terça-feira, janeiro 31, 2006

O Teatro do Absurdo

Na questão do Nuclear Iraniano há algumas coisas que permanecem por explicar.

Os anos 60 assitiram a uma estranha mudança de princípios no seio das organizações institucionais, uma mudança da ênfase na soberania para a adopção de um posicionamento “terceiro-mundista”, que defendia a violação da estrutura interna dos Estados, em favor de um conjunto de direitos sociais de 3ª geração (auto-determinação pela vontade, direito ao bem-estar e satisfação material, direito ao progresso...).
Através desta nova ideologia, defendida com “unhas e dentes” pelo Sistema das Nações Unidas e inspirada na Conferência de Bandung (muito bem frequentada, por sinal), justificou-se o fim da vantagem dos povos colonizadores europeus nos seus territórios africanos. A Europa estava a sufocar todo o mundo e a injustiçá-lo nas razões de troca.
A violação do “direito ao progresso” das populações não europeias era razão para a independência e formação de novos Estados que iriam, por seus próprios meios, prosseguir o desenvolvimento dos povos e atingir o paraíso na Terra.

É interessante que a concepção de “direito ao progresso e bem-estar” se mantenha em todas as declarações de Direitos Universais que temos. E nem sequer se pode dizer que elas sejam vazias ou desprovidas de coecibilidade, uma vez que segundo a sua égide se fez a maior reestruturação na ordem mundial dos últimos seis séculos.

O que é paradoxal é que a ordem internacional que salvaguardou esses princípios e não viva segundo esses princípios. O facto do Irão querer fazer pesquisa nuclear para fins energéticos (está-se mesmo a ver, não está!) lança-nos num problema grave.

Numa palestra recente o Prof. Vasco Rato afirmou que o Irão tem todo o “direito a ter tecnologia nuclear”, para em seguida afirmar que “mas infelizmente não a pode ter!”.
Ficámos a saber dos notáveis poderes de paradoxalidade do referido Professor.
Uma tonteria que se explica apenas pela confusão filosófica (ou ausência de filosofia) que se encontra na dita cabeça bem-pensante.
Que pensaríamos se se dissesse que os portugueses têm direito à vida, para afirmar, em seguida que, lamentavelmente, não a podem ter?
Isto demonstra a radical incapacidade dos Direitos Humanos em assegurar o que quer que seja...
Demonstra que, no fim de contas, o Direito Internacional e Cosmopolita (Cogente) não tem qualquer carácter normativo e que é uma linda fábula para justificar o poder fáctico e que lança tanta gente (mesmo douta) em disparatadas explanações de princípio.

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segunda-feira, janeiro 30, 2006

Do Gamanço!!!
















Se quiserem ouvir umas malhas reaccionárias podem seguir este link!
Chouannerie, Action Française, Royalistes...
Umas horas bem passadas!

A imagem foi obviamente roubada ao MCB (se souber o autor e título fico muito grato) e o link ao Camisanegra...

domingo, janeiro 29, 2006

Da Política Prática

Acredito no tempo, na condicionalidade como essência da Natureza Humana, na necessidade de compreender o que é preciso fazer, como e quando.
Os fins são um resultado de influências, do que se encontra de permanente no tempo que nos é dado. Ponto inicial de qualquer actividade prática…
A acção é determinada pela apreciação dos elementos contingentes. O que posso fazer é dependente das minhas forças, sujeitas à capacidade de gerar movimentos que possuam a mesma fonte (amizade) ou de prosseguir os mesmos fins (alianças).
É neste equilíbrio entre fins e os outros que repousa, em grande medida, a actividade do homem político.
O homem tem de olhar a sua sociedade e procurar o grupo que prossegue os seus fins, sabendo à partida que, na actividade contingente, terá de sacrificar o acessório, mas não pode prescindir do essencial, sob pena de perder a sua personalidade.

Quando o essencial é mostrar “a fonte donde brota a nossa inspiração” e não a gregária procura de companhia, é absolutamente irrelevante o estabelecer de “alianças”. É, por isso, impensável estar ao lado de quem, tendo em teoria os mesmos desígnios, acha que o Aborto é uma questão demográfica, que acha que a Nacionalismo é tribalismo, que a Família é uma questão genética ou de controlo da criminalidade.
Numa altura em que qualquer esforço político está condenado ao insucesso, por vício formal das mentes, há que agir a montante… e por isso é fundamental que a “pureza” do pensamento (lógica, coerência, clareza) seja mantida! Porque só a verdade pode abrir o espírito.

Tantas sínteses direitistas-nacionalistas-modernistas-tradicionalistas falharam porque não se conseguiram implantar para além de questões estéticas, para além das circunstâncias do crime, dos siderúrgicos que perderam os empregos, da cor do vizinho do lado que põe a música aos berros…
Momentos altos e baixos, mas sempre fugazes.

Não é isso que nos interessa.

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sexta-feira, janeiro 27, 2006

Mais Monarquia

A acrescentar ao texto do Misantropo sobre a Monarquia e a sua sujeição ao Bem Comum devo dizer que ela se perfila como a grande solução para atitude do Jansenista.
Achar que não se precisa de um guia é um erro crasso, uma profissão de fé racionalista ou uma aceitação de que nada existe para além da vontade individual... Em ambos os casos trata-se da aceitação do paradigma liberal de que a vontade e o indivíduo é reduto essencial da vida de uma comunidade.
A ideia conduz aos individualismos e aos atomismos que geram os totalitarismos e a sociedade descriterializada.

Como bem viu Cícero, um conservador da monarquia europeia ainda antes desta existir, a instituição surge como baluarte da preservação da comunidade política das investidas do Povo e da Oligarquia. Do conflito entre os pobres e os ricos, que como Aristóteles já havia notado na Política III se cristaliza na oposição entre a Liberdade e Necessidade (recursos), tem de emergir uma Justiça. A Justiça não é mais que a medida (não uma medida geométrica) onde se encontra vertida politicamente a Ideia de Bem, socorrido pela Prudência.

A vantagem da Monarquia é constituir-se como uma magistratura independente (não-neutra) que zele pelo Bem Comum. Desapegado da necessidade material o monarca tem a capacidade de observar a causa pública desinteressadamente. O Poder monárquico possui a qualidade de ser um obstáculo às vontades das partes em conflito. A Monarquia apresenta-se, precisamente por esse facto, como a guardiã da Constituição, uma vez que foi sobre ela que se constituiram os acordos que permitem a constituição de uma Comunidade Política e a sua sedimentação e formação numa Nação.

Esse é um Poder absolutamente diferente da concepção do “Patriarcha” que percorreu alguma literatura proto-moderna (Filmer), disposta a equiparar o poder do soberano ao poder paternal ou patriarcal-tribal. Esta concepção absoluta da realeza, muitas vezes transbordando para o domínio do privado, não é a natureza própria da monarquia europeia! Por ser um condicionamento à Vontade Popular não pode, de forma alguma, ser fundada em actos de “livre voluntarismo”. Como já escrevi os corpos sociais não elegem um Rei (o que seria um contra-senso segundo as tradições do nosso povo), mas encontram-no (no caso de não existir sucessão imediata) tendo como “luz” as antigas leis e prerrogativas, submetidos a uma ideia de colectivo “Bem Comum”.
É precisamente essa ideia de superveniência face ao poder popular que deve afastar o Rei de eleições ou de plebiscitarismos. Constituíndo-se como garante da Constituição da Nação é impossível que este seja vinculado por vontades populares que a poderiam subverter ou tentar dominar. Vem daí a minha incapacidade de reconhecer uma monarquia legitimada popularmente(tanto do Prof. Castro Henriques, como do Prof. Maltez, como do Arqº. Ribeiro Telles) uma vez que é esta não-electividade que a torna importante e que torna útil e possível (face à unidade do Poder) a existência de vontades políticas variadas, mas subordinadas ao Bem Comum.

É em cada plebiscito que encontramos as legitimações carismáticas, os cesarismos e bonapartismos, que olham o Homem de forma paternalista e utilitária, explorando as paixões dos homens de modo à sua subversão.
Como Voegelin nota em As Religiões Políticas na subversão de Akhenaton, da mesma forma que Burke o faria em relação ao jacobinos nas Reflexões, a exploração do despotismo das vontades conduz a uma desumanização, a uma concepção do transcendente que é impossível de compreensão racional (Strauss considera o mesmo quando se refere ao voluntarismo de Rousseau como justificação central para a comunidade política). Não tendo capacidade para aferir o que é justo ou injusto o homem não tem capacidade para nada que não seja a submissão completa e total...
O que é o carisma weberiano senão uma forma de desligar a acção política da sua racionalidade moral?

O que é a monarquia senão a instituição com o intuito de preservar a comunidade de si própria e dos que consideram a "razão" e a "vontade" parcelares?
O que é a monarquia senão a expressão de que o Bem Comum não nos pertence?

A Monarquia é muito mais...

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Mendo Certeiro

Diz-me como falas...

«A "não-esquerda" portuguesa perdeu a guerra das palavras.É ouvi-la, toda contente — reconfortada pela dose q. b. de politicamente correcto —, dizer: "Ponte 25 de Abril"; "Guerra Colonial"; "Ditadura de Salazar"; "Fascista" e "Neo-Nazi" (a torto e a direito); e, por aí fora...Pela boca morre o peixe e assassina-se uma Nação.É sinistro!»

quinta-feira, janeiro 26, 2006




















O Esquema

A estrutura básica do teste é esta!
Mais à direita quanto mais conservador socialmente, mais acima quanto mais socializante nos recursos e moral, mais à esquerda quanto mais defende a autonomia individual ou a igualdade, mais abaixo quanto mais liberal.

Está Quase a Saír

Se o Miguel estivesse tão desiludido não teria lançado este repto...
Estou a meio e com falta de tempo, mas a resposta ao Jansénio segue dentro de momentos!

Cooperação Institucional

Ao cuidado do GAO

"O poder da arte é a exposição que como alguém já disse na blogosfera, transformou a Assembleia Nacional numa espécie de Boite Zuleika, mais conhecida como casa da luz vermelha.Pormenor que chama a atenção é o facto de no triste mapa de Portugal continental, sem Açores nem Madeira, desenhado com pedaços de pau ou com calhaus, que hoje em dia enfeita a escadaria do palácio de S. Bento não estar o prolongamento para Olivença. Somos nós próprios a reconhecer. Apelo pois ao Grupo de Amigos de Olivença que se aventurem comigo a desviar três calhaus, nessa "peça de arte", um bocado mais para a direita, todas as semanas.Pelo menos na sede do poder legislativo em Portugal, Olivença tem que voltar a ser nossa."

In Geraldo Sem Pavor

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Moral Politics





















Este foi o melhor teste político que fiz, sobretudo pela sua complexidade! Apesar de apresentar um erro na sua concepção (a ideia de que o Fascismo e o Nazismo são graus semelhantes de uma mesma coisa) possui uma grelha analítica complexa e bem pensada...
Apresenta uma enorme quantidade de grupos e subfilos políticos de excelente profundidade...
Permite uma autocompreensão política fácil e mais filosófica que em termos de grupos políticos!
Aqui ficam os meus resultados (bastante precisos, por sinal). Talvez um pouco liberais em demasia, mas nada é perfeito...

You scored 5 on the Moral Order axis and -1 on the Moral Rules axis.
Matches The following items best match your score:
System: Conservatism
Variation: Moral Conservatism
Ideologies: PaleoConservatism, Capital Republicanism
US Parties: Republican Party
Presidents: George H. Bush (86.02%)
2004 Election Candidates: George W. Bush (82.32%), John Kerry (64.37%), Ralph Nader (50.59%) .

Já Se Vê Onde Isto Vai Levar...

Este senhor Yunus anda a pugnar por que o direito ao crédito seja colocado na Carta dos Direitos Humanos... Ter direito à propriedade de outrém é um direito maravilhoso que Marx bem gostaria de ter presenciado!

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Crónica do Crime (I)

É com profunda tristeza que verifico a existência de um ataque abjecto à Casa de Sarto.
Sabendo que as Verdades que deveriam ser evidentes para todos os Cristãos se encontram esvanecidas nos dias que passam, porque amalgamadas em sujeição a outros propósitos, urge que esclareçamos alguns pontos sobre o ataque abjecto que este bastião da blogoesfera portuguesa (e ibérica e internacional, porque a Verdade não prescreve em posto aduaneiro).

Há uns dias surgiram algumas acusações de que os tradicionalistas Jsarto e Rafael Castela Santos estariam a fazer o apelo à memória de Franco e que estariam a fazer apelo a um “ritualismo farisaico”.

Peço-vos que tomem nota na forma como de uma afirmação política se conduz o argumento... Primeiro o “choque e pavor” da referência aos malditos pela “damnatio memoriae” do tempo presente. Uma figura retórica que conduziria a uma reprovação certa e que funcionaria como prelúdio e fio-condutor para matérias mais elevadas.Claro que quando perguntámos qual a alternativa a Franco, com todos os erros e excessos de uma guerra, ficámos sem resposta (calculo que seja matéria de dogma naquelas partes do pensamento)...

Por outro lado expressa o comentador Alef que a Tradição é algo que “lê os sinais dos tempos”, o que é uma posição inaceitável. Como disse na altura

“Uma coisa não tenho dúvidas, porém.A Tradição não é algo de imutável! A Tradição formou-se através da compreensão dos princípios de Deus.Contudo esta só pode ser "aprofundada" segundo a sua própria lógica, segundo os princípios que a enformam (a não ser que exista um novo Deus, ou nova Revelação). Qualquer ideia de que se pode aprofundar uma tradição recorrendo a uma lógica exógena (como um zeitgeist a que o Alef apela), ainda para mais quando se está vinculado por decisões anteriores é impossível...Quando se faz isso sem refutar ou invalidar as disposições anteriores, apenas por se "estar aberto ao mundo"...A nova gnose intramundana está em movimento!”

A posição é de facto inaceitável, uma vez que cai na aceitação plena do Historicismo, sobretudo quando se considera que a Tradição

“Se não é imutável, muda ou é susceptível de mudança, qualquer que ela seja.”

Ou seja que a grande Tradição da Igreja é nela caber tudo, o que para além de notável desdiz claramente a Doutrina Católica.
Por isso urge dizer que

"Diz o Catecismo que as Escrituras só podem ser interpretadas à luz da Tradição e que estas são realidades indissociáveis na compreensão da Verdade!Ora, a única coisa imutável no mundo é a Verdade de Cristo. Logo a Tradição não é imutável, mas ferramenta para o Imutável. A Tradição é, assim, a descoberta das ferramentas para a compreensão da Verdade, mas que é caminho deixado por Deus nas regras da Razão.Disto não se pode, de forma alguma inferir que "Se não é imutável, muda ou é susceptível de mudança, qualquer que ela seja."como imputa o Alef no ponto b). A mutabilidade da Tradição só existe no sentido de aperfeiçoamento. Não permite que dela se retirem os pressupostos básicos. Pensava eu, ignorante, que esse acervo, verdadeiro óculo de percepção do Sagrado, que é a Tradição, era acarinhado por todos os Católicos, sendo isso o que nos separa das seitas "livre-examinadoras".Pensava eu que era essa perspectiva que nos permitia compreender o verdadeiro caminho e critério para aferir o certo e o errado (podendo compreender assim, para além do positivismo da titularidade do trono de São Pedro, princípios superiores às ordens por vezes injustas da imperfeição humana).Por certo devaneios de juventude...Mas o facto de não haver um fixismo não implica que tudo caiba numa tradição! Um erro precepitado, mas revelador, por parte do Alef...

Ao considerar que na Tradição cabe qualquer coisa, mesmo o contraditório, o Alef está a desprezar a Tradição e o Catecismo.No intuito de afirmar que os tradicionalistas são tradicionólatras desprezou uma parte, substantiva, do catolicismo!Peculiar...Sabemos que também que a Revelação, apesar de ser histórica, está concluída (a não ser que se considere um discípulo de Jesus ao estilo maometano)!Logo a nossa história só pode ser observada à luz da doutrina. Só a partir dela podemos compreender o Real. A Revelação é isso mesmo!A compreensão de que uma perspectiva da Verdade partindo da incompletude das coisas finitas e materiais, sem ser completa pela Palavra de Deus, é a posição incompleta do paganismo-filosófico de Platão e Aristóteles. Posição influenciada pela imperfeição das coisas...A observação dos princípios modernos (clara antítese da perspectiva católica) como relevantes para a tradição católica, implica a introdução de um factor que não se inscreve nesse "diálogo" interno. Sendo por isso, além de factores exógenos, uma contra-senso.São estas as inquietações suscitadas pela posição do Alef neste jovem, que, apesar das limitações da sua ignorância, ainda consegue perscrutar abismos no pensamento..."


É por demais evidente que olhar o nosso tempo como fonte de autoridade "em si" é proceder à concepção imanentista do Homem acima do Bem e do Mal, que para além de não fundamentada conduz ao totalitarismo e à incapacidade de olhar a Escritura sem ser pelo Livre-exame e subsequente deturpação da sua Palavra a um fruto da minha Vontade... Devem ser essas as leituras de Sartre a que o Alef alude!
Dessa concepção se mostra uma impossibilidade lógica a existência de uma Igreja, uma vez que não há essências (o fundamento que se mantém na mudança), apenas construções humanas.

Um nihilismo a prazo, digo-vos eu.

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Ainda me Estou a Rir

Perguntem ao Dr. Buiça o que é o SMMF...

terça-feira, janeiro 24, 2006

Ilusionismos

Alegre não tem expressão no PS.
A sua expressão no eleitorado nas Presidenciais prende-se com o protesto anti-Sócrates, com a péssima escolha de Soares e com a capacidade de gerar simpatias com um apelo aos ideais da I República.
Sócrates não corre qualquer risco interno, não só porque o PS não é o “saco de gatos” do Labour de Blair, como porque os seus militantes não têm o mesmo poder que os MP´s de extrema-esquerda dos trabalhistas. O presidencialismo do PM é mais centralizante, mesmo internamente, do que um regime parlamentar...
Viu-se bem que o PM possui uma liderança incontestada no seio do seu partido quando muitos dos barões do PS retiraram o apoio a Alegre com um simples acenar de Sócrates.
A estratégia de Sócrates será, face a esta ameaça (irreal), legitimar-se, tentando assim, sem grandes riscos, reconquistar alguma autoridade no seio da opinião pública.
Ganha tempo fundamental para as restruturações ministeriais.
Mas ainda pode correr mal!

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segunda-feira, janeiro 23, 2006

Excelente Iniciativa

Surgiu o Rede Liberal que é uma selecção do melhor pensamento liberal da Net e blogoesfera. Inteligente e prático volta a mostrar que a Ordem Espontânea tem as suas virtudes...

No Dia de Ontem

A minha assembleia de voto é local mal frequentado... Deixei assim passar a manhã para poder exercer o “dever cívico” sem ser incomodado por jornalistas e cáfila similar.
Quando saí uma simpática moçoila perguntou-me “podia assinalar neste boletim qual foi a sua escolha?”. Anuí imediatamente, escrevendo um tranversal VIVA O REI e larguei ainda “Se quiser, por questões de exactidão, também posso desenhar os bonecos nas fotografias”. A rapariga, no meio de algumas gargalhadas, declinou a oferta. Calculo-me um bicho-raro.

Esta Republiqueta em que vivemos tem o hábito de repetir que as eleições do Estado Novo eram meras fachadas em que os mortos e os “fachos” votavam duas vezes. Ainda há dias, numa discussão sobre a Constituição de 1933, um amigo me dizia que estas estavam feridas de imoralidade por terem as abstenções contado como favoráveis.
Interessante que eu ontem tenha ido à urna e que o meu voto tenha sido desclassificado... Superdemocrático!

O Sócrates cavou a sua própria sepultura, ao mostrar que o poder que tem no partido se devia ao “estado de necessidade” de obter a maioria... Só assim se compreende que tenha dado relevância intra-partidária a uma votação (a de Alegre) que nada mais é senão um voto de protesto contra o Governo. Alguém tem dúvidas que o povo gosta sempre daquelas bestas?!
O discurso balofo esteve a cargo da Roseta que afirmou que Sócrates “usurpou o espaço de cidadania de Alegre”. Não conseguem dizer uma frase sem falar na Cidadania e outras modas de ocasião... Sócrates não usurpou nada! Mostrou apenas que é mau perdedor e que gere mal a política dentro do partido. Alegre terá muito mais poder, assim.

Os primeiros momentos de Cavaco não auguram nada de bom...
Em vez da alegria da vitória, dir-se-ia estarmos num féretro. Ao contrário da exultação da família, o candidato e a candidata-a-primeira-dama estavam tristes... A incapacidade de improvisar e de fazer um discurso para empolgar as massas (de restaurar a tal confiança) foi notória. Maria fitou muitas vezes o chão, mostrando assim alguma tristeza e a cabeleira tingida em homenagem à deputada Odete Santos. Por ali não haveria surpresas.

E hoje o país acordou na mesma...

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sábado, janeiro 21, 2006

Assim de Repente

No Sexo dos Anjos o Manuel continua a apontar a tentativa de partidarização do sector da Justiça. Não me parece que seja nada de novo! É até corolário lógico de uma certa forma de pensar...
Se não há Verdade, ou Bem Comum, porque não tomar de assalto os tribunais?
Porque não regressar a uma "Razão de Estado" que não se importa com a verdade e a retribuição de Justiça? Porque não evoluír para uma partidocracia que utiliza a função jurisdicional como arma de Poder?
Se tudo é uma questão de perspectiva e de harmonização de interesses podem começar a preparar o vosso sacrifício para que outros se mantenham no Poder...
Quando estiverem na masmorra a gritar "eu não fiz nada" podem estar certos de que alguém vos dirá que isso não é mais que uma expressão de interesses próprios e conflituantes com os da maioria!

Na Casa de Sarto podem seguir algumas interessantes polémicas sobre a Tradição e os seus detractores... Aqueles que acham que numa Tradição cabe tudo acabam sempre por admitir que não querem saber dela. Que o dinamismo não se compadece com essências! Mau demais...

O miúdo apanhou bem esta! Subreptíciamente o Medeiros Ferreira vai tentando reescrever a história... Se houver 2ª volta vamos ficar a saber que o Alegre nunca foi desertor, nem dava informações que perigavam a vida de muitos a quem agora apela.

O Buiça anda desaparecido... Nota-se logo algum marasmo na blogoesfera!

Não deixem de fazer o Teste Moral Politics.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Futurologia

Ou muito me engano ou as próximas eleições americanas serão disputadas por Hilary Clinton e Rudy Giulliani... Arrisco também que a vitória recairá sobre o menos inteligente.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Cosmopolitismo e Materialismo

Ao contrário do Viriato eu não penso que a decadência do Ser Português provenha da globalização. A globalização é mais um chavão que serve para cativar alguns esquerdistas para um socialismo comunitário, ou para um nacionalismo esquerdista. A globalização é uma situação! É a capacidade de alcançar coisas que antes estavam longe... Se não acreditam que é como vos digo façam o favor de atirar o vosso telemóvel para o lixo, ou deixem de andar de carro e de avião. Deixem de viajar... Fiquem-se pela área delimitada pela vossa capacidade de caminhar! Se isso vos faz mais felizes...

O problema essencial não é a capacidade de viajar, de ver pela televisão, de conhecer.
O que nos mata como povo é a incapacidade de nos compreendermos... As nossas tradições portuguesas nunca foram um fim. Temos de as reter porque são elas que nos permitem compreender o que somos, porque elas próprias são a forma como compreendemos o mundo. Porque é entendendo-as e aprofundando-as que podemos cumprir o nosso destino como Nação.

Portugal é notável fruto de civilização global.
Antes de ser já o era...
As raízes filosóficas são gregas, e essas mesmas já eram conjunto de influências mundiais africanas, chinesas, nómadas...
A religião cristã completa a judaica, comporta uma perspectiva vincadamente estóico-romana.
A lei romana, os costumes visigodos...
Já o ídolo de D. Nun´Álvares era Galaaz...
Antes de globalizarmos o mundo e irmos ao outro lado do mundo buscar os temperos que fazem célebre a nossa gastronomia e de construirmos o Portugal nos Trópicos já éramos uma pátria global. Está na nossa génese... E cumprimos essa vocação!

O problema é um bocadinho mais grave que isso e relacionado não com a globalização (instrumento), mas com uma certa forma de pensar que coloca o indivíduo como superior à comunidade. O objectivo da comunidade será, segundo essa forma de pensar, nada mais que uma forma de alimentar os cidadãos dos seus desejos. Por isso encontramos a suma-lei da igualdade como superior ao bem-comum...
Os exemplos seriam incontáveis. Imaginem que existe um país em que meia-dúzia de mal amados detêm as terras! E imaginem que os que não as têm são desprovidos de capacidade de as gerir, altamente iletrados e desconhecedores das artes agrícolas. Imaginem um justicialismo que diz que 2% da população não pode possuír tanta terra e que é forçoso dividí-la. Rapidamente chega a expropriação... Em breve as falências das explorações, que antes davam emprego a tantos que não possuíam terras, logo a bancarrota nacional, evitada apenas pelas ajudas externas[1].
Por se colocarem ideias abstractas acima do “bem comum” se destroem as comunidades...

O mal não está na globalização, mas numa uniformização... E o mal dessa uniformização está numa simplificação radical da Humanidade. O retrato cosmopolita da humanidade não é de um Homem complexo que tem de ser lido através de uma narrativa que explica como e porque se constituiu assim a comunidade, como se relaciona com o outro e com o trancendente, como é que que compreende o exterior...
A posição cosmopolita é precisamente desta compreensão.
É a posição de um viajante fatigado que já não tem paciência para compreender que em cada cultura há um universo, olhando por isso para o Homem como todos os homens...
Redu-lo assim a um conjunto de impulsos, sejam eles materiais ou sociais, que inventa como razões para as acções humanas[2].
A ideia de que os homens querem mais liberdade e propriedade e que aí se esgotam os objectivos humanos de vida em comum é uma ideia simplificadora, desmascarada há mais de 2000 anos por Platão que explicou perfeitamente que a unidade material faz a comunidade humana assemelhar-se a uma vara de porcos, que a unidade em torno da honra faz o homem confuso e que este só pode tomar ordem das coisas através da submissão à Ideia do Bem.

E o que dizer do homem moderno, que se queixa dos maus costumes, mas que não está disposto a encontrar as raízes profundas e finais da sua tradição?
Que pensar do sujeito não é capaz de articular um pensamento sobre Deus e depois se redime dizendo mal dos materialismos de que faz parte?
Que se pode afirmar de uma pessoa que acha divino tudo o que vê (a árvorezinha no jardim, o sangue que lhes corre nas veias)? E do que nenhuma perfeição vê neste mundo e acha que o Caos é a norma?

Assobiem para o lado e inventem papões...

____________________________
[1] Este momento teve o patrocínio dos caixões Mugabe.
[2] Recomenda-se a leitura do capítulo III de Heretics de GK Chesterton, que em brevíssimas linhas faz a desmontagem destas meta-interpretações da História.

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terça-feira, janeiro 17, 2006

Manual de Fuga da Pós-Modernidade (IV)

Contra a dissolução da sociedade há que escolher caminhos. O caminho será sempre um caminho de ordem. Será essa a única vantagem daquilo a que se costumou chamar “direitas”, que nada mais é que um aglomerado de propostas de reordenação da sociedade, muitas delas fundadas na própria concepção desagregadora. É por essa razão que a utilidade das direitas é limitada, ou meramente potencial. Servem como patamar, na medida em que permitam a manutenção das estruturas que conduzam à “ordem real”. Essa posição de convergência conduz a uma concepção limiar que nada comanda, mas que pode ter objectivos limiares, como a manutenção da unidade política, a defesa de liberdades das comunidades, a capacidade de levar às gerações futuras um legado antigo.

Sabemos que as “direitas”, essas que têm geometrias variáveis, estão derrotadas a prazo, essencialmente pela ausência de um carácter subtantivo, por serem ideias que não estão gravadas na essência dos homens e por serem respostas provisórias. Direitas que se encontram viciadas pela aceitação de princípios que são a necessidade da sua existência.
Essa é a história derrotada das várias direitas de Prezzolini...
Derrotadas em virtude de tornarem definitivo o que é provisório, por serem meros caminhos que se tornaram terminais.

Esses erros são demonstráveis historicamente pela fragilidade moral de nações que foram Impérios, que conduziram os destinos do mundo e que se desmoronaram como entidades éticas, com o surgimento da “pop culture”, da sociedade de consumo, dos materialismos comunistas e liberais.
O caso português é particularmente ilustrativo de um regime claramente compromissório que nunca conseguiu apresentar uma doutrina radicalmente coerente. Apresentaram-se muitas posições jurídicas para a missão histórica portuguesa, mas nunca se doutrinou uma filosofia que realmente demonstrasse a portugalidade ultramarina como essencial à existência de Portugal. Este facto deve-se, em grande medida, aos resíduos de republicanismo e positivismo que eram foco de apoio do Estado Novo e que recusavam uma perspectiva imperial mais abrangente, tanto por via de uma concepção separatista da vida nacional, como por uma concepção de Pátria que tomava a Expansão como meramente utilitária e desprovida de obrigações.
Daí à ideia do Portugal rectangular, de uma cultura contratual, do conforto e de opulência, vai um pequeno passo.

A reconstrução da “imaginação moral”, de uma capacidade de aferir o certo e o errado, de desenvolver um pensamento que escapa ao “aqui e agora” é a única forma de escapar, de forma duradoura, aos ataques do homem-vazio ou do homem que termina nos seus apetites.
Nenhuma “direita” nos mostra como o atingir (pelo seu carácter compromissório), mas pode fornecer os meios materiais para a difusão e compreensão do mais profundo, da perenidade.

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domingo, janeiro 15, 2006

Portas do Cerco

Espaço de afirmação do Portugal Universal este novo blogue visa fomentar a discussão sobre a vocação e história da pátria extra-rectangular.
Para começar conta com correspondentes em Riade, São Paulo, Deli, Banguecoque, Malaca e Macau, o que é, em si, admirável...
Uma excelente iniciativa do Vitório Cardoso, que está, evidentemente, de parabéns.

sábado, janeiro 14, 2006

O Fim do Comunismo

Disse hoje Jerónimo Sousa que não se opõe aos interesses dos pequenos e médios empresários. A sua guerra é contra o "Grande Capital".
Passa o PCP a ser "pequeno-burguês", obviamente...
Assistimos a um golpe de estado e ninguém reparou!

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INTEGRALMENTE LVSITANO

O Integralmente Lvsitano é uma descoberta que fiz através do Sarto. Um blogue que se espera seja a defesa intransigente das verdades portuguesas. Espero que se torne um local de difusão e de reaprofundamento do pensamento integralista, tão necessitado de um influxo de sangue novo e de ser liberto das interpretações "neo" que falam de liberdades jacobinas como elemento estrutrante da sua concepção de regime.
Urge salvar o Integralismo...

Metafísicas Conservadoras

Excelente artigo O Insurgente de Edward Feser sobre o Conservadorismo e as suas perspectivas metafísicas. Uma radica na tradição platónica-aristotélica-tomista e gera o tradicionalismo, outra radica no empirismo-cepticismo de tradição britânica e gera o humeanismo e o oakeshottianismo contemporâneo, outra, ainda, na tradição materialista-pragmática que se consubstancia no tocquevillianismo neo-conservador.
Tradições bastante diferentes para coisas bastante diferentes, que se escondem muitas vezes sob uma mesma denominação.
Seria interessante que os amigos Insurgentes esclarecessem a sua posição (que creio não ser unívoca)...

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quinta-feira, janeiro 12, 2006

Manual de Fuga da Pós-Modernidade (III)

Marca evidente da idade pós-moderna (à falta de melhor termo para descrever a idade relativista em que vivem as sociedades ocidentais) é a sua forma de conflitualidade social. Esta não se rege por objectivos, fins ou valores morais. Nem sequer por sentimentos de pertença... É claro que os defensores dos programas sociais lucram com este panorama social. E é também evidente que são eles quem incita à destruição, como forma de mostrar a terrível forma como se vive nos banlieues, para depois demonstrar que só a igualdade socialista se pode sobrepôr a essa “injustiça”. A verdade é que não é esse o motivo das revoltas, mas apenas a direcção que lhe é dada pelos que têm algum poder. A Revolta é a conflitualidade pós-moderna por excelência, por ser inócua, por não se apresentar como solução, por ser mera expressão de um sentimento, facto que não implica um projecto de sociedade ou de resolução de um problema. É uma violência gratuita! A Revolta sem Revolução caracteriza o conflito social nihilista...

Já aqui falámos amplamente do legado de Maquiavel e da sua importância como momento fundador (não temporal, mas intelectual) da Modernidade. A defesa da operacionalidade, em detrimento do “dever ser”, é um prelúdio significativo duma inversão total na mentalidade do Homem. O homem define-se pela capacidade de operar, de agir sobre o mundo. O homem caracteriza-se então pela capacidade (poder) e não pela forma como desempenha a sua capacidade. O forte é o rico e não o justo! Muitos concordarão com a asserção, ignorando que este é o princípio de todo o terror e discricionaridade. Que se a obtenção de recursos vem anteriormente ao critério moral eu estou apenas sujeito à vontade e aos recursos dos outros. Não há razão para que outro não me mate, que não seja a minha capacidade de fazer valer a minha vontade. Este é o princípio de Hobbes, que encontra o seu apogeu na total submissão do governado ao governo. Esta é a origem de todo o Terror, verdadeiro fundamento do pensamento político moderno.

Uma das grandes questões do nosso tempo é precisamente essa. Aceitando o primado da funcionalidade acima do Ser, como posso eu ter opinião? Aceitando a discriminariedade, como posso rejeitar o mal? Como posso afirmar que não quero ser governado pelo senhor bin Laden, se acredito que tudo é força e que não há critérios para aferir o bem e o mal?
Se tudo são forças e contra-forças como posso escolher? Se vivo numa sociedade de assassinos terei de seguir gregariamente essa obrigação social?

O Terror é parte estruturante da nossa vida e constituição suprema das democracias vigentes. Quem quer que estude um pouco de filosofia política contemporânea ocidental, em particular na vertente “continental”, verá que ela tem como berço a “câmara de gás”. Todos os analistas, franceses e alemães de forma particular, percebem que o surto de liberalismo na forma de direitos individuais materiais face ao Estado tem como experiência fundadora a desumanidade dos campos de concentração. Sem esse medo o homem poderia voltar a crer no Estado e nos fundamentos morais que (erradamente) pensam ser a fonte de conflitos políticos. A negação do Holocausto é, por isso, uma ofensa estrutural às democracias vigentes (da mesma forma que a bruxaria era às Nações Cristãs), uma negação da sua própria existência e não mera forma de pressão e vitimização do “papão sionista”.

Esta sociedade da violência não é, também, muito diversa da mundividência de bin Laden, autêntico Protestante modernista[1], que pretende através de uma AK-47 trazer o Reino de Alá à Terra. A forma como a liderança da Al Qaeeda se considera capaz de escolher os que têm direito à vida e como consideram todas as suas acções, para além do bem e do mal, sancionadas por Deus através da sua crença, revela bem o caminho gnóstico, muito semelhante à perspectiva puritana descrita por Voegelin, que o movimento segue.
A forma como, por critérios de eficácia, os mentores da Al Qaeeda aceitam como parte dos “escolhidos” gente que não partilha as suas crenças, demonstra bem que o conflito de hoje é um conflito entre fundamentalismos modernos e não, como muitos querem fazer crer, entre o mundo antigo e o mundo moderno.

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[1] Como se o Islão não fosse já, em si, uma forma de protestantismo.

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Red Light Parliament

Concedo ser lugar mal-frequentado, mas seria preciso pôr luzes vermelhas à porta da Assembleia da República?

Artigo Obrigatório

Notável descoberta do Camisanegra:
"El racismo. Génesis y desarrollo de una ideología de la Modernidad."
Interessante também a nota introdutória.
Depois da entrevista, notável pela forma como critica os chavões habituais "Portugal é dos portugueses", a "Pátria deve ser estanque", os nacionalistas-antiportugueses são o futuro, fica aqui mais uma demonstração de enorme sapiência do homem que é como os GorillaZ...
Não existe, mas todos falam dele!

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quarta-feira, janeiro 11, 2006

Manual de Fuga da Pós-Modernidade (II)

O que acontece nos nossos dias é, por disseminada a ideia de que nada é objectivo, nada é bom ou mau, uma radical incapacidade de pensamento com acção. Observamos isso numa sociedade reactiva. Uma sociedade emotivista. Uma sociedade sem fins, mas plena de sensibilidades, que tão facilmente vira a cara ao mendigo na rua, como é capaz de dar 10% do seu rendimento para ajudar a miséria do outro lado do mundo.
Observamos as alternativas a esta sociedade e o que vemos?
O socialismo que observamos nos nossos dias é a ideia de justiça mais básica, mais estúpida que existe neste mundo. Basta dizer que acha que dividir mais justamente é dividir 10 por 10 e dar 1 a cada um, ignorando contributos individuais. Mas, pior que isso, é a forma como não se consegue libertar de uma lógica quantitativa da existência. E não consegue perceber que é melhor receber 1% de 1000000 que 50% de 1. A justiça não está aí.
Para além do socialismo temos a cultura Hip Hop, talvez mais abjecta que a primeira, porque radicalmente ilógica e deformada. Engloba essencialmente duas posições fundamentais: a vitimização racial e social — “eu tenho direito à minha parte no todo da distribuição social e não me deixam, por motivos injustos”— e a parte de basófia— “eu sou podre de rico e não devo nada a esta sociedade”.
Esta ideia só pode ter lógica na pós-modernidade “a terra onde não há lógica”.
Repare-se que não há nenhuma alternativa social evidente nesta proposta, que é mero reflexo de uma sociedade onde a inveja move o que não tem e a ganância move o que tem. A luta de classes numa forma compromissória... Uma concepção da sociedade que é tudo menos alternativa, radical ou revolucionária. Que é pouco imaginativa, não tendo qualquer proposta filosófica ou estética. O que é, em suma, a concepção socializante pós-moderna por excelência!
Este tipo de concepção relembra em muito a actividade cultural dos escravos libertos no tempo da Abolição. A formação de Quilombos acabava quase sempre em destruição ou na mimese do sistema senhorial de onde provinham. Assim não era infrequente que alguns mais destemidos escravizassem os restantes. Por outro lado as experiências de propriedade comunitária, tão idealizada nas “novelas de época”, foram uma experiência socialista que reduziu, na generalidade dos casos, a agricultura a níveis de subsistência e o que a médio prazo conduziu ao desaparecimento desta forma social.
A turminha do Hip Hop não é diferente na sua cultura decadentista e aprisionada pela ignorância de quem nada sabe para além do que vê, disposta a reproduzir o modelo da sociedade viciosa que diz detestar.

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Manual de Fuga da Pós-Modernidade (I)

Uma vez escrevi que não era de direita. Os do costume, os que decidiram não compreender, gritaram logo “lobo em pele de cordeiro”. O que escrevi foi que a direita não é uma posição final, mas um caminho para encontrar o centro. Parece-me ser essa a única posição aceitável para quem anda na busca sincera da parte da Verdade que Deus lhe destinou. Esta posição de encontrar um centro é a oposta daquelas personagens deprimentes que queriam ser de direita e por isso se colocam no oposto de tudo o que é de esquerda. As ideias pré-concebidas dominam a sua mentalidade e logo procedem à destrinça da realidade em moldes que cabem nas suas capacidades intelectivas unidimensionais. “O que é de esquerda é igual, de direita desigual”, dizem, não compreendendo a existência de maiores diferenças entre os membros do Politburo do PCUS e de uma ceifeira do Cazaquistão, do que entre um político e um agricultor em qualquer sociedade ocidental.

Esta mentalidade reactiva é traço fundamental das nossas sociedades.
A mentalidade definida por oposição traz, em si, o espírito da dicotomia, que Scruton diz ser a grande vitória das forças sinistras e da sua vitória cultural. Nessa confusão não há lugar para verdade ou para interpretação de um princípio. Há vontades, interesses e nenhum critério para aferir os melhores e piores... Há apenas o que nós queremos e o que eles querem.
Nesse ponto nada distingue as esquerdas das direitas de hoje. Nenhuma diferença existe entre a superficialidade antropológica de Rorty e os paladinos do “racional choice” e do “self-interest”. Em todo o caso existe uma clara aceitação de uma estrutura de poder hobbesiana... Seja no consenso político de Rorty, seja na prossecução utilitária de interesses individuais, não existe lugar para um critério! Há apenas a discricionaridade do poder das maiorias!

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terça-feira, janeiro 10, 2006

1987

Que grande notícia!
Espera-se que o regresso do futuro engenheiro anime a blogoesfera, como costumava...

Impersonating National Interest

De repente encontrou-se o novo Vasconcellos...
Pina Moura é o novo inimigo, o novo bode expiatório e, da mesma forma sacrificial, o regenerador da classe política.
Nenhuma ideia política que não seja totalitária alguma vez concebeu que todo o Homem é, ou sequer pode ser, intérprete do bem da colectividade. Certamente que o mercador de cebolas, o curtidor de peles, o banqueiro, são capazes, de forma melhor ou pior, de aferir as suas próprias conveniências. Todos têm os seus próprios interesses, que podem divergir dos da colectividade. Compete, contudo, ao Estado fazer prevaler os interesses da colectivdade acima dos privados.
Quem está em falta nesta matéria toda não é o privado, Pina Moura, mas o Estado que não determina por lei ou acção qual o interesse nacional a proteger. Será que a manutenção de um sector primordial nas mãos de portugueses é relevante, se esses portugueses não se encontram salvaguardados por um ethos de bem-comum?
É evidente que é melhor ter uma empresa americana que aceita a perspectiva estratégica portuguesa (a projecção externa do Bem Comum) e se submete a essa concepção, do que uma empresa de propriedade portuguesa que esteja ansiosa por encontrar denominações e parcerias que a desliguem da sua origem lusitana e das suas responsabilidades originárias.
Neste caso Pina Moura é ilustrativo de um dos piores ministros portugueses de sempre, mas de um excelente empregado de interesses privados. O que não é de estranhar num Estado que é, democraticamente, nada mais do que o exercício de um conjunto de interesses privados...
Os políticos portugueses passam, assim, por grandes defensores do interesse comum, quando nada mais fazem que defender um conjunto de colocações futuras e de direitos sobre empresas que não deveriam, de forma tão discricionária, possuír.

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E no entanto move-se!

Que melhor exemplo para mostrar que os erros positivistas não estão na ciência, mas nas extrapolações que dela se faz!

segunda-feira, janeiro 09, 2006

O Grande Conservador

Há em Portugal uma espécie peculiar de conservadores. À boca cheia se afirmam das mais variadas tendências, só para depois concederem que o que os preocupa realmente são as finalidades liberais da política. Dizem-se conservadores, mas falam apenas de liberdade dos mercados, de escolha, de vontade... Um fartote, que não conseguimos distinguir se causado por ignorância ou por objectivos menos confessáveis.
Por isso penso muitas vezes no que já escreveram e disseram sobre outros conservadores da História de Portugal os pensadores da acidentalidade intelectual, sempre dispostos a mostrarem-se bons alunos do “politicamente correcto” abrilino.
O que eu gostava mesmo de saber era se não partilham comigo este ideário conservador:

São os fins políticos que subordinam as escolhas económicas.
Os fins políticos são definidos em subordinação a uma tradição que é identidade da estrutura política. Essa identidade tradicional consagra-se numa perspectiva cristã e na forma peculiar da estrutura da sociedade.
Os fins a atingir são, no plano da acção, negociados de forma a atingir o exequível e não uma idealidade ingovernável.
A Nação é composta de vínculos de obrigação, que são direitos e deveres, o que pode ser chamado de liberdades colectivas. A preservação da Nação é a preservação desses vínculos.
Esses vínculos só poderão ser salvaguardados restringindo a acção dos que, por influência externa, os tentam destruir, estando essa sobrevivência sobreposta a qualquer ideia abstracta de liberdade de expressão.
As relações com o exterior da comunidade são ditadas pela manutenção dos vínculos políticos, ou seja, pelo interesse nacional e não pelos interesses de qualquer futura comunidade ou ideia abstrata.

Que conservador não concorda com estes princípios?
Não terão sido estes valores a nortear a política portuguesa em grande parte do século XX?

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sábado, janeiro 07, 2006

O Livrinho de Vera Lagoa


Estranhamente até no Museu República e Resistência há.
Um serviço público das Bibliotecas Municipais de Lisboa.

Mais Honrarias...

Agradeço ao André Azevedo Alves a distinção feita no Ano Novo.
O facto de um Liberal (à antiga) ser cliente habitual e destacar esta casa é motivo de regozijo e esperança...
Apesar de tardio, fica o meu sincero agradecimento e apreço.

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Este Blogue Sempre Teve a Dita Placa!

(Na forma de Unwritten Law)

"Here is a place where serious thinkers discuss crucial issues in a comfortable setting, with the maximum amount of wisdom, intellectual passion, and civility. Comments by visitors are quite welcome. All commenters are guests and are expected to act accordingly. Comments not in a spirit of comity will be removed without explanation or apology".

Human Rights Talk

A direcção do Futebol Clube do Marco afirmou, em comunicado, que as razões para não se apresentar no jogo de amanhã com o Portimonense são a "salvaguarda da dignidade humana".
Ainda há quem diga que esta conversa de direitos humanos faz algum sentido...

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sexta-feira, janeiro 06, 2006

É Reis!...

Se o Zapatero vê isto diz ao Bush e vem aí uma intervenção humanitária em Vale do Salgueiro.

Vem Aí Chumbo Grosso!

Saúda-se a chegada desta tertúlia blogoesférica. Cumpre-se a promessa do Mendo Ramires... e muito bem acompanhado!
No Jantar das Quartas.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Liberdades...

(Ao cuidado de ACR e Manuel Brás)

E não é que a Alta Autoridade para a Comunicação Social acha que o Salazarismo Democrático é uma doutrina racista!!!

quarta-feira, janeiro 04, 2006

A Tradição e o Espírito Americano

Sorvi o notável texto do Rafael sobre “Os Carlistas na Guerra de Agressão Ianque”. Um artigo fundamental não só pelo conteúdo histórico, mas pela conexão que permite estabelecer entre a problemática política e a problemática religiosa.
Há enormes pontos de interesse no texto, tanto no que respeita à ideia de Ordem Americana, ideia profundamente duvidosa, como à possibilidade de um Protestantismo que funde uma tradição. Existe também a necessidade de compreender qual o Poder verdadeiro na estrutura moral americana do trinómio Atenas, Jerusalém, Roma, para compreender a diferença entre

Lembro-me de, há cerca de um ano, o Rafael ter questionado a possibilidade de um conservadorismo tradicionalista nos EUA. O meu cepticismo a tal empresa mantém-se, não porque não existam cada vez mais tradicionalistas de qualidade no pensamento americano, mas porque o sentimento moral americano (uma certa tradição popular) me parece estar completamente obliterado.

O momento fundacional americano é um momento particularmente fértil em contradições. O que sucede habitualmente nestes momentos é o estabelecimento de um Direito bastante geral e proclamatório, de modo a que abarque maior número de sensibilidades políticas. O que sucede com a Declaração de Independência é precisamente isso. Um conjunto de asserções quase auto-evidentes, omissas sobre o verdadeiro significado de “Life, Liberty and the pursuit of Happiness”.
É por essa razão que vivemos nos Estados Unidos um período pré-revolucionário.
É tão inovador constitucionalmente o projecto de inserir nas Leis Fundamentais Americanas normas de cariz religioso, como a dignidade dos nascituros ou o reconhecimento apenas do casamento heterossexual. É tão revolucionário quanto qualquer norma constitucional de discriminação positiva ou lei que favoreça a homossexualidade...

A lei fundamental, exceptuando em matérias de funcionalidade, nunca apresentou uma resposta moral para qualquer assunto. Isso sucede porque tem no seu âmago uma dupla vertente. Uma vertente estruturante que é liberal (em sentido europeu), defensora do indivíduo e das suas liberdades face ao todo social, donde provém uma concepção realmente atomística da sociedade e que está consubstanciada nas posições individualistas da Constituição. A outra vertente, mais comunitária e moral, defende uma posição real sobre as matérias da vida da comunidade, uma reflexão sobre o “bem-comum”, não um conjunto de garantias para os indivíduos, mas a forma como se podem relacionar entre eles. Esta concepção encontra-se sobretudo no Poder Judicial americano, sob a figura da interpretação jurídica e jurisprudencial
Essa percepção moral social continha os resquícios de ordem do Velho Mundo, elemento que permitia a existência de comunidades (unidas frequentemente pelas congregações protestantes) de partilha de valores e a existência de virtudes éticas e o equilíbrio de um liberalismo atomizador.
Essa moralidade social (que num país de contrastes como os Estados Unidos só poderia sobreviver através de um sistema descentralizador) está moribunda, vítima do jeffersonianismo, wilsonianismo e demais doutrinas afrancesadas e progressistas que infectam o sentir moral americano. Já não há mentalidade cristã a enformar a ordem americana. O espírito constitucional tomou as mentes...

Tal facto deve-se essencialmente à própria fragilidade da(s) moralidade(s) americana(s), essencialmente devido ao seu protestantismo. Todo o protestantismo é um “nihilismo a prazo”, porque se funda na crença de uma religião directa com Deus. Quer no caso das seitas gnósticas-milenaristas, que acreditavam ser individualmente ungidas por Deus, não podendo por isso incorrer em erro moral, quer no seu sucedâneo, o puritanismo, que punha fé absoluta na sua compreensão da Revelação, querendo transplantar o Céu para a Terra, todas estas posições conduzem a uma relação individual com Deus que termina sempre no momento em que o Homem cria o seu próprio Deus.
Esta relação representa a subordinação (louca) do Cosmos ao Eu e quem nela acreditar far-me-á o favor de saltar pela janela mais próxima para ver se a gravidade é um conceito subjectivo.
A apologia da arbitrariedade individual na apreciação do Bem resulta numa apologia da liberdade contra todo o tipo de harmonia que permite a vida em comum, o que resulta na, apenas aparentemente estranha, aliança entre direita-religiosa protestante e o imperialismo democrático neo-jacobino, sob o nome da Liberdade de expressão universal.
Estranha ideologia que faz apelo, não à verdade de que diz ser portadora, mas a todas as perspectivas individuais. Burke notou esta crença numa verdade panteísta no espírito dos “dissenters” do seu tempo.

O surgimento de uma moralidade libertária, relativista e individualista, em oposição ao sentimento religioso protestante, (incipiente e incapaz de encontrar qualquer tipo de permanência) que se consubstancia no desprezo pela esfera individual do próximo, é o mais grave abalo ao periclitante equilíbrio da moralidade americana e ao sentimento de comunidade (que Tocqueville tão bem descreveu) que foi guia da força americana do passado.
Sem os resquícios do velho mundo, a virtude e a justiça, no sentimento americano, não há mais limitações à vontade do povo americano e às suas “boas intenções” de redenção mundial...
Daí à purificação pelo fogo...

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terça-feira, janeiro 03, 2006

"Tymê" e "Kerdos"

É tão pouco o feedback que recebo na Revista de Teoria Política, que por vezes me ponho a pensar se alguém por ela passa os olhos. Fiquei hoje a saber que sim! Neste remoinho de prémios, galardões e outras honrarias (que, por vezes, é difícil e aborrecido acompanhar) fiquei a saber que a Revista foi distinguida pelo Miguel do Insurgente. A Revista não é, de facto, bem um blogue, mas uma vista de olhos sobre a teoria política que me parece mais interessante. Talvez seja mais uma "vista" que uma "revista"... É uma boa forma de guardar links, de manter um depósito de meios teóricos, não me esquecer de artigos importantes! Pouco mais que isso...
Que alguém a leia é algo que muito me agrada! Que a distingam é um honraria pouco merecida, mas que envaidece...

O mesmo acontece com o meu amigo FG Santos que distinguiu esta pasquinada de onde me dirijo a vós, como "Melhor Blogue Reflexivo" do ano de 2005. Eu aceito a distinção, mas apenas se o Santos aceitar o Prémio (acabadinho de criar) de Comentador do Ano do Pasquim da Reacção. É que os habituais comentários pertinentes e as polémicas do FGS, sempre benvindas, animam mais este blogue que todas as historietas que eu consiga inventar...

Um agradecimento ao Miguel e um abraço amigo ao FG Santos.

Uma Oferenda de Ano Novo

Plínio Correia de Oliveira "Revolution and Counter Revolution" em formato pdf.

Eterno Retorno

Um pequeno período de férias resulta sempre na perda de algumas interessantes leituras... Demorarei algum tempo a apanhar o ritmo da coisa e a ler a enorme quantidade de escritos de interesse que vão desde o Rafael, ao Manuel Brás, ao Azinhal.
O ano passado trouxe algumas novidades como o Misantropo, o Combustões e o Interregno, sinal de alguma vitalidade deste meio! Blogues inteligentes e com posições bastante interessantes, que mostram que a blogoesfera vale a pena. Apesar da parca difusão a qualidade dos blogues pode levar a leituras, as leituras ao interesse, o interesse à compreensão do bocadinho que nos coube da Verdade.
Esse é o objectivo de um blogue... Esse é o objectivo desta página para o Ano Novo!

Feliz Ano Novo para todos os amigos deste blogue!