócio universitário".
Uma ferramenta útil para todos e que espero seja muito visitada, porque só assim pode ser ajudada e melhorada.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Um Marco de Persistência

Cumpriram-se anteontem cinco anos de A Ágora, do meu amigo João Pedro Pimenta, rapaz memoriado e possuidor de conhecimentos incomuns para a nossa geração.
Um blogue feito com cuidado, dedicação e persistência, que cumpre uma bonita idade.
Realço um texto sobre o provincianismo português e a histeria obamista que é muito bem observado.

sábado, janeiro 17, 2009

Heróis de Ontem e de Hoje












De tão preocupados em fomentar memórias de gente que nada fez em Portugal e no Mundo e de figurões esquerdistas de todos quadrantes, os nossos governantes esqueceram-se de celebrar a vida e obra de Luís de Almeida, padre jesuíta, introdutor da medicina ocidental no Japão, fundador de orfanatos, hospícios e leprosarias por aquelas paragens. Percebo bem o incómodo. Um padre a difundir a arte e ciência da medicina no século XVI é coisa que não agrada aos dos costume. Felizmente os japoneses não esquecem um dos muitos heróis portugueses do Oriente e celebram a chegada do padre jesuíta (em 1557) como verdadeira benção, ostentando ainda o Hospital de Oita o nome de Luís de Almeida.
Mais uma demonstração de como o obscurantismo católico trouxe tantas maleitas ao mundo e manchou o nome de Portugal. Felizmente o nome deste país, hoje em dia, só anda nas bocas do mundo por boas razões. Que o digam os jornais ingleses...
Os portugueses que desertaram Portugal têm o país que merecem.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Precisa-se Compêndio de Doutrina Monárquica














Há muito que não vejo publicações de doutrina monárquica e por isso acredito que a questão colocada pelo Tiago Moreira Ramalho não como ofensiva, ou sequer argumentativa, mas como mero reflexo do desconhecimento geral que esta proposta política tem hoje.
No meio do muito que se escreveu a este propósito nesta blogosfera nos últimos dias, gostaria de salientar o texto do Miguel Castelo Branco, que, ao contrário do que se julga, vai contra o “democratês” instituído, esparrela em caem tanto o Samuel (involuntariamente, creio) como o João Gomes (ideologicamente, penso).
Não existe no texto do MCB qualquer tentação de ver a democracia enquanto espelho ou nivelador da monarquia. Existe um argumento simples, escorreito, monárquico, de que o Rei e o lugar decisor do Chefe-de-Estado não podem estar à mercê de escolhas sociais e maiorias, de negociatas e facções, da SIC e da TVI, de mandatos imperativos. Que a verdadeira e primeira liberdade passa pelo genético ponto de aceitação do passado enquanto transmissor de valores e referências que nos enquadram no mundo.
O texto do Miguel é muito interessante porque foge ao lugar-comum, mostrando como a constitucionalidade só existe onde a vontade popular e a abstracção colectivista não impera (uma batalha constante desta pasquinada) e como a legitimidade verdadeira tem fundamento no Ser (já escrevi sobre isto lá atrás, a propósito de como o nosso Ser é composto pela forma como nos relacionamos com o que está acima…) da comunidade e não do colectivo ou indivíduo.
Já quanto a caucionar a Monarquia com a liberdade liberal e as legitimidades weberianas, entramos em terreno perigoso. É verdade que muitos países de liberdade liberal são monarquias, mas será por isso que são livres? É que uma das características desses casos de sucesso do liberalismo é que nenhum deles fala português… Vamos mudar de idioma?
O que é preciso mesmo acabar é com esta ideia de que para um democrata o que o Rei tem de defender é a Democracia, para um socialista os pobres, para um liberal a liberdade. Isso não é mais do que república e transformar o Rei num chefe-de-secção.
O texto do Miguel é um excelente antídoto para esse estado-de-coisas.

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quarta-feira, janeiro 14, 2009

A Metade que Faltou

A pedido de amigos, que a comunicação social e a sua agenda “progre” não manda aqui, decidi-me a escrever umas linhas sobre as declarações do Cardeal Patriarca. Antes de tudo parece-me que as declarações não têm nada de especial. Apenas um aviso de que uma mulher que se case com alguém que professe a fé islâmica, terá de observar um conjunto de preceitos e aceitar uma forma de vida que possivelmente não se coaduna com a sua cultura e hábitos de vida. O mesmo se poderá dizer de uma mulher que se case com uma estrela de futebol egocêntrica, com um militar, com um budista... A afirmação é tão banal e simples que não mereceria qualquer atenção, não fosse a existência de um exército de “jornalistas de causas” e de uma pressão insustentável para que se veja o Catolicismo como foco de intolerância religiosa que combate contra o acervo de liberdades e garantias multiculturais do Estado pós-moderno. São sempre os mesmos, com um mesmo propósito: demonstrar que apenas quando não houver propostas morais-religiosas a liberdade será atingida. Só quando ninguém acreditar que existe Bem e Mal poderá reinar o caos da força e o Homem finalmente servir o Homem, sem apelo nem agravo... Quem leu Dawkins ou Hitchens percebe rapidamente a vontade de criar uma ordem meramente humana (onde cada um é como quer, desde que ajoelhe perante o Leviatã) e como esta é maior das Tiranias, ao bom estilo da “godless” URSS, a quem desculpam os “exageros”. É singular, mas ilustrativo, que sejam os que mais desprezam a capacidade de ver qualquer Ordem Superior no universo, quem mais se preocupa com as afirmações dos que acreditam que Esta existe.

Se o Cardeal Patriarca tivesse tido a ousadia de relembrar os católicos e suas legítimas esposas e noivas das obrigações e preceitos políticos e morais que devem seguir, talvez a declaração tivesse algum préstimo. Mas do que percebi, no meio dos bocejos de que sou acometido cada vez que ouço o senhor Cardeal Patriarca, não existe diferença em termos de costumes entre os que que professam a Fé e os que se renderam à cultura pós-religiosa e modernaça das capelinhas socialistas. Estranhamente o Senhor Cardeal Patriarca não mencionou os perigos de uma mulher católica se casar com um comunista, um niilista, um abortista... Um lapso que emendará certamente.

O Regresso à Blogosfera

Com algum tempo para espreitar os blogues dou por algumas novidades interessantes.
O Cacique que quer reencontrar o caminho do pensamento patriótico e que me dedica simpáticos e exagerados elogios.
O católico e interessante Fiat Lux que visito constantemente.
A militância constante do Samurais de Cristo.
A transformação de um demokrata em Reaccionário.
O triste abandono do Duro das Lamentações.
A alegria de ver textos no Estado do Tempo.
Que um dos melhores blogues da Direita pouco fala em política.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Política de Suinicultura











Comunismo e Liberalismo não são apenas duas ideologias modernas, mas um mesmo propósito de sociedade. Qualquer destas formas políticas tem uma escatologia própria mas uma utopia terrena e um desígnio muito semelhante, a criação de uma sociedade que gira em torno de desejos e recursos. Esse tema central de ambas as ideologias corresponde à obsessão generalizada da Modernidade, a ideia de que tudo é expressão de materialidade e que toda a resposta é quantificável, facto que conduziu a que o “Bem” religioso e alter-mundano, fosse traduzido nas religiões seculares da Modernidade por “Mais”, sob o beneplácito de Maquiavel. De um lado os que acreditam que a sociedade, num passe de mágica, pode criar uma sociedade em que todos têm a sua ração, do outro os que acreditam que das várias interacções humanas emerge uma distribuição melhor da mesma ração. Duas religiões com obsessões quantitativas e apetitivas.
É também por isso (noutros casos apenas por uma vontade servil de se colocar aos pés dos detentores do poder) que o Liberalismo tolera bem o Comunismo. E pela mesma razão ambos observam o Cristianismo como inimigo a ser conquistado e dominado pela vontade dos governantes, como se observa pelo cesaropapismo britânico fundamentado por Locke e pelas nacionalizações religiosas dos comunismos que se verificaram por esse mundo fora. Tanto o Comunismo como o Liberalismo têm perfeita consciência de que só sobrevivem numa sociedade de impulsos e desejos e em que toda a repressão é injustificada. Prazer e Dor, Desejo e Satisfação, são os elementos essenciais dessa sociedade suinizada de resposta a impulsos. Qualquer apelo à Virtude, à medida do Homem que proporciona acesso a bens não quantificáveis e qualitativos, é por isso banido por extra-subjectividade. O epíteto “fascista” deixou o significado original de movimento político de massas, para se dizer daquele que não acredita que o indivíduo-átomo é o destinatário final de toda a política. Qualquer pessoa que se recuse a aceitar que os laços humanos são mais importantes que uma individualidade possessiva, que não tem outra finalidade que não seja a total plasticidade do Homem para obter uma total submissão ao poder e ao tempo, quebra a grande premissa de Comunismo e Liberalismo: que devemos todos estar juntos (comunismo) ou separados (liberalismo) para que possamos no fim caber nessa orgia de auto-satisfação do ponto-ómega do Progresso ou da sociedade em que cada um vê satisfeitas as suas necessidades.
É frequente ver-se por aí muita gente da “direitinha” e dos que, espertos, fazem pela vidinha, dizer como o ideal comunista é bonito, mas impraticável. Todo o porco sonha com a pocilga...
Também sou o “fascista” dessa rapaziada.

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segunda-feira, janeiro 05, 2009

Orgulho no Preconceito














Há uns tempos numa dessas telenovelas da ficção nacional havia (imagine-se a originalidade) dois irmãos que tinham iniciado uma relação amorosa. No meio dos dramas que desta surgiram, surgiu uma voz, um amigo dos sujeitos em questão, de perfeita clarividência modernista. Do alto da sua sabedoria questionou os seus amigos sobre a razão por que estes não levavam a sua relação em diante ignorando todos os preconceitos e práticas estabelecidas. Porque se haveriam os amantes de submeter às concepções de amor, família e sociedade de outros? Porque razão não poderia o seu amor superiorizar-se às convenções sociais e religiosas?
É evidente que na telenovela em questão o autor acabou por fugir à questão. No meio de tanta conversa de fim dos preconceitos e das formas de vida que não são escolhidas pelos indivíduos, veio-se a demonstrar que estes não tinham laços de parentesco e a discussão tornou-se irrelevante para o desfecho. A questão, porém, perdura com toda a acuidade. Apesar do autor da novela ter decidido manter este preconceito como parte essencial do enredo, e apesar de saber que todos os preconceitos não têm razão de ser, não criou nesta questão um ensinamento que levasse a sociedade (da telenovela) a agir melhor. Quando comparada com o uso de drogas, a homossexualidade e outras práticas que as várias personagens da novela vão aprendendo (sendo repreendidos por outros) a aceitar como meros convencionalismos, a reacção do autor é claramente branda e deixa que toda sociedade permaneça sem eliminar esse último bastião do preconceito e do moralismo (um palavrão no léxico modernista).
A questão é muito interessante e mostra bem como toda a pseudo-moralidade moderna é um ídolo com pés-de-barro. É evidente que o argumento eugenista que tantas vezes é aduzido pelos secularistas para serem contra o derrube deste tabú da sociedade, a probabilidade de nascerem filhos deficientes, esbarra com um conjunto de ilogicidades. Quem pode ser contra a convenção social e depois proceder a uma selecção societária de critérios de normalidade física que impedem os pais de se reproduzirem? E quem defende que um Estado tenha capacidade para determinar a esterilidade dos cidadãos, não defende que não existe qualquer forma de liberdade a salvo deste?
Sem a presença de um elemento religioso-moral como é possível que se impeça o amor entre duas pessoas que se amam e querem viver como conjugalmente? Não terão estes o direito de estabelecer nietzscheanamente as fronteiras e limites do seu amor?
A fonte de toda a liberdade vem da aceitação dos limites do Eu e quem não aceita os limites arbitrários da família para a ordenação da sua vida e do seu amor, será por certo um pai tão extremoso que não deixará de ter intenções amorosas com os seus filhos, um neto que pretende eliminar a concorrência do avô no coração de sua avó e uma mãe para qual o filho é uma potencial fonte de prazer sexual. O Inferno na Terra está ao alcance dos destruidores do preconceito, com a cumplicidade dos que acham que o Cristianismo acaba à porta da igreja.